quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Wilbor: há 5 anos aclamado pela autocrítica, construindo a internet pra você!

Há exatos 5 anos, as 23:32 do dia 16 de setembro de 2005 nascia, ainda hospedado na UOL, o Wilbor.

A blogosfera é um universo que me atraiu cedo, tenho a impressão de que isso começou quando me toquei de que o boom de blogs nos EUA, que tratavam de banalidades à política, abria um espaço inédito, no qual qualquer pessoa podia brincar de jornalista/cronista/ensaísta/humorista.

Minha primeira experiência com blogs foi em 2004.  Sempre gostei de escrever, e ainda sem ter muita noção do "pra que servia um blog" ou mesmo sem conhecer muitos outros, resolvi criar um pra mim, o malfadado "Papo de Quintal", que durou 99 dias e rendeu 38 postagens (mais um dia e eu teria algo a comemorar por lá!).  Naquela época, fazer e manter um blog era uma tarefa um pouco enfadonha: as opções de postagem e formatação eram muito limitadas, de forma que todos os blogs eram visualmente muito parecidos.  Além disso, o fato de escrever o blog sozinho era um pouco chato e me obrigava a manter uma frequência de postagens incompatível com as minhas pretensões e com o tempo que tinha disponível - como curiosidade devo dizer que aquele blog foi criado no meio de uma crise terrível da minha hérnia de disco, o que me manteve em casa por muito tempo.

Dito isso, passo a falar especificamente deste blog, principalmente sobre como surgiu e como eu o vejo hoje.  Para fazer isso, acho importante explicar algumas coisas sobre a minha amizade com o Gabriel.

Conheço o meu co-blogger desde os 11 anos de idade, de forma que já fazem 20 anos.  Ambos somos filhos de professores de Geografia da UEM, e nos encontramos, pela primeira vez, num churrasco do departamento.  Gabriel não morava em Maringá, éramos "amigos de férias", e, crianças que éramos àquela época, as nossas reuniões serviam mais para brincar mesmo, eu e ele, minha irmã com a irmã dele.

Eu e o Gabriel tínhamos tudo para sermos apenas conhecidos, mas nessas primeiras férias dele em Maringá nos vimos um bocado, e nas visitas subsequentes sempre nos visitavámos, frequentemente também com a companhia do Roberto Kaz, outro amigo de longa data que também escreve - aliás, dizer que o Beto "também escreve" é pretensão nossa, já que o Beto é um jornalista brilhante, atualmente na Folha de São Paulo e com uma belíssima passagem pela revista Piauí.

Bem...apesar dessa condição de  amigos que se viam muito pouco, posso dizer que eu e o Gabriel crescemos juntos, e acho que ao longo desse tempo todo tivemos bastante influência um sobre o outro.  Devo muito de minha formação intelectual às nossas conversas.  Isso explica um pouco do tipo de humor que tempera o Wilbor.  Se há 20 anos nós nos encontrávamos para brincar, acho que dá pra dizer que hoje em dia isso ainda permanece...só deixamos de lado os brinquedos e videogames.

Meus encontros com o Gabriel seguem um certo padrão: nos cumprimentamos, contamos as novidades e passamos a conversar sobre qualquer assunto.  Às vezes a conversa entra de forma tão direta que nem passamos pelas novidades - Gabriel esteve aqui há poucas semanas e eu percebi que não conversamos quase nada sobre a viagem dele à Europa.  Fofocas e conhecidos em comum, asseguro aos senhores, são muito raros e jamais foram assunto principal, talvez com a exceção do Beto, por ter se tornado jornalista, e coincidentemente ter passagens pela Piauí e Folha, duas publicações que nós assinamos, fato que deixa a gente orgulhoso.  Alguns temas são mais frequentes, e acho que o conteúdo do nosso blog reflete muito disso: política, ciência, religião, música, literatura, fotografia, quadrinhos (e o Laerte como categoria onipresente).  Conclusão deste minuto: o rumo das nossas conversas poderia ser considerado muito anárquico, não fosse o Wilbor pra provar que existe algum padrão nisso tudo.

