Wilbor também é um espaço pensado para ser livre; como o Marcelo já colocou, não se deixar tolher em demasiado pela autocensura. A idéia é postar sem muita preocupação com o acabamento, ter uma experiência de colocar idéias ainda meio selvagens em público. Até porque é o que fazemos na maior parte da vida. Para mim e para meu co-blogger, este espaço tem possibilitado um exercício de raciocínio e expressão fantásticos.
Por isso mesmo, Wilbor é um espaço amador. Ninguém aqui é "blogueiro profissional" nem nunca quis ser. Ninguém aqui ganha dinheiro ou fama com isto (ainda). Nosso compromentimento com este espaço é o compromentimento com a tranqüilidade. Wilbor não pode ser um peso, um trabalho -- está mais para uma válvula de escape. Não há nem nunca houve uma preocupação de periodicidade diária, com tipo de atualização constante que costuma ser prescrita para os "blogs de sucesso". Pessoalmente, acho essa exigência exasperante, acintosa. Contraditório que possa ser, é um blog a favor da "desconexão" -- ou melhor, da conexão seletiva.
Wilbor é, no fim das contas, espaço de exercício e registro do ócio criativo.
(Aí está algo que realmente une a nós dois co-bloggers: o apreço pelo ócio e da criação que dele advém.)
Wilbor é sobretudo um espaço exploratório. Foi criado como canal de diálogo e parceria (o que Marcelo já bem explicou), mas foi e é uma experiência de estar na internet, de participar de alguma maneira da web e das especificidades do meio. Acreditem, são muitas as especificidades: as mudanças graduais de design do blog refletem nossa crescente compreensão e domínio deste espaço como ferramenta comunicativa, narrativa e dialógica -- afinal, recebemos respostas e comentários; não é uma via de mão única. Quando este blog começou, o simples ato de ditar o tamanho com que uma imagem aparece aqui era um mistério. Mudamos do UOL para o blogger principalmente pelas opções mais ricas de design que este nos oferecia. E embora agora esteja facílimo colocar elementos visuais que cinco anos atrás me deixariam babando, eu tive de me bater muito -- e amadoristicamente -- com programação de códigos para ter os resultados que queria.
Esse esforço todo porque -- e aí está outra especificidade do Wilbor -- não se trata aqui apenas de dizer, mas de mostrar. Mais que só escrever, quisemos um blog porque ele nos permitiria dar vazão à uma produção necessariamente visual (Child abuse é o exemplo mais claro). Tanto eu como o Marcelo temos muitos interesses visuais (colocamos muito pouco de nossas fotografias aqui, mas isso ainda vai mudar). Assim, trata-se também de uma exploração visualmente expressiva do meio, que pra mim -- envolvido com combinações de palavras e imagens desde que me conheço por gente -- sempre foi particularmente importante.
Como alguns blogs, Wilbor nunca teve pauta, nunca possuiu um tema. Pode-se dizer que a grande categoria aglutinadora aqui sempre foi o humor -- o humor obscuro-- mas nunca que este foi um "blog de humor". Não era. Após cinco anos, somos capazes agora de separar alguns produções nossas que se sobressaíram -- estão aí na barra horizontal acima -- mas elas não representam "os temas do Wilbor". O conteúdo aqui presente é nem mais nem menos que o registro de nossos interesses comuns e individuais.Wilbor é um relato de nossos mergulhos no caótico oceano internético -- o que produzimos aqui, o que aqui encontramos nas profundezas, o que consideramos digno de nota ou que, por algum motivo obscuro, achamos que "combina" com o blog.
O que Wilbor não é nem nunca foi é um blog de vida pessoal -- não narramos nossas vidas diárias -- nem um blog de "atualidade" -- nunca nos sentimos obrigados a comentar o que acontece no momento, seja no cinema, na política, nos quadrinhos. Muito ocasionalmente, falamos de nós mesmos e de fatos do momento, mas são registros de nossas reflexões e gozações que julgamos pertinentes a colocar em público. Há critério nessa porralouquice, enfim.
