Não senti tonturas ou dor de cabeça. O óculos é meio chato.
Honestamente, gostei da experiência, acho que o 3d foi bem utilizado, algumas imagens são fantásticas, teve uma hora em que precisei deviar de alguma coisa...
A história não é espetacular, mas o conjunto da obra é capaz de prender a atenção pelas quase três horas de filme.
No final das contas (final meio óbvio, não vou me furtar a comentar), o soldado é muito mais legal como Na´vi do que como humando. Me lembrou da Fera de "A Bela e a Fera" da Disney, onde a opção da Fera em voltar a ser humano é meio chata - o cara é muito mais legal como Fera. O Jake Na´vi é muito mais interessante...os felinos-bípedes-azuis certamente foram feitos para serem bichos "amáveis" - no sentido de loveables, ou passíveis de serem amados.
Queria ter uma máquina e um avatar desses, mas pra morar na cidade mesmo. Seria muito bom pro meu basquete. Fora o lance de que o rabo parece ajudar muito no equilíbrio desses bichos enormes.
A obviedade chata do filme é o excesso de referências ao Bushismo: ataques preventivos, "war on terror", "shock and awe" e o retorno (já meio batido nos diasd e hoje) do mito do bom selvagem.
Mas vale a pena, achei bacana. Vou ficar irritado se começar a ler discussões muito aprofundadas sobre a filosofia embutida em Avatar.
Continuando a série, agora alguns dos esboços que produzi durante o Primer Encontro de Arte Público en Latinoamerica, lá em Buenos Aires, há mais de 1 mês.
Abaixo, pessoas reais que estavam efetivamente lá no encontro:
Aí ao final estão desenhos completamente imaginários e aleatórios de "personas" -- coisa que eu costumo fazer também em momentos "dispersivos".
(detalhe: a umidade ocasionada por uma chuva inesperada acabou por afetar o desenho da "nêga"... mas conferiu um interessante efeito à tinta da caneta esferográfica.)
Este último domingo de manhã. Teatro Cecília Meirelles, na Lapa. Concertos da Juventude: Tributo a John Williams. Orquestra Sinfônica do Brasil tocando temas de Williams para filmes (E.T., Indiana Jones, Star Wars, Harry Potter, Lista de Schindler, etc).
Sessão especial, a doirreal o ingresso.
Na hora do bis...
Morar no Rio está se mostrando sumamente interessante.
Quem me conhece pelo meu desempenho escolar pode cometer o erro de me julgar um exemplo de atenção, de alguém que se concentra nas aulas. A verdade é que tenho uma terrível tendência a ser dispersivo pra qualquer situação que envolva pessoas falando ao vivo para um público: aulas, palestras, debates, bancas... a concentração exige esforço consciente.
A principal maneira de manifestação dessa dispersão é a vontade de desenhar. (Acho que também tem a ver com as várias pessoas estáticas à sua frente, à disposição para servir de modelo sem o saber).
Bom, a questão é que vou colocar alguns posts, daqui pra frente, mostrando os resultados de algumas ocasiões de dispersão.
A primeira que coloco aqui é quando fui, já faz dois meses, a uma mesa redonda denominada "HQ da vida real: biografias e reportagens em quadrinhos". A mesa era a última parte de um evento bem legal, a "Semana de quadrinhos da Travessa", e ocorreu no auditório da Livraria da Travessa no Shopping Barra (que, do ponto de vista da minha casa, é lááá na PQP) .
Neste próximo, tentei desenhar o Sieber e o roteirista Sandro Lobo.
(Alzira Valéria, eficientíssima organizadora do evento, mandou o desenho pro Sieber. Parece que o Sieber teria dito que parecia desenho do Harvey Pekar. Colocada assim, a frase comporta uma ambigüidade -- a qual não deixa de ser meio preocupante, uma vez que Pekar não sabe desenhar... :) )
Pra quem não conhece (creio que muita gente no Brasil), George Carlin foi um humorista americano, do tipo "stand up comedian", morto no ano passado. Mais do que "mais um comediante", Carlin era considerado um intelectual e poeta, suas rotinas sempre foram marcadas pela teatralidade, raramente eram coisas improvisadas. Era tido como um ícone da contra-cultura na década de 1970, e ficou famoso por sua rotina "Seven Words you can never say on TV" (sete palavras que nunca podem ser ditas na TV): shit, piss, fuck, cunt, cocksucker, motherfucker e tits.