Ao longo de todo esse tempo de convívio intermitente, muitas idéias de projetos compartilhados surgiram, mas penso que para nós, o próprio exercício mental de pensar em paródias de coisas, apontar as esquisitices do nosso cotidiano e imaginar campanhas publicitárias fictícias já bastava, tanto que a imensa maioria dessas idéias sequer entraram no papel, que dirá sair dele.  Mas um dia qualquer, lá em 2005, numa dessas longas viagens, bolamos uma campanha contra o abuso infantil (Child Abuse) que tomou o resto da noite.  Não me lembro muito bem do processo criativo, mas a tinha a ver com as correntes de e-mails de auto-ajuda, as fotos de mãozonas de pais segurando pezinhos de bebês.  A memória do Gabriel é melhor que a minha, mas pode ter sido assim: alguém fez um comentário sobre esse tipo de foto "isso podia ser coisa de quem tem tara por pés...pés de crianças!"  Imaginamos uma série de imagens desse tipo, sempre essas fotos comoventes com o slogan acusatório "Child Abuse", e o arremate, pronunciado pelo Gabriel imitando uma apresentadora fictícia de telejornal norte-americana lésbica que lia "Just Don´t" - em alusão ao slogan da Nike.  Ao final deste processo a barriga do Gabriel certamente estava doendo, e nos ocorreu que podíamos ter um espaço virtual para desovar essas viagens todas.

"Child abuse" sempre será particularmente mais engraçado para nós, isso faz parte do tal "humor obscuro" que é mais claro pra gente por conta de uma cumplicidade que nos permite compreender qual é o twist que torna tal situação inusitada, ainda que eu pense que é um humor possível, embora limitado a um pequeno contingente.  Para mim, o mais engraçado dessas campanhas são os comentários - poucos, que se registre - de pessoas que apóiam as iniciativas.  Um dos posts em defesa dos golfinhos recebeu um comentário que me faz rir até hoje: "é isso aí Marcelo!! saiba que não estás sozinho nessa! parabéns pela iniciativa!!"

Esse blog tem, para mim, três funções básicas:

1) Serve como um espaço no qual eu desovo qualquer bobagem que resolva escrever; ou como divulgação e discussão de fatos que considero interessantes ou importantes.  Quem acompanha o blog com alguma regularidade sabe que a gente não costuma impor níveis muito altos de auto-censura.

2) É um canal de comunicação que tenho com esse velho amigo.  Boa parte das coisas que a gente escreve por aqui ou vieram de conversas prévias ou são posteriormente discutidas pessoalmente.

Há ainda uma terceira coisa que o Gabriel deve abordar no post dele sobre o blog - deixarei para comentar por lá.

Escrever no Wilbor tem sido uma experiência muito enriquecedora para mim.  Primeiro porque evita um enferrujamento total do hábito de escrever, o que considero muito importante.  Segundo, porque apesar da baixa auto-censura, sabemos que o que se escreve aqui se torna público, de forma que nos leva a imaginar o que as pessoas que lêem pensam a respeito do que foi escrito, o que força à prática da retórica.  Terceiro, porque escrever em co-autoria facilita muito o trabalho.

Esse blog adicionou uma nova seção nos encontros com o Gabriel - as "discussões de pauta".  O fato de ter uma outra pessoa postando apresenta duas grandes vantagens: evita que fiquemos na inércia completa e também faz com que a necessidade do ritmo de produção seja mais tranquilo.  Qualquer leitor que entre pela primeira vez no blog pode, ao invés de se mijar de ansiedade pela próxima postagem, ler as anteriores - até o momento são mais de 600 só no endereço novo.

