sexta-feira, 20 de maio de 2011
sexta-feira, 13 de maio de 2011
"Sustentabilidade hedonista"
Postado por
Gabriel G;
E eis que fui semanas atrás numa palestra do Bjarke Ingels na PUC Rio. É ele mesmo, o cara que fez a primeira publicação monográfica de Arquitetura em forma de história em quadrinhos (Yes is More), que já apareceu no Wilbor antes.
A palestra era significativamente intitulada de "hedonistic sustainability". O tema já era explicado em seu Yes is More, e o mais novo projeto deles a ilustrar o "pincípio" pode ser visto nestes slides aqui.
(não, esta foto aqui não foi na PUC. Meramente ilustrativa.)
Lendo seu livro e acessando seu site, dá pra ver que Bjarke é um cara que entende e explora como ninguém neste momento o potencial da mídia para a propaganda e divulgação da arquitetura. Eu há tempos tinha intuições de que uma característica forte deste seria fato de usar as mídias de maneira "popularizável", voltada a um público "middle-brow" e não um super-intelectualizado e especializado. Em uma palavra: um discurso voltado em muito para leigos interessados, alunos de arquitetura e jovens arquitetos.
A quantidade de alunos se acotovelando afoitos num auditório lotado me reforçou essa intuição. Não deixe que a cara de ator de Malhação engane: ele é muito inteligente e astuto.Com 36 anos, um escritório construindo coisas no mundo todo, uma história em quadrinhos arquitetônica cada vez mais popular e um trendy look entre o bem-vestido e o calculadamente desarrumado, Ingels me parece ter potencial para ser o mais jovem arquiteto pop-star já visto.
Além da PUC, nesta visita ao Brasil ele foi entrevistado pela GNT e pela revista AU.
Aqui a entrevista da AU:
(O mais gozado é ouvir ele falar que, quando começou o curso de arquitetura, queria na verdade ser quadrinhista. Pra mim faz todo sentido)
E aqui a entrevista do programa "Nos Trinques", da GNT. É um programa para super-descolados (curiosidade: o entrevistador, Guto, foi meu bixo lá em São Carlos). Percebam que o tom da entrevista já é já é mais panorâmica, rasante e um tanto fashion; uma introdução a "leigos interessados".
Algumas considerações:
1) Deve ser um saco ficar repetindo as mesmas explicações o tempo todo. No livro, na palestra, nas duas entrevistas, e em outras apresentações, vi várias coisas serem distas de novo e de novo.
Nisso, BIG se torna um escritório de slogans e punchlines; e sabe fazer isso muito bem.
2) Como vários escritórios internacionais, BIG deve estar com sérios planos de invasão aqui da Brasiléia, e parece que estamos a corroborar seus planos (ao menos em publicidade). Na palestra ele começou falando sobre Brasil, mostrou foto de suas visitas à favelas (ficou hospedado em uma anos atrás), falou destas como potencialidades arquitetônicas e que têm a melhor vista do Rio e por aí vai. Se ele conseguir aportar seus trabalhos por aqui, há riscos de que arquitetura fique mais pop do que nunca no país... ou não. Vamos ver.
3) Você assiste à apresentação dele admirado (ainda mais se, como eu, você estudar apresentações), e alguns edifícios parecem realmente empolgantes e bem-bolados. Porém, ao mesmo tempo, me gera muita desconfiaça o fato de suas explicações fazerem tudo parecer simples demais.
O ponto principal de desconfiança: basicamente, as principais argumentações de BIG se dão na forma se sínteses de oposições. Um exemplo é o mote básico do grupo:
A questão é: será que não estamos falando aqui de "bonecos de palha"? Será que, astutamente, Bjarke não monta oposições relativamente caricatas para, por um lado, torná-las facilmente digeríveis paro público e, por outro, poder ele mesmo se posicionar e propagandear como grande desmistificador? (Esta, afinal, tem sido uma estratégia até usual ultimamente)
Essa última inquietação me desperta outro grupo de questões, mais sério que este. Não seria BIG, juntamente com muitos escritórios internacionais centrados em sustentabilidade, uma amostra de que estaríamos retomando fortemente uma espécie de "mito do design" característico do período modernista de até meados do século XX? O "design mudando a sociedade", só que agora na linguagem atual -- magnificado pela mobilização de mídias em apresentações impressionantes? Seria esta a forma que os arquitetos -- conscientes ou só subconscientes de praticarem uma profissão fundamentalmente frágil -- têm encontrado de colocar-se como alguma coisa útil e desejável no mundo atual?
Tentarei voltar a esse assunto futuramente.
A palestra era significativamente intitulada de "hedonistic sustainability". O tema já era explicado em seu Yes is More, e o mais novo projeto deles a ilustrar o "pincípio" pode ser visto nestes slides aqui.
