quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Com pé direito

Aos aspirantes a vencedores e aos saudosos de Harvey Birdman - Attorney at law e do Adult Swim em geral...

Para refletirmos e adentrarmos ao novo 2009 preparados para subir na vida, fazemos questão de relembrar aqui os 5 passos para o sucesso de Phil K. Sebben:












Para terminar, o lema da empresa Sebben&Sebben:


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Uma última

Tá,tá, como pude esquecer?

Uma última referência ao centenário japonês, antes que o ano acabe: os dois personagens japoneses originais do Mauricio de Sousa (esses recentes não me interessam).

O Hiro, da trupe do Chico Bento, todo mundo conhece.





... mas e esta daqui?


Eis Neusinha, da turma do Pelezinho (quem se lembra disso?)
Fruto de tempos mais "politicamente incorretos" (note o trocadilho do nome), a japoneusinha trabalhava numa quitanda e, como um cebolinha ao contrário, trocava os L pelos R.

(O que é no mínimo triste, se pensarmos que não conseguia pronuciar corretamente o nome do garoto de quem gostava... o "Perezinho".)

Um personagem "étnico" do tempo em que (ainda bem) ninguém falava de "étnico".

É só.


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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Desculpas ao Luis

*Pré-Scriptum: o post é meio longo, quem não tiver saco pule para o texto em azul lá embaixo, que vale a pena.


Engraçado eu nunca ter mencionado o Luis Fernando Veríssimo por aqui. Gosto muito.

Comprei meu primeiro LFV num aeroporto, indo ou voltando de Fortaleza, há muitos e muitos anos...e comprei o último vindo pra cá, novamente Fortaleza - mais por nostalgia e lembrança da primeira experiência, que foi ótima - do que por uma desejo louco de ler o Veríssimo.

Embora eu jamais tenha lido ou escutado qualquer coisa que o desabonasse, por algum motivo sempre senti que o cara não era tão bem quisto no mundinho intelectual. Ontem, depois de terminar o último livro do cara me pus a pensar no porque disso.

Em primeiro lugar, acho que um dos motivos é que LFV escreve muito fácil. Isso não significa que seus textos sejam desprovidos de alguma profundidade ou relevância. O cara é de uma capacidade criativa impressionante: escreve uma crônica todo santo dia. Penso que assim como o mundo dos quadrinhos, o mundo dos cronistas é tido como uma literatura de segundo escalão.

Essa coisa de escrever fácil, pode pegar mal porque nos tempos recentes os autores nacionais (e internacionais) que fizeram sucesso escrevendo fácil não tinham lá muito o que dizer: Paulo Coelho e o gordo metido da Globo, por exemplo.

Eu mesmo já recomendei muito o LFV justamente para aquelas pessoas que dizem que tem dificuldade em começar um hábito de leitura, sempre pensando que o Veríssimo pode ser uma porta fácil para o mundo das letras sem a terrível idiotização do leitor. Certo, ler um livrinho de crônicas não prepara ninguém para Um Guimarães Rosa, mas serve direitinho para mostrar que leitura pode ser um passatempo divertido, e daí pra conseguir ler um "Cem anos de solidão" é um pulinho. Tenho a impressão de que muita gente recomenda uma coisinha ou outra do Veríssimo, de sorte que algumas de suas crônicas mais famosas se tornaram realmente famosas - enovamente, estamos acostumados com o paradigma de que tudo que faz muito sucesso no Brasil não presta (Jorge Amado é outro que padece do mesmo mal).

Outra coisa que talvez atrapalhe é o fato do rapaz ser filho do Érico Veríssimo, este sim um monstro consagradíssimo das letras brasileiras. Quem não leu "Incidente em Antares" não sabe o que está perdendo...fora "O tempo e o vento", que eu ainda não li e me prometi que leria há muitos anos atrás, logo que terminei o primeiro citado...isso ainda no meu segundo grau, lá em 1994 ou 95. De qualquer forma, essa análise genética dos Veríssimo é uma grande bobagem...ninguém fala mal dos Caymmi porque o pai era muito bom...o mesmo vale para o Chico Buarque. O Luisinho tem a sua própria identidade literária, certamente não tem nada de cópia mal-feita do pai.