Como todos os projetos que eu comecei na vida, a intenção deste é ter continuidade.  Fico muito satisfeito em ver que Wilbor não caiu na vala comum das "coisas que já fiz na vida" e está aí, firme e forte, depois de 5 anos.  Pode parecer pouco, mas considerando que a blogosfera começou pra valer em 2003, acho que podemos nos considerar pioneiros nesse meio.  Desde que começamos, passamos por algumas mudanças de forma, conteúdo e ferramentas de edição, inflacionamos a nossa aba lateral com uma infinidade de links - de vez em quando tem faxina - e penso que melhoramos também o material apresentado.  Tendo em vista que esse blog já poderia ter acabado em qualquer momento do passado e ainda está de pé, acho que é um projeto que ainda deva durar por bastante tempo.

Gostaria, por fim, de agradecer a todos que seguiram o Wilbor ao longo destes 5 anos - com menção honrosa para o Marcel, campeão de comentários por aqui, e responsável por alguns debates calorosos.  A gente sabe que as pessoas não costumam comentar, mas é muito legal quando isso acontece.  Esses dias reli quase o conteúdo todo do blog, incluindo o arquivo antigo, e percebi que a discussão mais longa que já ocorreu por aqui ocorreu em função de um dos posts mais curtos e despretensiosos da história do Wilbor, que está no final desta página.  O Marvin desapareceu pouco depois disso.

Bom, é isso aí.  Parabéns pra nóis!

11 comentários:

Grace B Alves disse...

Parabéns pelo Blog, gosto do conteúdo que publicam aqui, sempre que sai algo novo procuro dar uma olhadinha!

sandramilk disse...

Só posso dizer que fiquei com ciúmes do Marcel...

Mas quem manda ter preguiça de postar comentários ou ficar traumatizada quando eles são devorados pelas falhas mecânicas e não postados.....

O aniversário do Wilbor certamente contará com várias celebrações cearenses.

Espero ter um blog assim quando crescer....rsrsrsrsrs

Fã de carteirinha e de tietagem não posso deixar de dizer o quanto as discussões daqui me instigam, me fazem rir, me incomodam e às vezes acordam .

Adoro o viés do humor, da ironia e da provocação e da irreverência.

Adoro a diversidade de interesses e de fontes que abastecem o Wilbor.

Textos que sempre saio espalhando por aí mas isto de voltar a fonte e postar ainda não faz parte de nossa cultura.

Minha maior recente frustração foi ter perdido uma especialíssima reunião editorial em São Paulo deste blog.

O exercício da palavra sempre me fascinou e quando ele se faz a partir de duas mentes fertéis , abertas e livres, fica meio difícil de falar sobre.

Aproveitando da concepção do título do livro que estou lendo sobre o ator Paulo José, diria que este é um blog substantivo.

Com a substância da riqueza da palavra, da leitura, da inteligência, da ironia, da irreverência, da amizade, da cumplicidade.

Devo registrar que o Marcelo junto com o Wilbor me deu um outro presente para além da palavra escrita: poder partilhar um pouco desta pessoa especial que é o Gabriel (que ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente, mas que desde há muito mora em meu coração.)

Marcelo já sabe de seu lugar em minha vida. Mas é sempre bom agradecer a alguém que traz para a minha vida tanta riqueza de idéias, de amigos partilhados , de música, de lugares,de leituras, de olhares.

Pessoas raras. Amizade rara. Há que se preservar a amizade e o Wilbor para nosso deleite.

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Obrigado Grace e Milk!

Marcel disse...

Parabéns pelo blog!! É um dos poucos que sigo com afinco, não só por ambos os blogueiros serem amigos próximos e o Marcelo, eu considerar praticamente um irmão, mas pela extrema qualidade do blog e de seus textos e mais diversos posts.

Milk,

Não fica com ciúmes não. Por vezes, comento coisas sem pé nem cabeça por força do hábito que veio de tempos até mesmo antes do blog "Papo de Quintal", justamente nos papos de quintais na casa do Marcelo ao longo da faculdade e até pouco tempo atrás antes dele ir para Sampa.

Acho que, inclusive, deveria ter mais responsabilidade ao comentar no blog e refletir melhor antes de comentar para não "comentar" tanta asneira.
Mas é que é irresistível falar alguma coisa após ter acostumado a travar longos debates com o Marcelo no transcorrer dos anos, ora concordando, ora discordando e, algumas vezes, dando a deixa para ver a queda de braço entre o Marcelo e o Gabriel e algum debatedor desavisado...

