quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Da existência do mal



Muita gente vai achar estranhíssimo eu colocar a fala de um pastor aqui.
Deixando bem claro, não tenho simpatia pelo figura (Voddie Baucham), e algumas falas dele por aí já me pareceram simplesmente abjetas.

Mas eu gosto de dialéticas, e a questão é que esse vídeo traz uma argumentação interessante, e um contraponto retórico válido a um dos pontos mais recorrentes à argumentação ateísta.
Por mais que seja um humanista laico e "sem deus", a existência da maldade e da desgraça sempre me pareceu que um dos piores argumentos para a inexistência da divindade. Mas ainda é um argumento muito ouvido entre ateus que respeito muito, como Stephen Fry. ("How dare you, God? Six-year-old children with bone cancer?"

É um mal argumento porque, sinceramente, parece um pouco reclamação de criança mimada; faz pensar que temos direito a alguma coisa, ou que entendemos alguma coisa do que realmente ocorre no universo. Seja para ateus ou para religiosos, acho que sempre estamos em apuros quando começamos a ter as coisas como garantidas (to take for granted); a achar que o o universo nos "deve" alguma coisa.

Esse alerta, aliás, vale pra quem estampa "Deus é fiel" no carro. Reversamente, pode-se dizer também que o "milagre" é um argumento péssimo para a existência da divindade.  "Tudo deu miraculosamente certo para alguém, então Deus existe" é só o outro lado irracional de dizer que "alguém está se ferrando injustamente, portanto deus não existe e, se existe, não é bom". NESSE sentido, sim, o argumento de Fry é útil para rebatera crença num paizão que favorece uns e ferra outros -- que é, infelizmente, a crença (infantilizada, na minha opinião) de muitos.

Rejeito a submissão específica que o pastor parece querer pregar, mas compreendo e me solidarizo o sentimento de humildade e pequenez diante do universo que ela evoca.
É triste que esse justo sentimento possa ser instrumentalizado por charlatões de toda espécie.