Por fim, o cara é uma figura muito simpática - avesso à badalação, tímido, gosta muito de comer e beber (bem), toca sax num sexteto de jazz, e tem uma visão política interessante - os editorias da "Bundas" eram excelentes.

Passando agora para um segundo momento, falemos do último livro. Chama-se "O mundo é Bárbaro - e e o que nós temos a ver com isso".

Como sempre, uma coletânea de crônicas, todas muito recentes - chegam até a campanha do Obama. São todos textículos de duas páginas, que versam do crescimento da potência chinesa, ao declínio da hegemonmia norte-americana, passando pelas peripécias brasileiras na era do "Lulo-petismo" (pra tomar emprestado o termo do neo-reaça Clóvis Rossi, cujo equivalente oposto seria o "Demo-tucanato" - ótimo).

Enfim, o livro não é "gargalhante" como o "Comédias da Vida Privada", mas é daqueles que a gente lê sorrindo...LFV é de uma sagacidade impressionante.

Como sei que o rapaz não vai achar ruim - e nem nunca ficará sabendo - transcrevo aqui uma das crônicas do livro. Não é a melhor, ou a mais engraçada ou a mais profunda...são muitas e é difícil dizer, mas vai lá:


Pense na China
Sugestão para um dia em que você não tiver nada com o que se preocupar e estiver até convencido de que o mundo pode melhorar, deve melhorar, tem que melhorar. Finja que é agora. Simule otimismo. Imite alguém acreditando no futuro com toda a força. Faça cara de quem não tem dúvidas de que tudo vai dar certo. Convença-se de que tudo vai dar certo. Pronto? Agora pense na China. Desanimou, certo? É impossível pensar na China e continuar, mesmo em fingimento, despreocupado. Dentro de muito pouco tempo vai acontecer o seguinte: a China vai tornar o resto do mundo supérfluo. Não vai ser preciso existir mais ninguém, de tanto que vai existir a China. O nosso destino é, enquanto a China cresce, irmos ficando cada vez mais desnecessários. Em o quê? Vinte anos? A China terá o maior parque industrial, com a mão-de-obra mais abundante e, portanto, mais barata da Terra, e produzirá de tudo para o maior mercado consumidor da Terra, que será qual? O dos chineses, mesmo ganhando pouco. A China concentrará toda a atividade econômica do planeta entre as suas fronteiras. A China se bastará. Mas não pense que vamos ficar assistindo ao espetáculo da auto-suficiência chinesa da cerca, esperando alguma sobra. Antes de se tornar definitivamente autocapaz, a China terá que garantir as fontes de sua energia. O seu inevitável choque com aquele outro sorvedouro de combustível fóssil, os Estados Unidos, pelas últimas reservas de petróleo do mundo pode literalmente nos arrasar. Sugestão para reflexão antes de dormir esta noite, se você conseguir dormir: o petróleo do Oriente Médio escasseando, dois monstros sedentos cuja sobrevivência depende do petróleo se enfrentando - e nós no meio. Ganhará o confronto final, nuclear ou não, quem tiver mais gente. A China tem muito mais gente que os Estados Unidos. Enquanto isso, a Índia... Mas chega. Reanime-se. A vida é boa, há borboletas e os pêssegos estão ótimos. Eu, na verdade, não tenho com o que me preocupar mesmo. Estou a caminho da fase pré-fóssil e não estarei aqui quando tudo isto acontecer. Mas só queria avisar.