Lembro de ter visto várias de suas rotinas quando morei nos EUA, e semana passada, 14 anos depois, vi o cara num programa de TV e resolvi assistir algumas coisas no youtube, que compartilho aqui.
A primeira, mostra a capacidade de trabalho com a poesia e boas doses de humor sutil e c´ritica social. O poema se chama "The Modern Man." Segue o vídeo e a transcrição:
"I’m a modern man, a man for the millennium. Digital and smoke free. A diversified multi-cultural, post-modern deconstruction that is anatomically and ecologically incorrect. I’ve been up linked and downloaded, I’ve been inputted and outsourced, I know the upside of downsizing, I know the downside of upgrading. I’m a high-tech low-life. A cutting edge, state-of-the-art bi-coastal multi-tasker and I can give you a gigabyte in a nanosecond!
I’m new wave, but I’m old school and my inner child is outward bound. I’m a hot-wired, heat seeking, warm-hearted cool customer, voice activated and bio-degradable. I interface with my database, my database is in cyberspace, so I’m interactive, I’m hyperactive and from time to time I’m radioactive.
Behind the eight ball, ahead of the curve, ridin the wave, dodgin the bullet and pushin the envelope. I’m on-point, on-task, on-message and off drugs. I’ve got no need for coke and speed. I've got no urge to binge and purge. I’m in-the-moment, on-the-edge, over-the-top and under-the-radar. A high-concept, low-profile, medium-range ballistic missionary. A street-wise smart bomb. A top-gun bottom feeder. I wear power ties, I tell power lies, I take power naps and run victory laps. I’m a totally ongoing big-foot, slam-dunk, rainmaker with a pro-active outreach. A raging workaholic. A working rageaholic. Out of rehab and in denial!
I’ve got a personal trainer, a personal shopper, a personal assistant and a personal agenda. You can’t shut me up. You can’t dumb me down because I’m tireless and I’m wireless, I’m an alpha male on beta-blockers.
I’m a non-believer and an over-achiever, laid-back but fashion-forward. Up-front, down-home, low-rent, high-maintenance. Super-sized, long-lasting, high-definition, fast-acting, oven-ready and built-to-last! I’m a hands-on, foot-loose, knee-jerk head case pretty maturely post-traumatic and I’ve got a love-child that sends me hate mail.
But, I’m feeling, I’m caring, I’m healing, I’m sharing-- a supportive, bonding, nurturing primary care-giver. My output is down, but my income is up. I took a short position on the long bond and my revenue stream has its own cash-flow. I read junk mail, I eat junk food, I buy junk bonds and I watch trash sports! I’m gender specific, capital intensive, user-friendly and lactose intolerant.
I like rough sex. I like tough love. I use the “F” word in my emails and the software on my hard-drive is hardcore--no soft porn.
I bought a microwave at a mini-mall; I bought a mini-van at a mega-store. I eat fast-food in the slow lane. I’m toll-free, bite-sized, ready-to-wear and I come in all sizes. A fully-equipped, factory-authorized, hospital-tested, clinically-proven, scientifically- formulated medical miracle. I’ve been pre-wash, pre-cooked, pre-heated, pre-screened, pre-approved, pre-packaged, post-dated, freeze-dried, double-wrapped, vacuum-packed and, I have an unlimited broadband capacity.
I’m a rude dude, but I’m the real deal. Lean and mean! Cocked, locked and ready-to-rock. Rough, tough and hard to bluff. I take it slow, I go with the flow, I ride with the tide. I’ve got glide in my stride. Drivin and movin, sailin and spinin, jiving and groovin, wailin and winnin. I don’t snooze, so I don’t lose. I keep the pedal to the metal and the rubber on the road. I party hearty and lunch time is crunch time. I’m hangin in, there ain’t no doubt and I’m hangin tough, over and out!"
O segundo exemplo é mais polêmico - pra muita gente, penso. Carlin era um racionalista, do mesmo grupo de James Randi e Penn & Teller...a rotina a seguir se chama "Religion is Bullshit". Vale a pena:
Como acho que exagerei na dose de hermetismo deste post, vou dar uma pequena explicação aqui... oa trechos aqui fotografados são todos tirados do mesmo livro, uma Antologia de textos do grupo de arruaceiros vanguardistas intelectuais e artísticos dos anos 60 que se chamavam de Situacionistas.
Eu postei aqui imagens de trechos que me pareceram ao mesmo tempo simples e bastante exemplares da crítica e da retórica Situacionista.