(não, esta foto aqui não foi na PUC. Meramente ilustrativa.)
Lendo seu livro e acessando seu site, dá pra ver que Bjarke é um cara que entende e explora como ninguém neste momento o potencial da mídia para a propaganda e divulgação da arquitetura. Eu há tempos tinha intuições de que uma característica forte deste seria fato de usar as mídias de maneira "popularizável", voltada a um público "middle-brow" e não um super-intelectualizado e especializado. Em uma palavra: um discurso voltado em muito para leigos interessados, alunos de arquitetura e jovens arquitetos.
A quantidade de alunos se acotovelando afoitos num auditório lotado me reforçou essa intuição. Não deixe que a cara de ator de Malhação engane: ele é muito inteligente e astuto.Com 36 anos, um escritório construindo coisas no mundo todo, uma história em quadrinhos arquitetônica cada vez mais popular e um trendy look entre o bem-vestido e o calculadamente desarrumado, Ingels me parece ter potencial para ser o mais jovem arquiteto pop-star já visto.
Além da PUC, nesta visita ao Brasil ele foi entrevistado pela GNT e pela revista AU.
Aqui a entrevista da AU:
(O mais gozado é ouvir ele falar que, quando começou o curso de arquitetura, queria na verdade ser quadrinhista. Pra mim faz todo sentido)
E aqui a entrevista do programa "Nos Trinques", da GNT. É um programa para super-descolados (curiosidade: o entrevistador, Guto, foi meu bixo lá em São Carlos). Percebam que o tom da entrevista já é já é mais panorâmica, rasante e um tanto fashion; uma introdução a "leigos interessados".
Algumas considerações:
1) Deve ser um saco ficar repetindo as mesmas explicações o tempo todo. No livro, na palestra, nas duas entrevistas, e em outras apresentações, vi várias coisas serem distas de novo e de novo.
Nisso, BIG se torna um escritório de slogans e punchlines; e sabe fazer isso muito bem.
2) Como vários escritórios internacionais, BIG deve estar com sérios planos de invasão aqui da Brasiléia, e parece que estamos a corroborar seus planos (ao menos em publicidade). Na palestra ele começou falando sobre Brasil, mostrou foto de suas visitas à favelas (ficou hospedado em uma anos atrás), falou destas como potencialidades arquitetônicas e que têm a melhor vista do Rio e por aí vai. Se ele conseguir aportar seus trabalhos por aqui, há riscos de que arquitetura fique mais pop do que nunca no país... ou não. Vamos ver.
3) Você assiste à apresentação dele admirado (ainda mais se, como eu, você estudar apresentações), e alguns edifícios parecem realmente empolgantes e bem-bolados. Porém, ao mesmo tempo, me gera muita desconfiaça o fato de suas explicações fazerem tudo parecer simples demais.
O ponto principal de desconfiança: basicamente, as principais argumentações de BIG se dão na forma se sínteses de oposições. Um exemplo é o mote básico do grupo:
"Historically the field of architecture has been dominated by two opposing extremes. On one side an avant-garde full of crazy ideas. Originating from philosophy,mysticism or a fascination of the formal potential of computer visualizations they are often so detached from reality that they fail to become something other than eccentric curiosities. On the other side there are well organized corporate consultants that build predictable and boring boxes of high standard. Architecture seems to be entrenched in two equally unfertile fronts: either naively utopian or petrifyingly pragmatic. We believe that there is a third way wedged in the nomansland between the diametrical opposites. Or in the small but very fertile overlap between the two. A pragmatic utopian architecture that takes on the creation of socially, economically and environmentally perfect places as a practical objective"Assim, grande parte das contradições que em tese guiariam a sociedade -- utópico versus pragmático, público versus privado, sustentabilidade versus conforto, ecologia versus economia, etc-- seriam, no fundo, resolvíveis pelo bom projeto... ou seja: no fundo, seriam "falsas contradições".
A questão é: será que não estamos falando aqui de "bonecos de palha"? Será que, astutamente, Bjarke não monta oposições relativamente caricatas para, por um lado, torná-las facilmente digeríveis paro público e, por outro, poder ele mesmo se posicionar e propagandear como grande desmistificador? (Esta, afinal, tem sido uma estratégia até usual ultimamente)
Essa última inquietação me desperta outro grupo de questões, mais sério que este. Não seria BIG, juntamente com muitos escritórios internacionais centrados em sustentabilidade, uma amostra de que estaríamos retomando fortemente uma espécie de "mito do design" característico do período modernista de até meados do século XX? O "design mudando a sociedade", só que agora na linguagem atual -- magnificado pela mobilização de mídias em apresentações impressionantes? Seria esta a forma que os arquitetos -- conscientes ou só subconscientes de praticarem uma profissão fundamentalmente frágil -- têm encontrado de colocar-se como alguma coisa útil e desejável no mundo atual?