Bom, a tônica do livro é meio pessimista mesmo...começando pela capa: o LFV sentado, atrás do computador, atrás do mundo pegando fogo. A linha clara é que, para ele, o Oriente ganha a guerra óbvia com o Ocidente, por mais que a gente torça pelo contrário - ou pela improvável paz mundial.

Tem várias outras legais, recomendo o livro. E que o LFV, depois desse post me perdoe por ter esquecido de recomendá-lo pra quem sabe ler por tanto tempo.


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sábado, 27 de dezembro de 2008

Sobre a infância

Abaixo, a parte final da HQ curta em que o quadrinhista Art Spiegelman e o ilustrador de livros infantis Maurice Sendak retratam uma conversa que tiveram sobre a infância. O trecho foi pinçado da antologia From Maus to now to Maus to now, lançada no Brasil como parte de uma exposição sobre Spiegelman no Centro Cultural Banco do Brasil.

Quem fala aqui é Sendak.
A tradução e letreiramento em português são meus.


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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ê Paraná!

Isso faz tempo, mas eu só tinha visto as fotos, não o vídeo.

Pra quem acha que o governador de um dos dos maiores produtores agrícolas do país deveria entender alguma coisa de agricultura essa é ótima...



"Isso aí é mamona, pô"

"Bom!"


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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

macaco no seu galho

Conversa rápida, só pra constar que eu estou mesmo sem tempo.


Os quadrinhos andam em alta no Brasil, e isso me deixa muito feliz. Foi num misto dessa felicidade com genuína curiosidade que comprei a revista abaixo.



Há uma discussão artística que endosso, que é a necessidade de independência e reconhecimento de uma arte para que ela possa afirmar-se e amadurecer. E o resumo dela é a necessidade de se afirmar que Quadrinhos em essência não são cinema, nem literatura, nem artes plásticas, nem são um suporte para estes e nem mesmo são uma mistura desses. quadrinhos não são nenhuma outra arte que não quadrinhos.

Certo.

Ainda assim, acho que muitos vão concordar que é perfeitamente lícito para uma revista de literatura dedicar uma edição inteira à quadrinhos.
Por, no mínimo, 2 motivos: 1)Os qusdrinhos possuem uma relação muito próxima com a literatura em nossa sociedade, seja por continuarem a serem os "fomentadores" do hábito da leitura nas crianças (e não há nada de vergonhoso nisso em específico), seja por ainda estarem presos ou se apoiando numa indistinção em relação à literatura, em busca de legitimação social; 2) Seria perfeitamente possível fazer uma discussão "literária" interessante também do cinema, do teatro, e de qualquer arte narrativa.

Assim, posto que a iniciativa é válida, vamos às críticas. A revista é esforçada e bem-intencionada, mas falha ao deixar de fazer duas coisas:
1) fugir de alguns lugares-comuns e se aprofundar mais no assunto;
2) desfazer a confusão entre literatura e HQ.

Não vou me aprofundar (falta de tempo, talvez no ano que vem). Mas ambas as faltas são um tanto compreensíveis, se pensarmos que são voltadas a um público também leigo e ambíguo. De um lado, os lugares-comuns dão o common ground onde a argumentação pode se sustentar; de outro, a manutenção da ambigüidade HQ-literatura talvez seja até estratégica pela necessidade de afirmar para o público consumidor e estudioso de literatura que "ei, isto é literariamente interessante também".

Há uma outra decepção. Para mim, a questão mais instigante e auspiciosa, colocada logo na capa da, é sem dúvida a da "dinâmica que a leitura visual do século XI exige". Sou extremamente interessado nisso -- ando pensando mesmo se devo apostar um doutorado nesse "campo".
Mas o assunto fica só na vontade -- não vi um desenvolvimento maior dele, nem na entrevista de seu declarador, Orespitabilíssimo Sr. Ziraldo.
(também, o que eu esperava? um tratado acadêmico sobre visualidade e discursividade?)

Ainda assim: já é um bom começo. Parabéns.


