terça-feira, 10 de março de 2009

O caso da menininha estuprada e a estupidez católica

Eu sei que de vez em quando a gente pega pesado com a religião aqui no blog. E por saber que é diferente discutir Deus e religião, é que evito escrever sobre Deus. Tenho dois motivos para isso:
Deus não existe.
Religião(ões) existe(m).
Bom, sobre o primeiro motivo, é o seguinte: a discussão sobre a existência ou não de Deus é desgastante e impossível. Provar a não-existência de Deus é tão impossível quanto provar a não-existência do chupa-cabras. E tentar provar a sua existência também é impossível. O problema, é que o fato de ser impossível que qualquer um dos lados vença a discussão não implica que a probabilidade da existência de Deus seja de 50%. De fato é bem menor que 50%. É zero. Isso não existe. Essa percepção, ao menos no meu caso pessoal, decorre da educação, da leitura, da cultura e da percepção de paradoxos intransponíveis na hipótese de um universo no qual essa criatura exista. Mas como essa discussão está acabada para mim, não vou me alongar nela. O motivo deste texto é outro: religião.
Nesta semana, o país ficou chocado com as declarações do arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho. Pra quem não sabe (bem-vindo a 2009), o cara excomungou uma equipe médica e a mãe de uma menina que foi estuprada pelo padastro dos 6 aos 9 anos de idade, quando acabou engravidando de gêmeos, gravidez esta considerada de alto risco dada a tenra idade da menina, e das consequências psicológicas do trauma de ter uma criança concebida por um ato de violência e covardia. O estuprador não foi excomungado, pois aos olhos da igreja católica, o “assassinato de duas pessoas inocentes” é mais grave que o estupro.
Quando li estes fatos (não sabia da não-excomunhão do padrasto), confesso que não dei muita bola. Abortos acontecem todos os dias – embora a maioria em condições muito precárias, infelizmente; e casos de estupro e atentado violento ao pudor associados à pedofilia também são uma triste realidade no nosso país (e em outros). Eu sei há muito tempo que quem compactua com aborto é excomungado, já fui inclusive avisado disso pessoalmente por um membro do clero. Sou um excomungado muito orgulhoso. Orgulhoso de não comungar com essa instituição medieval, perversa, racista, machista e corrupta. Sabendo de tudo isso, não dei muita bola quando soube da excomunhão dos médicos.
Agora...
Ao saber que o bispo declarou que o padastro não estava excomungado porque o estupro é menos grave que o aborto...caralho, o que é isso? Esse tipo de coisa nos mostra uma igreja tão, mas tão suja que é difícil entender como essa merda possa existir em pleno século XXI.
Pra deixar bem claro: excomunhão não importa, pelo motivo que já expus – nada disso existe. De qualquer forma, para algumas pessoas é importante, ainda que para os envolvidos seja melhor desejar a excomunhão mesmo. O problema é o sistema de valores empregados pelo bispo para “sentenciar” a excomunhão. A tempo: o arcebispo deixou muito claro que não é ele que excomunga...o indivíduo que compactua com o “assassinato” está automaticamente excomungada. Exatamente a mesma coisa que me foi dita há muitos anos atrás, quando relatei um caso semelhante que ocorreu aqui em Maringá com o d. Jaime Luiz Coelho.
Então, se o arcebispo não excomunga, se a excomunhão acontece automaticamente, pra que diabos ele precisa anunciar na mídia nacional a excomunhão de todos os envolvidos? Porque a necessidade desse bicho de tornar a situação em uma vexatória? É a santa inquisição...e há quem goste disso.
Que fique claro que o arcebispo tem o apoio da CNBB e do próprio Vaticano (obviamente).
Clicando neste link, vocês podem ler a carta de apoio do padre Luiz Carlos Lodi da Cruz, presidente da pró-vida de Anápolis. Nada de especial nesse cara, só o fato de que foi a primeira defesa que eu achei online. Um trechinho para o deleite dos nossos estimados leitores:
“Em meu trabalho pró-vida, várias vezes deparei-me com casos de adolescentes ou crianças vítimas de estupro. Enquanto as feministas ofereciam aborto, nós, cristãos, oferecíamos acolhida, hospedagem, assistência espiritual e acompanhamento durante a gestação, parto e puerpério.”
“As crianças geradas em um estupro costumam ser alvo de um carinho especial de suas mães. Longe de perpetuar a lembrança da violência sofrida (como dizem alguns penalistas), o bebê serve de um doce remédio para o trauma do estupro.”
“Suponhamos que, de fato, o aborto pudesse "curar" alguém. Façamos de conta que, em alguma hipótese, o aborto seja "terapêutico". Estaríamos diante de um caso semelhante ao de uma mulher que, oprimida pela fome durante o cerco de Jerusalém (ano 70 d.C), matou e devorou o próprio filho recém-nascido.”
1 - Sim, a igreja sempre acolhe crianças concebidas de estupro e suas mães-meninas.
2 - Sim, bebês são doces remédios para o trauma do estupro, praticamente uma garantia de futura boa saúde mental.
3 - Minha nossa senhora!!!!!!
Agora, mudando um pouco de assunto (mas só um pouco), tem outra questão: ontem, o jornal do Vaticano “L'Osservatore Romano” publicou em suas páginas que “a máquina de lavar fez mais pelas mulheres que a pílula”.
Bem...o que isso quer dizer?
Primeiro, que lugar de mulher é na cozinha, na área de serviço...não votando, trabalhando e pensando (ou ainda celebrando missas). E pra não me acusarem de tirar a frase de seu contexto original, explico: segundo o artigo, enquanto a máquina bate a roupa, as mulheres tem tempo para conversar com as amigas e tomar um cappuccino. Pra quem quiser ler, tá aqui.
Quer dizer ainda que as mulheres devem engravidar sempre que seus maridos tiverem vontade de fazer sexo. Ou seja: mulher serve pra cozinhar, lavar, passar, parir, criar os filhos e se tiverem tempo, conversar com as amigas – e hoje graças ao desenvolvimento tecnológico elas têm, graças às máquinas de lavar, fornos de microondas e empregadas domésticas - e depende ainda de saber se as amigas também dispôem dessas coisas todas.
Sem muito mais a falar do assunto, coloco algumas questões:
1 - Será que a igreja acha uma boa idéia que estupradores usem camisinha ao violentar menininhas?
2 - Será que a igreja pensa que um mundo muito mais populoso será melhor?
3 - Será vontade de Deus a gravidez de uma menina de 9 anos que é estuprada há 3 engravide e seja obrigada a abrir mão da infância e futuro?
4 - Que Deus é esse? Porque tamanha adoração a uma criatura tão malvada?
Essa história toda me fez lembrar o Paulo Maluf ao declarar o seu famoso “estupra mas não mata”. Pra quem não lembra ou não conhece esta história, taí um vídeo.