Sendo amador, descompromissado e narcísico, Wilbor também é obscuro. Faz-se aqui um humor muitas vezes incompreensível -- às vezes conscientemente, às vezes acidentalmente. Penso que esta é uma das causas da raridade de comentários. Não somos "polemizadores" (raça que abunda na internet e que me torra o saco), e tampouco "jogamos pra torcida" -- nem temos torcida, apenas uns bons amigos e uns tantos acompanhantes curiosos aos quais muito agradecemos. Já queimamos o filme umas e outras vezes -- e, infelizmente, o resultado geralmente foi mais silêncio do que discussão, com a exceção do exemplo já citado pelo Marcelo.
Por fim: Wilbor se revolta é uma fala de uma história em quadrinhos infame e engraçadíssima de Fernando Gonzales que eu nunca mais consegui achar. (Essa, enfim, é uma das únicas piadas aqui que nem o Marcelo pôde acompanhar, pois não pude mostrar a HQ a ele; a única pessoa que sei que entendeu quando sugeri o nome foi o Thales...) Juro que assim que encontrá-la a história será postada inteira aqui.
Garanto que o farei antes do aniversário de 10 anos.
4 comentários:
Não sei se a "terceira coisa" que o Marcelo deixou pra eu falar está aqui dita. Ele podia ter ao menos me dado uma pista do que era...:)
Aliás, olhando agora: não é interessante como essa descrição de Wilbor parece se encaixar em outros blogs por aí?
Gabriel, até pode que descreva vários blogs, mas poucos blogs deitariam no divã auto imposto como você bem fez no tópico pertinente.
Mas acho que seu super ego foi duro demais ao fazer autoanálise. Claro, que sempre há vaidade narcisica no blog e oxalá que essa consciência catartica leve a adequação da mesma. Mas, pensando bem, com certeza, hoje, o blog saltou do divã e o narcisismo adequado movimenta essa criatividade que você bem citou, Gabriel. Então esse narcisismo virou a própria catarse em um maravilhoso pacote sortido de opiniões e posts sempre tendo por plano de fundo o aludido humor obscuro. (Marcel, direto de Presidente Prudente - SP)...
Eis o aguardado post do Gabriel!
Porque havia o que dizer, de modo que agora temos a história do blog, dos bloggers e o contexto espaço-temporal no qual foi criado; a autoanálise e as minhas queridas estatísticas.
Uma característica citada por nós dois, mas melhor explicada nesse post, é o fato de que no fundo existe uma certa ordem no que a gente publica - ou "critério nessa porralouquice."
Eu penso que quem acompanha mais de perto percebe o que é, mas talvez o tal critério do que deva entrar só seja muito claro mesmo para nós dois, e isso, como eu disse antes, é consequência dessa certa cumplicidade que temos.
Nas minhas sazonais conversas com o Gabriel, a gente fala de muita coisa, e entre as horas de conversa jogada fora, há algumas horas de conversas "jogadas dentro". De tudo isso que a gente consider interessante ou engraçado, tem algumas coisas que a gente chama de "Wilbor Material", e de todo o Wilbor Material apenas uma parte acaba entrando no blog - ou seja, realmente há critério, o que não implica em autocensura. Ocorre é que algumas coisas são bobas, ou só tinham graça dentro de um contexto esquecido, ou a gente simplesmente não lembrou depois.
Pra dar um exemplo de coisas discutidas e pensadas juntos: no nosso último encontro surgiu a idéia de um texto do Gabriel sobre Rio e São Paulo. Essa idéia veio em uma caminhada pelo centro e de observações relativamente técnicas que surgem naturalmente numa conversa entre um arquiteto e um geógrafo.
Depois da breja, momento do ócio criativo, as idéias (pelo menos as que eu me lembro) foram as seguintes:
"Chip em cabeça de cavalo"
"Mágica pra cachorro"
"Meu vizinho marsupial"
Isso porque o assunto mais engraçado do dia não é Wilbor material, e envolve uma idéia sobre quipás. De todo os temas acima, eu só tive idéia mesmo do último, e nenhum deles fica como promessa - mesmo porque isso a gente não faz isso - muito embora façamos algumas coisas com uma certa frequência.
Cheers!
P.S. Sim Gabriel, a "terceira coisa"está contemplada no seu texto.
"Wilbor: um blog com uma terceira coisa"
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