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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

ai meu SAX

Mas tá. Já que é pra espezinhar o que já é ruim, vou ser chato em outro aspecto. Quase "politicamente correto".

Não confio nessa mônica "gostosa". Se é mesmo pra "adolescentizar" a mônica: qual a idéia que o design atual dela passa?

Essa turma da mônica adolescente, pelo que vi até agora, é a Mônica adaptada a padrões externos a ela mesma. Se havia uma qualidade da criação de Maurício, era estar fundada em critérios próprios de linguagem, tema e regularidade. Mesmo com limitações, vários personagens eram em si criações absolutamente própias. Uma HQ infantil baseada numa menina ranzinza e atarracada que dá porrada em meninos: o que é que se fazia assim no resto do mundo? A qual estereótipo ela se referia? Nenhum que me ocorra à mente... Enfim, era algo muito interessante.

Os atuais "adolescentes" da turma da mônica são adolescentes "padrão": têm em si atenuado tudo aquilo que era característico nos personagens em versão criança. Cascão toma banho. Magali faz dieta. Cebolinha só trioca erres de vez em quando... e mônica não é baixinha, nem gorducha. Um pouquinho dentuça, vá la. O pouco que vi me mostrou um triunfo do "eu descafeinado". É claro, não podemos desconsiderar o fato de que a revista já passou por fases e camadas sucessivas de pasteurização.

Nada contra a mônica ficar "gostosa"; adolescência é em boa parte uma infância martelada com sexo até deixar de sê-lo (feio dizer assim, não?). O problema, o que me incomoda, é a pasteurização. E tome mangá nisso.

E aí vem a minha pergunta de chato: de que beleza estamos falando?
E todas as moças que, além de "dentuças", continuarão sendo "baixinhas" e "gorduchas"? Não podiam fazer uma mônica bonita SEM ter um corpo de modelo? Não seria esse um desafio digno? Uma moça bonita, atarracadinha de quadris largos, botando moral em todo mundo?
Foi mais ou menos dessa maneira que o famoso Joe Kubert desenhou a mônica "balzaquiana", na Revista especial de 30 anos. (que eu tenho e você, não... dãã)

Mas já disse o Laerte em uma tira antiga: "humor? homenzinhos narigudos são humor! Mulher gostosa é mulher gostosa".

É claro que eu levo tudo isso a sério demais. Mas não se avexe não: é só esporte.


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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

uma verdade


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Publicaram-me!

Saiu a revista "Jungle Trips", que é a revista de turismo ligada à "Jungle Drums Magazina", à qual já me referi aqui. Recebi hoje a revista, e pra ser honesto fiquei bastante feliz com as duas fotos publicadas.

capa jungle trips issue 4 2008 - 2009 red
capa da revista


canoa 2 red
foto da matéria "top 10 beaches in Brasil"


canoa 1 red
foto do índice da revista (essa saiu grandona, ocupando pouco mais de uma página)


Ter a minha escolhida para o índice entre as 9 fotos de diversas praias do Brasil me deixou feliz...muito bão pro ego!


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outra gelada



Mais uma do André Dahmer.


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Inveja mata


(Mais um de meus flashbacks de arquiteto...)
Abaixo, a reprodução itegral da reportagem da Revista AU (Arquiteura e Urbanismo):