Pro bispo seria: “Estupra, mas sem camisinha...e vê se não mata”
Este post é um tanto virulento, admito. Mas não devo desculpas a ninguém, especialmente aos pouquíssimos apoiadores de verdade dessa instituição que é uma das maiores assassinas da humanidade. A igreja católica, se afasta cada vez mais da sociedade, por não ser hábil o suficiente para se inserir num mundo onde a tendência e o desejo geral é a paz e a tolerância. E na qual o paradigma, ainda que nem todos admitam, é o conhecimento filosófico-científico. Toda vez que a igreja exprime opiniões contrárias à lógica científica, acaba enfiando as patas traseiras pelas dianteiras.
E tudo isso, me leva a crer que tem razão mesmo é o Dawkins. A idéia de “Deus” não passa de uma muleta psicológica da qual já temos ccondições de nos livrar, trata-se de um resquício cultural de uma época dominada pelo obscurantismo e pela falta de divulgação do conhecimento científico (ou do próprio conhecimento).
Religião pode ser boa para algumas pessoas? Sim. Mas em sua essência representa a vontade política de dominação cultural e a necessidade de sobreviver de uns homenzinhos indecentes, decadentes e retrógrados.
Não quero isso para os meus filhos, não quero isso para a minha sobrinha, não quero isso para ninguém. Religião nenhuma tem autoridade moral para ditar a moral. Obviamente, com a situação posta e, entendendo o “espírito do tempo”, é perfeitamente compreensível que a geração atual ainda esteja muito impregnada dos dogmas religiosos, mas por sorte, o progresso sócio-econômico, universalização do ensino e da ciência provavelmente tratarão de, lentamente, levar a humanidade para uma nova época, mais racional e certamente mais humana.
Não precisamos de uma instituição que declare que mulheres são inferiores, que homossexualismo é uma doença (apesar de ser bastante leniente com os casos de pedofilia entre seus sacerdotes) e que meninas de 9 anos devam se sujeitar a uma gestação iniciada num estupro ou que queira dizer, baseada em merda nenhuma onde começa, onde termina a vida e o que devemos fazer dela.
Tá certo, existem religiões ainda piores...mas não justificam a escolha óbvia por uma outra que seja horrível nesse grau. A melhor opção, certamente, é o ateísmo. Pelo menos pra quem deseja paz de espírito e consciência tranquila.

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4 comentários:

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Olhando agora, com o post já publicado...o bispo até lembra um pouquinho o Maluf, né? Tem aquela qualidade de político no traço do Angeli.

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Hehehe...o botãozinho de play do video do Maluf ficou em cima da boca dele...deviam pregar um mesmo.

Gabriel G; disse...

Nossa. Essa história foi muuuito foda, Marcelo... é um daqueles momentos que merecem todas as suas críticas. Surreal.


Bom é o bônus do "estupra mas não mata", de que eu só havia ouvido falar... o Maluf é o cara!!

(se eu fosse filha do Maluf ficaria puta da vida de aparecer no programa justamente daquele jeito, hehehe)

Gabriel G; disse...

Marcelo, eu estava relendo o seu texto, agora com mais atenção... e, com o perdão da auto-pagação-de-pau pro nosso blog, é muito bom.
A argumentação inicial, em especial, foi muito bem construída.
(Vais ser um senhor professor!hehehe)