O "núcleo duro" de conceitos da Internacional Situacionista é o livro seminal, ácido e metido-a-besta do francês Guy Debord, A Sociedade do Espetáculo. As idéias de Debord influenciaram (e influenciam) muita gente até hoje, e sua crítica à sociedade do consumo cultural mass-mediático é uma das mais antigas e relevantes.
Lançado na França em 1967, A Sociedade do Espetáculo tornou-se inicialmente livro de culto da ala mais extremista do Maio de 68, em Paris; hoje é um clássico em muitos países. Em um prefácio de 1982, o autor sustentava com orgulho que o seu livro não necessitava de nenhuma correção.
O “espetáculo” de que fala Debord vai muito além da onipresença dos meios de comunicação de massa, que representam somente o seu aspecto mais visível e mais superficial. Em 221 brilhantes teses de concisão aforística e com múltiplas alusões ocultas a autores conhecidos, Debord explica que o espetáculo é uma forma de sociedade em que a vida real é pobre e fragmentária, e os indivíduos são obrigados a contemplar e a consumir passivamente as imagens de tudo o que lhes falta em sua existência real.
Têm de olhar para outros (estrelas, homens políticos etc.) que vivem em seu lugar. A realidade torna-se uma imagem, e as imagens tornam-se realidade; a unidade que falta à vida, recupera-se no plano da imagem. Enquanto a primeira fase do domínio da economia sobre a vida caracterizava-se pela notória degradação do ser em ter, no espetáculo chegou-se ao reinado soberano do aparecer. As relações entre os homens já não são mediadas apenas pelas coisas, como no fetichismo da mercadoria de que Marx falou, mas diretamente pelas imagens.
Quem quiser ler o original pra valer, tem vários links (O livro era copyleft avant la lettre) . Eu conheço este.
Me passaram recentemente o link (valeu, Pinha!) para esta notícia: A revista TheArchitect's Journal elegeu as 5 maiores cidades das histórias em quadrinhos.
("maior" não no sentido de tamanho, capisce? Embora a lista possa dar essa impressão... é um "top 5")
Muito interessante. Aí abaixo vai o vídeo.
Mais interessante ainda que o vídeo, pra mim, foi a lista completa das 10 maiores cidades das Histórias em quadrinhos, que possuía algumas que eu ainda não conhecia.
A lista completa, em ordem descrescente (com links):
5 - A cidade de "O longo amanhã", de Moebius(esta especificamente eu não conhecia, mas as cidades de Moebius têm me fascinado há muito tempo. Detalhe: há um erro no site. A última das imagens não é dessa cidade, mas da megacidade de O Incal -- que, na verdade, é praticamente igual)
4 - A New York do Demolidor (Daredevil)(Eles falam aqui, especificamente, da H.Q. A queda de Murdock, excelente obra do Frank Miller na época em que ele dava no couro. Bem, eu não colocaria a cidade nesta posição do ranking... mas valeu a menção. Embora N.Y. seja cenário de vários dos heróis da editora Marvel -- Quarteto fantástico e Homem-Aranha, só pra citar, são novaiorquinos de carteirinha -- a cidade adquire outra dimensão no Demolidor de Frank Miller: a cidade é fitada a partir de sua suburbanidade, suas áreas mais pobres e criminosas)
2 - A Chicago de Chris Ware (Ware, Fabuloso gênio louco, faz várias HQs passadas em Chicago -- incluindo a sua mais famosa e ultrapremiada "graphic Novel"Jimmy Corrigan, que comprei pela Amazon e estou a ler agora.)
1 - Mega City One(bem se vê que a Architect's Journal é uma revista Inglesa!! Mega City One é bem interessante como metrópole futurista distópica, mas o primeiro lugar só se explica mesmo pelo "impacto regional". Pra quem não sabe, Mega City One é cenário de Judge Dredd, HQ inglesa de grande sucesso e que na década de 90 virou filme... com Sylvester Stallone como protagonista.......)
Bem. Tudo muito legal.
Mas critico duas grandes faltas nessa lista:
1. Caramba, cadê oWill Eisner? O maior cronista urbano das histórias em quadrinhos! Sua New York é ao mesmo tempo cenário e personagem de dezenas de histórias!! Imperdoável. Deixá-lo de fora requisita explicações detalhadas...