João Sayad cogitou chamar jovens arquitetos para o projeto da Companhia de Dança
Em entrevista à AU, João Sayad explica como foi o processo de escolha de Herzog & de Meuron e porque não quis abrir um concurso
A contratação de jovens arquitetos brasileiros foi a primeira opção de João Sayad, Secretário da Cultura do Estado de São Paulo, para o projeto do edifício da Companhia de Dança. Com 15 mil m² de terreno e previsão de 30 mil m² construídos, a edificação será erguida no quarteirão em que hoje se localiza a antiga rodoviária paulistana, na região da Luz. Mas, no final, venceu a opção por arquitetos estrangeiros com notório saber. Herzog & de Meuron vão assinar o projeto do teatro, decisão divulgada dia 4 de novembro e que levantou debates entre os arquitetos por todo o País.
João Sayad defende a decisão do governo e conta que, para contratar um jovem arquiteto, seria necessário abrir um concurso. "Fizemos uma grande pesquisa com os jovens arquitetos, muitos escritórios foram mencionados por professores da FAU (FAUUSP), do Mackenzie (Universidade Presbiteriana Mackenzie). Mas não posso contratar um arquiteto nacional jovem, que não tenha notoriedade, sem um concurso", explica.
E por que não fazer um concurso? Segundo Sayad, o projeto deve seguir os estudos da consultoria Theatre Projects Consultants (TPC), contratada pelo governo do estado. De acordo com a mesma consultoria, a escolha do arquiteto deveria levar em conta sua capacidade de adaptação às exigências do programa para o teatro. "Porque um teatro é uma obra significativa para o arquiteto e na maioria dos exemplos que a gente conhece o arquiteto acaba comprometendo essas características", diz Sayad. Questionado se o vencedor do concurso não poderia seguir as características exigidas pelo TPC, Sayad defende dizendo que se excluiu a idéia do concurso porque o vencedor passa a ser o dono da obra. "E nós queríamos que o dono da obra fossem os usuários do teatro. A negociação do projeto vencedor seria muito difícil, justamente porque ele ganhou. Mesmo que seja possível, o vencedor tem uma força muito ativa que podia fazer com que o teatro perdesse em favor do arquiteto".
Rejeitando a possibilidade de se abrir um concurso, o governo do estado convidou quatro escritórios estrangeiros: Pelli Clarke Pelli, Norman Foster, OMA (Rem Koolhaas) e Herzog & de Meuron, que fizeram estudos e apresentaram suas propostas e trabalhos a uma equipe do estado de São Paulo. "Não foi uma escolha feita sem critério, a lei de licitação pública permite contratar um profissional notável", explica, adicionando que entre os notáveis brasileiros estariam Paulo Mendes de Rocha e Niemeyer. "E eles já fizeram muito por aqui. Então, partimos para o estrangeiro, onde existem notáveis que não conhecíamos. É uma tarefa da Secretaria da Cultura trazer solistas estrangeiros, artistas estrangeiros. Por que não um arquiteto estrangeiro?", questiona.
Polêmicas à parte, resta esperar os primeiros desenhos da equipe suíça. O projeto arquitetônico deve ser entregue em março de 2009.




Ora, ora. Não poderíamos ser sinceros?
Porto Alegre tem um Álvaro Siza.
Rio de Janeiro vai ter seu Christian de Portzamparc.

Porque São Paulo, a maior e mais rica cidade do Brasil, não pode ter sua própria grande obra premiada internacionalmente de um escritório do Star System mundial? Ninguém vê quão visionária é essa secretaria, ao chamar os arquitetos do Estádio de Pequim? Não percebem o quanto essao obra pode contribuir para tornar São Paulo uma Cidade Mundial?

É claro, A Fundação Iberê Camargo, que encomendou o museu de Siza, não é uma instituição pública. Detalhes, mero detalhes, o que importa é o bom impacto sobre a cidade (e o mundo).

É claro, sobre a Cidade da Música de Portzamparc no Rio e seus já 6 anos de construção paira a suspeita de um poço sem fundo e lamacento de desvio de verbas. Mas convenhamos, senhores: sabemos da morosidade do funcionamento do Estado no Brasil (os paulistanos dirão: "ora, trata-se do Rio de Janeiro!"). Quem dera fosse uma iniciativa privatizada, mas fazer o quê! Cultura é Cultura. Tenham um pouco de visão de longo prazo, ora essa!

