Há exatos 5 anos, as 23:32 do dia 16 de setembro de 2005 nascia, ainda
hospedado na UOL, o Wilbor.
A blogosfera é um universo que me atraiu cedo, tenho a impressão de que isso começou quando me toquei de que o boom de blogs nos EUA, que tratavam de banalidades à política, abria um espaço inédito, no qual qualquer pessoa podia brincar de jornalista/cronista/ensaísta/humorista.
Minha primeira experiência com blogs foi em 2004. Sempre gostei de escrever, e ainda sem ter muita noção do "pra que servia um blog" ou mesmo sem conhecer muitos outros, resolvi criar um pra mim, o malfadado "
Papo de Quintal", que durou 99 dias e rendeu 38 postagens (mais um dia e eu teria algo a comemorar por lá!). Naquela época, fazer e manter um blog era uma tarefa um pouco enfadonha: as opções de postagem e formatação eram muito limitadas, de forma que todos os blogs eram visualmente muito parecidos. Além disso, o fato de escrever o blog sozinho era um pouco chato e me obrigava a manter uma frequência de postagens incompatível com as minhas pretensões e com o tempo que tinha disponível - como curiosidade devo dizer que aquele blog foi criado no meio de uma crise terrível da minha hérnia de disco, o que me manteve em casa por muito tempo.
Dito isso, passo a falar especificamente deste blog, principalmente sobre como surgiu e como eu o vejo hoje. Para fazer isso, acho importante explicar algumas coisas sobre a minha amizade com o Gabriel.
Conheço o meu co-blogger desde os 11 anos de idade, de forma que já fazem 20 anos. Ambos somos filhos de professores de Geografia da UEM, e nos encontramos, pela primeira vez, num churrasco do departamento. Gabriel não morava em Maringá, éramos "amigos de férias", e, crianças que éramos àquela época, as nossas reuniões serviam mais para brincar mesmo, eu e ele, minha irmã com a irmã dele.
Eu e o Gabriel tínhamos tudo para sermos apenas conhecidos, mas nessas primeiras férias dele em Maringá nos vimos um bocado, e nas visitas subsequentes sempre nos visitavámos, frequentemente também com a companhia do Roberto Kaz, outro amigo de longa data que também escreve - aliás, dizer que o Beto "também escreve" é pretensão nossa, já que o Beto é um jornalista brilhante, atualmente na Folha de São Paulo e com uma belíssima passagem pela revista Piauí.
Bem...apesar dessa condição de amigos que se viam muito pouco, posso dizer que eu e o Gabriel crescemos juntos, e acho que ao longo desse tempo todo tivemos bastante influência um sobre o outro. Devo muito de minha formação intelectual às nossas conversas. Isso explica um pouco do tipo de humor que tempera o Wilbor. Se há 20 anos nós nos encontrávamos para brincar, acho que dá pra dizer que hoje em dia isso ainda permanece...só deixamos de lado os brinquedos e videogames.
Meus encontros com o Gabriel seguem um certo padrão: nos cumprimentamos, contamos as novidades e passamos a conversar sobre qualquer assunto. Às vezes a conversa entra de forma tão direta que nem passamos pelas novidades - Gabriel esteve aqui há poucas semanas e eu percebi que não conversamos quase nada sobre a viagem dele à Europa. Fofocas e conhecidos em comum, asseguro aos senhores, são muito raros e jamais foram assunto principal, talvez com a exceção do Beto, por ter se tornado jornalista, e coincidentemente ter passagens pela Piauí e Folha, duas publicações que nós assinamos, fato que deixa a gente orgulhoso. Alguns temas são mais frequentes, e acho que o conteúdo do nosso blog reflete muito disso: política, ciência, religião, música, literatura, fotografia, quadrinhos (e o Laerte como categoria onipresente). Conclusão deste minuto: o rumo das nossas conversas poderia ser considerado muito anárquico, não fosse o Wilbor pra provar que existe algum padrão nisso tudo.
