quarta-feira, 8 de junho de 2011

Laerte - nova fase

Sem maiores delongas: o espaço que o Laerte ocupa aos sábados, que rendeu "Muchacha" e "Laertevisão" agora está sendo utilizado para uma experiência meio rara na produção do Laerte: Charges e quadros com temas políticos.  As últimas 10 são assim, com exceção (talvez) da segunda na sequência que coloquei aqui:


Várias dessas se referem à discussão do casamento gay, sendo que na 9a. ele resolveu desenhar o Bolsonaro mesmo.  Aliás, Bolsonaro foi o que aconteceu antes da primeira tirinha dessa série, que já havíamos postado aqui, como resposta àquela estupidez racista/homofóbica que ele disse à Preta Gil.

A quarta aparentemente trata do uso da norma culta na língua portuguesa (a discussão sobre o livro que relativiza os erros de português).

As outras são mais claras, e resolvi postá-las aqui depois de ver a última - talvez uma referência à entrevista do Palocci.

Divirtam-se!


Inserido posteriormente: ok, não tinha nada a ver com o Palocci, mea culpa....eu não tinha a menor noção da existência de um "Brilhante Ustra", ache com cara de barbudinho do PT).

domingo, 5 de junho de 2011

FHC, um presidente muito louco!

Vamos embasar a discussão com cinco teses:

- A guerra contra as drogas foi perdida.  O uso de drogas ocorre desde os primórdios da humanidade, e até mesmo entre animais um exemplo curioso disso pode ser visto aqui;

- O uso de drogas é problema de saúde pública, não de polícia. O abuso dessas substâncias pode levar a problemas de saúde - físicos e psiquiátricos.  Esses usuários devem ser tratados, não presos;

- A proibição das drogas só beneficia os traficantes.  A proibição faz de seu comércio um crime e do traficante um empresári com domínio total sobre uma indústria que movimenta bilhões de dólares e leva a outros crimes.  Além disso, coloca o usuário em contato com criminosos.

- A proibição das drogas não inibe o seu consumo.  Meio óbvio, uma vez que as pessoas usam drogas;

- Campanhas publicitárias e políticas públicas direcionadas podem reduzir o consumo de drogas.  O melhor exemplo disso é a diminuição do consumo de tabaco - droga lícita.

Pois bem.  FHC agora diz tudo isso em mais um pouco no documentário "Quebrando o tabu", do meio-irmão do Luciano Huck:



Bem, nada contra, aliás, acho ótimo que uma pessoa da relevância do nosso intelectual ex-presidente  participe desse debate.  Agora, não é estranho que FHC assuma essa postura agora?

Eu não cobraria dele que tivesse feito alguma coisa durante o seu mandato, uma vez que no Brasil os fins eleitorais aliados à covardia da nossa classe política impeçam mudanças desse tipo...o exemplo mais recente é o atraso na discussão do aborto provocado pela campanha de José Serra, mas isso são outros quinhentos...agora, voltemos a analisar a posição de FHC:

O ex-presidente diz que faz parte do grupo de "fumou, mas não tragou".  E que a única droga que experimentou foi lança.

Sinceramente, eu acredito nele.

Agora, ao ser questionado sobre o porque de sua inação sobre o tema em sua presidência, a resposta me parece menos honesta: afirma que na época não tinha a mesma consciência sobre o tema - justificativa que aparece no trailer - aliás, não é estranho que Clinton e Dreifuss apareçam falando sobre o problema e FHC se justificando?

Ora, presidente...

É possível acreditar que FHC, o intelectual de Sorbonne tivesse opiniões formadas sobre tudo à época de seu governo mas não sobre a gravidade do problema do uso de drogas, especialmente tendo sido presidente durante a implantação do Plano Colômbia?  Pergunto pelo seguinte: as cinco premissas apresentadas no início desse post não são novidade alguma.  Desde quando se defende a legalização da maconha?  Desde quando a Holanda permite o uso em Coffe Shops?  Desde quando existem alunos de ciências humanas?

Finalmente: FHC não é um intelectual qualquer.  É um intelectual uspiano.  E não um uspiano qualquer: é um uspiano da FFLCH, o habitat natural do bicho-grilo.

Como foi colocado anteriormente, acredito que FHC nunca tenha experimentado maconha...nem todo mundo o fez.  Agora, na condição de sociólogo, estudante e depois professor da USP, na FFLCH, creio ser impossível que ele não tenha tido contato com usuários de maconha e com a discussão da legalização.  Logo...

Não pode ser verdade que durante sua presidência FHC não tivesse consciência das posições que adota agora.

Isso nos leva a uma questão: se FHC está assumindo uma postura corajosa, ao defender a descriminalização e regulamentação das drogas, porque não escolher uma resposta do seguinte tipo:

"No período de minha presidência, havia uma pressão muito forte do EUA pela repressão contra as drogas, culminando no plano Colômbia.  O Brasil não estava em condições de se colocar contra essa política."

Vejo duas possibilidades:

1) Não cairia bem para FHC, afirmar que o Brasil não poderia bater de frente com os EUA nos fóruns internacionais num debate global sobre a política de repressão às drogas.

 - na minha opinião, essa possibilidade é meio boba: de fato o Brasil não costumava peitar os EUA, mas ninguém jamais se envergonhou disso...o problema talvez seja a comparação com o governo de seu sucessor não-intelectual, seu sucesso junto à opinião pública e esquecimento dos avanços de seu governo.

2) FHC faz parte de um grupo chamado "The Elders", algo como "Os Anciãos".  Trata-se de um grupo de lideranças globais, todos membros da inteligentsia global - coisa certamente inalcançável para Lula, logo, porto-seguro para FHC.  Entre os Anciãos (são apenas 11!!), estão Nelson Mandela, Jimmy Carter, Desdmond Tutu e Kofi Annan.  O grupo tem uma clara inclinação liberal, e vários deles aparecem no documentário do filho do Mário de Andrade.  Talvez ficasse mal se postar contra um posicionamento liberal do grupo...mas certamente não foi isso: melhor que agir passivamente, não  se postando contra, que tal liderar os anciãos numa cruzada pró-maconha?  Isso garantiria a FHC novamente o status de liderança global em um tema de grande relevância.

Bom, é isso.  Certamente assistirei o documentário recordista de captação de recursos da Lei Rouanet, provavelmente concordarei com a discussão e tudo mais...mas é meio esquisito.  Mas legal, valeu Fernandos!