São Paulo não pode continuar a se remoer de inveja, logo ela que é tão próspera, tão arrojada, tão trabalhadora! Como sabemos, inveja mata. E são Paulo tem de dar, não ter.

Só a modéstia mesmo impede a secretaria de declarar suas justificadas intenções, ora. Modéstia e o conhecimento de quão provincianos, atrasados, egomaníacos, protecionistas, corporativistas (e, por que não, petistas!) são os nossos arquitetos — e as nossas leis para licitações públicas dessa natureza.

http://www.bdonline.co.uk/Pictures/web/t/x/n/Herzog_de_Meuron.jpg
(Aqui a dupla suíça que fez o Estádio de Pequim... e pode fazer um negocião em São Paulo.)


Bom, deixando a ironia exacerbada, vamos às coisas sérias.

Nada contra um projeto de astros estrangeiros. Adoraria ver um Herzog & de Meuron no país – desde construíssem algo uns 70% financiado por dinheiro PRIVADO (porque 100%, no Brasil, é fantasia. Onde está o arrojo e visionarismo de nosso empresariado, hein?). Ou que sua presença fosse resultado de um concurso internacional, no qual escolhessem os participantes pela qualidade do projeto, e não pelo renome.

Mas o que ofende mesmo, o que deveria ser inaceitável a uma espécie tão orgulhosa e ciosa de sua própria capacidade intelectual, é o quanto a argumentação do secretário da cultura para evitar um concurso é insultosa aos arquitetos e, em especial, à inteligência alheia.
Porque é, com o perdão da coloquialidade, uma sucessão mal articulada de conversas-para-boi-dormir.

O secretário começa falando que o objetivo inicial era de “contratar arquitetos brasileiros jovens”. Em nenhum momento ele explica porque, antes de chegar a “arquitetos estrangeiros” a escolha não passou pelo passo natural de “arquitetos brasileiros EXPERIENTES”. O que não deixa de dar a impressão que este primeiro argumento teve como único objetivo angariar alguma simpatia do leitor: “puxa vida, eles tentaram mesmo se preocupar com o incentivo à arquitetura brasileira!...".

"(...)um teatro é uma obra significativa para o arquiteto e na maioria dos exemplos que a gente conhece o arquiteto acaba comprometendo essas características"
U-A-U. De quais exemplos ele está falando?
Atenção, crianças: toda vez que alguém fala no sagrado nome de ninguém -- "a gente conhece" ou "todo mundo sabe que" ou "na maioria das vezes" -- há sério risco de enrolação chegando.

"E nós queríamos que o dono da obra fossem os usuários do teatro. A negociação do projeto vencedor seria muito difícil, justamente porque ele ganhou. Mesmo que seja possível, o vencedor tem uma força muito ativa que podia fazer com que o teatro perdesse em favor do arquiteto".
Palmas, palmas, palmas. Que ardorosa defesa dos interesses públicos contra o ego inflado dos arquitetos, esses parasitas!
Nos últimos dois trechos, o secretário simples e licensiosamente chamou todos os arquitetos brasileiros (ou só os paulistas?) de prima-donas egocêntricas. E, se se queixarem disso... então será porque são mesmo vaidosos corporativistas, provincianos, até invejosos. Afinal, quem deles ousa se declarar do nível de Herzog & de Meuron?
Não que não haja quem não mereça a alcunha, muito pelo contrário... mas o respeito para com a categoria profissional demonstrado aqui é simplesmente nulo. Trata-se de simples e sincero preconceito ou estão tentando pegar carona no senso-comum popularesco e preconceituoso a respeito dos arquitetos?

Algumas dúvidas que surgem diante da situação apontada:

Pergunta(s) 1: o vencedor de um concurso não tem que obedecer a nenhuma exigência externa? Como assim “vira dono do projeto”? Não haveria nenhuma maneira de fazê-lo seguir as exigências dessa tal “Theatre Projects Consultants” (TPC)?