Tentarei voltar a esse assunto futuramente.
segunda-feira, 9 de maio de 2011
sexta-feira, 6 de maio de 2011
Gilmar Mendes, herói das bibas!
Postado por
Marcílio, o gêmeo malvado
O dia de hoje certamente será lembrado por aqueles qe lutam pelos dirteitos civis no Brasil como uma data histórica. O reconhecimento da união estável dos gays pelo STF veio tarde, mas veio de forma unânime e dá início a um processo de inclusão efetiva dos gays brasileiros na categoria de cidadãos plenos.
É também um dia de muitos discursos bonitos e edificantes, e quem assisitu alguma coisinha da sessão deve ter se emocionado (ou ficado com medo do colapso da sociedade). Aparentemente é mais fácil discursar com vitórias garantidas, e a sessão de hoje era uma festa de vitória, na qual os dez ministros que votaram puderam colocar em prática toda a sua retórica. Não me atreverei a dizer coisas mais bonitas, acho que esgotaram as possibilidades, mas tenho algumas considerações:
Essa decisão era inevitável, não havia quem esperasse outro desfecho. Mas como o judiciário brasileiro nem sempre respeita o óbvio, e vez em quando nem mesmo quando este é "ululante", dá um certo alívio. Marco Aurélio Mello, por exemplo, que curte brincar com a nossa cara votando na divergência das coisas mais óbvias possíveis, não foi capaz de aprontar uma dessa vez. Ele faz por esporte, claro, mas o tema conseguiu impor nele algum limite.
O espectro conservador ficou esvaziado...cadê um Carlos Alberto Menezes Direito quando as leis de Deus precisam de proteção??? Dessa vez não compareceram
A causa gay e aqueles que lutam estão de parabéns. Vitória mesmo é quando se consegue algo assim:
Tá certo, vai...ele fala em "opção sexual", talvez ache mesmo que ser gay seja uma escolha maluca de gente que nasce depravada, promíscua e besta, como pensa Bolsonaro e os advogados da igreja católica que estiveram presentes e disseram coisas assim, mas deixa pra lá...o cara não tá acostumado a votar pró-gente. Eu ficarei muito feliz no dia em que acontecer algo assim:
Mas essa é uma discussão menos madura e que infelizmente já tomou sua porrada no STF. Voltando ao assunto, embora seja difícil acreditar que Gilmar Mendes se incomode com o que pensam dele, não acredito que sua vontade tenha sido contemplada na decisão.
Outra coisa que "embeleza" o fato de hoje é a relatoria de Carlos Ayres Britto, na minha opinião o ministro mais progressista do judiciário brasileiro nos últimos tempos, um herói nesse STF tão besta. Uma honra merecida por ele e pela causa.
Dentre os que fizeram o discurso pelo lado contrário, obviamente estava a igreja católica, numa triste, óbvia e tacanha demonstração de sua primitividade ideológica...os discursos foram de dar medo e muita vergonha. Óbvio que isso não é exclusividade da cúpula católica - de forma geral, as várias religiões do mundo disputam a tapa (literalmente) o monopólio do atraso de idéias.
Aliás, uma coisa que me passou pela cabeça muitas vezes hoje: porque diabos a igreja católica fala tanto em nome da família? A igreja é constituída, basicamente por caras que não constituem família...caras, aliás, que segundo um estudo da própria igreja alemã, tem uma propensão 10 vezes maior de cometerem abusos sexuais contra menores...tá descrito nesse post, com todas as fontes - prestem atenção que é bem sutil. Numa boa, não é estranho que essas pessoas detenham o monopólio da família? Que nos digam o que pode ser família ou não?
Mas pra colocar os pés no chão: com tudo isso, não se trata de ato heróico do STF. Os ministros não disputam eleições, raramente são questionados pela sociedade e são estáveis. Ademais, talvez role uma questão de orgulho internacional: a garantia de cidadania dos gays é uma tendência mundial e questão básica de direitos humanos...fica muito feio ser um dos últimos judiciários do mundo ocidental a reconhecer esses direitos. O mesmo raciocínio explica a unanimidade e os votos dos conservadores pelo reconhecimento das uniões civis gays.
É isso. Temos agora um país um pouco menos escroto com seus cidadãos. E quem quem teve que engolir isso...chuuuupa!!!
Minhas previsões para o futuro próximo: adoção por casal gay, fecundação entre gametas iguais, aborto por casal gay grávidos de feto de isogamético e é claro: permissão pesquisas científicas com embriões isogaméticos descartados por clínicas de reprodução assistida.
Assinar:
Postagens (Atom)