Em suma, mais um parabéns pelo Blog e um grande abraço para os blogueiros responsáveis pelo Wilbor!!!

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Milk,

Agradeço as palavras mui elogiosas e pela divulgação do material postado aqui. Já a história do trauma do comentário engolido: já aconteceu com todos nós e o Marcel continua comentando...rsrsrs!! Pode ficar com ciúmes.

Beijos!

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Pronto, só faltava o comentário do Marcel para as comemorações ficarem completas. Aliás, falta mais uma coisa - apenas um detalhe - falta "só" o post do Gabriel e a prometida roupinha de festa do blog...calma, gajos!

Marcel, também acho que esse espaço funciona como prolongamento dos papos de quintal mesmo.

Agradeço pela fidelidade, continue comentando. Não se preocupe em pensar muito sobre o que escreve aqui. Como você sabe, boa parte do que a gente posta aqui não passa por um longo processo de reflexão - pelo contrário, muita coisa é fruto quase imediato de cervejas, cigarros e coisas do gênero.

Abração!

sandramilk disse...

Marcel querido,

Saudades de vc e da Priscilla...

Quanto aos ciúmes , que eles permaneçam e me tirem da preguiça de postar. Às vezes fico lendo e vou viajando , fazendo conexões e postar que é bom nada.

Você foi nos pontos certos do Wilbor:Qualidade, diversidade e amizade.

Concordo com o Marcelo: não pense sobre o que vai escrever. Guarde a emoção primeira, a primeira reação a provocação destas duas criaturas irreverentes. Senão deixa de ser o papo do quintal.

Fiquei pensando nas nossas conversas no quintal do Marcelo em Maringá. E de repente me veio a imagem hilária da plaquinha de tombamento (AQUI COMEÇOU O WILBOR) kkkkkkkk

Não abriremos a visitação. O famoso quintal permanece um espaço privilegiado para os amigos e agregados.

Lembrei que quando o Tchê chegou e me viu conversando com a Priscila, pensou que éramos amigas de longa data rsrsrsrssrs

Então o ciúme me rendeu um comentário seu, uma implicância do Marcelo e uma perseguição do blogger (que engoliu de novo meu comentário). Não confio mais nele e agora digito meu comentário num editor de texto. Salvo e depois tento postar para não morrer de raiva. Ele sempre engole meus comentários mais longos.

Vamos celebrar o Wilbor e esperar pelo post do Gabriel!!!!!!!

Gabriel G; disse...

Caraca! Agora tá todo mundo esperando "o post do Gabriel"... num era pra ter essa espectativa, não! :)

Pessoal, muito obrigado pelos elogios e felicitações. Milk, Marcel, é ótimo ter vocês de acompanhantes contínuos.
Desculpem demorar pra dar nptícias de vida aqui, mas nesses últimos dias não deu mesmo.

O Marcelo não deixou muita coisa sobrando pra eu falar no "meu" post (hehehe), mas logo farei alguns comentários -- assim que atualizar a cara do Wilbor para versão "comemorativa".

Abraços!

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Pô, não foi minha intenção esgotar o tema...rsrsrs!! Mas acho que você ainda tem o que falar, pelo menos pelo que me lembro de nossa última conversa.

Vou colocar uma enquete no blog, para que as pessoas apostem na data provável da publicação do teu post.

Abração!

Gabriel G; disse...

Ah, é, eu tinha esquecido. Sobre a história do Child Abuse:

Não era só uma apresentadora lésbica. A campanha imaginária tinha uma propaganda padrão curta com celebridades.
Eu imitei respectivamente a Julia Roberts e o Arnold Schwazenegger falando "child abuse: just don't".

(são daquelas imitações que só saem uma vez na vida. Se me pedirem pra fazer de novo, não vai ficar nem tão bom nem tão engraçado quanto o foi da primeira vez.)

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Hahahahaha!!! Caramba, não me lembrava mais da Julia Roberts!