Pergunta 2: qual a garantia de que Herzog & de Meuron, sendo estrelas mundiais e senhores de “notório saber” na área de construção de teatros, vão se subordinar às exigências dessa “Theatre Projects Consultants”?

Pergunta 3: Quem é essa “Theatre Projects Consultants”? Quais foram as condições de sua contratação e do estabelecimento de seu domínio sobre o projeto futuro? E afinal, quais são esses estudos tão especializados e tão restritivos a ponto de serem a) postos em perigo pelos incivilizados e "estrelinhas" arquitetos brasileiros e b) tão fortes que até um "doutor honoris causa" em teatros como o escritório de Herzog & de Meuron teria que se curvar às suas exigências?


Mas o argumento final é, sem tirar nem por, a cereja do Sunday.

http://veja.abril.com.br/241104/imagens/veja_essa1.jpg
“É uma tarefa da Secretaria da Cultura trazer solistas estrangeiros, artistas estrangeiros. Por que não um arquiteto estrangeiro?”


Ora, todos agradeceríamos muito uma presença maior de arquitetos estrangeiros: em palestras, exposições, consultorias, júris de concursos para obras públicas...


O secretário certamente leva jeito para o humorismo. Do tipo que é feito às custas dos outros.


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domingo, 7 de dezembro de 2008

Tropicalista Lenta Luta

O feio e brilhante e esquisito e perturbador e baiano Tom Zé foi uma dessas coisas que entraram fulminantes e de uma só vez na minha vida, através de um show no Centro Acadêmico da USP de São Carlos. Saí do show, comprei dois cds. Não sabia nada ainda.

Ano passado ganhei um livro dele (pedido) e baixei a discografia quase inteira. Fiquei surpreso com a coerência, a invenção, a compreensão de estruturas tácitas e não-questionadas de nossa audição.
Tom Zé, ao que me parece, também já teve seu auge. O que fez nos últimos tempos acrescenta muito pouco à inventividade do que fez nos anos 70 -- mas ainda assim não é nada desprezível.

Falo por aí: "o cara é muito bom". Ouço de vez em quando em resposta um não contrariante mas reticente "... ele é louco..."

Tom Zé não é louco. (porra). Não vou defender que ele seja normal ou equilibrado. Mas ele não é um Arthur Bispo do Rosário, e ler um texto dele deixa isso claro.

Me pareceu que o fundamental é que ele pensa torto. A tortuosidade de seu pensamento, sua língua e sua música, porém, são pensadas, são planejadas desde o início de sua carreira. A música , de 72, diz bem:

Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair

Tô dividindo prá poder sobrar

Desperdiçando prá poder faltar

Devagarinho prá poder caber

Bem de leve prá não perdoar

Tô estudando prá saber ignorar

Eu tô aqui comendo para vomitar

Eu tô te explicando

Prá te confundir

Eu tô te confundindo

Prá te esclarecer
Tô iluminado

Prá poder cegar

Tô ficando cego

Prá poder guiar


Suavemente prá poder rasgar

Olho fechado prá te ver melhor

Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência

Carinhoso prá poder ferir

Lentamente prá não atrasar

Atrás da vida prá poder morrer

Eu tô me despedindo prá poder voltar


Em 73, em plena ditadura militar em seus momentos mais desagradáveis, Tom Zé fez um disco com uma capa um tanto... inovadora:


http://www.sabadabada.com/IMG_3920.JPG


Pra quem não entendeu: aí em cima temos uma bola de gude sobre um ânus. Originalmente ampliado pro tamanho de um bolachão vinil, claro...
(o exemplo mais próximo de algo assim que eu conheço foi feito pelo Pink Floyd na capa do álbum "Meddle"... mas ainda assim era muuuuuito distante em atrevimento)

Bem, nesse disco, entre outras músicas muito esquisitas, ele pôs esta seguinte pérola (ou bola de gude) em muito sobre a pressão "heróica" do "artista de esquerda" brasileiro... (Enfim, deve ter desagradado quase todo mundo.)