2. onde está aNeo-Tokyo de Akira, de Katsuhiro Otomo? Uma história de grande sucesso, com mais de 1800 páginas TODAS passadas dentro de uma única cidade (com a exceção de algumas cenas num porta-aviões em alto-mar e duas cenas curtas no espaço sideral...), no qual a cidade é detalhada primorosamente e é um participante absoluto do clima e enredo da história...
Será que o Mangá de Akira não fez muito sucesso na Inglaterra? Ou será que já foi esquecido? Ou simplesmente preferiu-se privilegiar autores ocidentais? Ficam as dúvidas.
... Na verdade, esse vídeo serve também para designers, publicitários, cineastas e qualquer profissão que tenha de trabalhar com essa coisa, tão estranha e vaga para a maioria da população, que se chama... projeto.
Abaixo, trechos (longos) do texto (curto) de Rui Sardinha, "espelhinho, espelhinho meu", que foi publicado na revista V!RUS nº 2.
(...) Até a puberdade domina, na criança, o pensamento animista. Assim, não existindo uma linha clara que separe os objetos das coisas vivas, é bastante natural que estes falem, dêem conselho, ajudem os personagens em suas façanhas ou que os homens possam se transformar em objetos ou vice-versa(...). Incapazes de grandes abstrações, os objetos encantados fornecem o substrato material necessário à simbolização das dúvidas e anseios que povoam o universo infantil.
Sabemos, entretanto, que a passagem da infância para a fase adulta se dá justamente através do arrefecimento do pensamento animista em prol das explicações mais abstratas (aquilo que chamamos de pensamento científico ou raciocínio lógico). Cônscio de si, de suas limitações e potencialidades, poderá finalmente promover o questionamento das imagens míticas tão essenciais em momentos pretéritos.
Entretanto, tanto individualmente quanto em termos de estruturas sociais, há momentos onde o vínculo com o pensamento mágico se mostra necessário para compensar a aspereza da vida ou a imaturidade da formação psíquica. Um bom exemplo disso pode ser obtido no conto Branca de Neve.
(...) A necessidade que a madrasta-rainha tem de se reportar constantemente ao espelho mágico (um objeto programado para dizer somente a verdade) reitera obsessivamente seu comportamento infantil. Não podendo sublimar, a madrasta-rainha encontra-se aferrada ao princípio de prazer que a satisfação narcísica do reconhecimento de sua beleza ímpar lhe proporcionava.
(...) É sabido que o modo de existência dos nossos objetos tecnológicos – neste caso, dos objetos computacionais com interfaces tangíveis – aproxima-os muito mais do universo objetivo e lógico das ciências, requisitando também do interator ações e procedimentos afeitos ao pensamento abstrato. A maravilha com a qual aqui se lida não é, certamente, a da ordem do sobrenatural e sim das capacidades inerentes ao processo de desmistificação do mundo. Mas também é preciso não esquecer que este é apenas um dos lados deste cristal multifacetado que é o ser humano, e que o pensamento animista pode, muitas vezes, melhor responder às demandas internas, ainda mais numa sociedade que insiste a nos reduzir a homo consumens.
Mas, assim sendo, uma importante diferença marca a transição dos espelhos mágicos de nossa época daquele narrado pelo conto de Branca de Neve. Se lá ele revelava à madrasta-criança a impossibilidade da satisfação de seus desejos, os atuais oferecem-nos a construção imaginária (hiperbolizada por tais constructos tecnológicos) de um eu que tudo pode, da satisfação plena de todos os desejos. Não mais através das simbolizações, mas da posse desses objetos (o que leva ao surgimento de uma nova categoria – os tecno-excluídos ou deprimidos digitais).
Assim, diante do espelho digital, ao inquirí-lo sobre seu narcisismo contemporâneo, a top model ouviria: “Real senhora, sois aqui a mais bela. Porém Branca de Neve é que de vós ainda mais bela!”, e, diante da infelicidade de seu prossumidor, o espelho acrescentaria: “Não vos preocupeis, clicai aqui e vos fornecerei a lista atualizada de todas as tecnologias de embelezamento disponíveis no mercado”.
E assim, vive feliz nossa madrasta-modelo, pelo menos até que seu dinheiro acabe.
SARDINHA, R. L. Espelhinho, espelhinho meu. V!RUS, São Carlos, n.2, 2 sem. 2009. Disponível em
O Rui é um professor que entrou em São Carlos quando eu já estava saindo de lá. Mas eu adoraria conversar mais com ele...