Ao longo de todo esse tempo de convívio intermitente, muitas idéias de projetos compartilhados surgiram, mas penso que para nós, o próprio exercício mental de pensar em paródias de coisas, apontar as esquisitices do nosso cotidiano e imaginar campanhas publicitárias fictícias já bastava, tanto que a imensa maioria dessas idéias sequer entraram no papel, que dirá sair dele. Mas um dia qualquer, lá em 2005, numa dessas longas viagens, bolamos uma campanha contra o abuso infantil (
Child Abuse) que tomou o resto da noite. Não me lembro muito bem do processo criativo, mas a tinha a ver com as correntes de e-mails de auto-ajuda, as fotos de mãozonas de pais segurando pezinhos de bebês. A memória do Gabriel é melhor que a minha, mas pode ter sido assim: alguém fez um comentário sobre esse tipo de foto "isso podia ser coisa de quem tem tara por pés...pés de crianças!" Imaginamos uma série de imagens desse tipo, sempre essas fotos comoventes com o slogan acusatório "Child Abuse", e o arremate, pronunciado pelo Gabriel imitando uma apresentadora fictícia de telejornal norte-americana lésbica que lia "Just Don´t" - em alusão ao slogan da Nike. Ao final deste processo a barriga do Gabriel certamente estava doendo, e nos ocorreu que podíamos ter um espaço virtual para desovar essas viagens todas.
"Child abuse" sempre será particularmente mais engraçado para nós, isso faz parte do tal "humor obscuro" que é mais claro pra gente por conta de uma cumplicidade que nos permite compreender qual é o twist que torna tal situação inusitada, ainda que eu pense que é um humor possível, embora limitado a um pequeno contingente. Para mim, o mais engraçado dessas campanhas são os comentários - poucos, que se registre - de pessoas que apóiam as iniciativas. Um dos posts em
defesa dos golfinhos recebeu um comentário que me faz rir até hoje:
"é isso aí Marcelo!! saiba que não estás sozinho nessa! parabéns pela iniciativa!!"
Esse blog tem, para mim, três funções básicas:
1) Serve como um espaço no qual eu desovo qualquer bobagem que resolva escrever; ou como divulgação e discussão de fatos que considero interessantes ou importantes. Quem acompanha o blog com alguma regularidade sabe que a gente não costuma impor níveis muito altos de auto-censura.
2) É um canal de comunicação que tenho com esse velho amigo. Boa parte das coisas que a gente escreve por aqui ou vieram de conversas prévias ou são posteriormente discutidas pessoalmente.
Há ainda uma terceira coisa que o Gabriel deve abordar no post dele sobre o blog - deixarei para comentar por lá.
Escrever no Wilbor tem sido uma experiência muito enriquecedora para mim. Primeiro porque evita um enferrujamento total do hábito de escrever, o que considero muito importante. Segundo, porque apesar da baixa auto-censura, sabemos que o que se escreve aqui se torna público, de forma que nos leva a imaginar o que as pessoas que lêem pensam a respeito do que foi escrito, o que força à prática da retórica. Terceiro, porque escrever em co-autoria facilita muito o trabalho.
Esse blog adicionou uma nova seção nos encontros com o Gabriel - as "discussões de pauta". O fato de ter uma outra pessoa postando apresenta duas grandes vantagens: evita que fiquemos na inércia completa e também faz com que a necessidade do ritmo de produção seja mais tranquilo. Qualquer leitor que entre pela primeira vez no blog pode, ao invés de se mijar de ansiedade pela próxima postagem, ler as anteriores - até o momento são mais de 600 só no endereço novo.
Como todos os projetos que eu comecei na vida, a intenção deste é ter continuidade. Fico muito satisfeito em ver que Wilbor não caiu na vala comum das "coisas que já fiz na vida" e está aí, firme e forte, depois de 5 anos. Pode parecer pouco, mas considerando que a blogosfera começou pra valer em 2003, acho que podemos nos considerar pioneiros nesse meio. Desde que começamos, passamos por algumas mudanças de forma, conteúdo e ferramentas de edição, inflacionamos a nossa aba lateral com uma infinidade de links - de vez em quando tem faxina - e penso que melhoramos também o material apresentado. Tendo em vista que esse blog já poderia ter acabado em qualquer momento do passado e ainda está de pé, acho que é um projeto que ainda deva durar por bastante tempo.
Gostaria, por fim, de agradecer a todos que seguiram o Wilbor ao longo destes 5 anos - com menção honrosa para o Marcel, campeão de comentários por aqui, e responsável por alguns debates calorosos. A gente sabe que as pessoas não costumam comentar, mas é muito legal quando isso acontece. Esses dias reli quase o conteúdo todo do blog, incluindo o arquivo antigo, e percebi que a discussão mais longa que já ocorreu por aqui ocorreu em função de um dos posts mais curtos e despretensiosos da história do Wilbor, que está no
final desta página. O Marvin desapareceu pouco depois disso.
Bom, é isso aí. Parabéns pra nóis!