Complexo de Épico

Todo compositor brasileiro é um complexado.
Por que então esta mania danada, esta preocupação
de falar tão sério, de parecer tão sério
de ser tão sério
de sorrir tão sério
de chorar tão sério
de brincar tão sério
de amar tão sério?

Ai, meu Deus do céu, vai ser sério assim no inferno!

Por que então esta metáfora-coringa chamada "válida",
que não lhe sai da boca, como se algum pesadelo estivesse ameaçando
os nossos compassos com cadeiras de roda, roda, roda, roda?

E por que então esta vontade de parecer herói ou professor universitário
(aquela tal classe que, ou passa a aprender com os alunos
- quer dizer, com a rua -
ou não vai sobreviver)?

Porque a cobra já começou a comer a si mesma pela cauda,
sendo ao mesmo tempo a fome e a comida.



(tá admito: eu plagiei -- ou melhor, me inspirei -- nesta música para um post que fiz uns tempos atrás.)



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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Oficinas

Não foi a primeira vez. Na verdade, tratava-se da terceira Oficina de Histórias em Quadrinhos que eu, na condição de amador intrometido a quem desde pequeno convenceram que desenhava bem, tentei ministrar em um evento universitário.

As duas primeiras foram pensadas para encontros de estudante: ENEA 98 (Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura), no Rio de Janeiro; e o EREA (R de Regional) 2000 em Ribeirão Preto. Nenhuma das duas deu certo. Por vários motivos.

A primeira nem sequer chegou a acontecer -- fui colocado com meu parceiro de empreitada para "oficinar" crianças numa favela urbanizada. Superbacana.

Na segunda me juntei de última hora com uma outra oficina de uma simpática fanzineira fissurada em poesia, mangá e Edgar Franco. Um problema que houve foi que seus objetivos e opiniões sobre o meio diferenciavam muito dos meus -- e isso só foi aparecer no pior momento, na hora da oficina ser ministrada. Mas estou deixando de lado, é claro, os problemas mais óbvios e realmente relevantes:
- a dispersão dos alunos, normal nesse tipo de vento;
- as difíceis quantidades de tempo e trabalho que uma HQ exige;
- e, last but not least, a inabilidade didática dos oficinantes.


Pois bem: esta última oficina de 2008 foi realizada na III Semana Acadêmica do Curso de Design da Universidade Estadual de Maringá. Diferenciais importantes:

- foi a primeira que ministrei na condição de professor universitário -- e com 2 anos de experiência de aula de desenho;
- tratava-se de um evento interno e pequeno -- o seja: eu ministrei aula para meus próprios alunos;
- foi a primeira em que tive um material de apoio generoso (datashow e livros de Scott Mcloud via e-mule, por exemplo.)
- Por ser um evento "interno", eu pude esperar e exigir que os produtos da oficina fossem entregues depois.

Assim sendo, essa foi a primeira oficina a render materiais palpáveis e interessantes (ainda que poucos). Aqui abaixo estão duas dos quatro que deveriam ter sido entregues. (clicar neles pra ver num tamanho decente).





Resultado final: quero ministrar outras oficinas de HQ. Embora eu vá sair da atual universidade, torço para que me chamem para fazer isso de novo no ano que vem.


Bem, agora o detalhe legal: até uns 10 dias antes do evento, eu ia ministrar uma oficina de ilustração (booooring) com a qual eu nem sabia o que fazer. Numa noite num café (O café de Cianorte) um amigo comentou, diante de meu enlevo em discutir aspectos metafóricos de Sandman, algo como: "você gosta mesmo disso, não é?". E me veio a idéia: "ora, por que não"?

(aliás, posso ter algum problema de recalque com HQs. Vou psicologizar isso depois.)


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