sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Está valendo!

Estamos em fevereiro, mês em que se comemora de fato o carnaval no Brasil. O expediente está pra começar.

2010 tem tudo para ser um ano muito interessante do ponto de vista político: teremos as primeiras eleições depois de 8 anos do governo mais popular da história do Brasil., as primeiras sem o nome de Lula da minha vida. As eleições passadas foram capazes de gerar alguma emoção, por conta do frescor da crise do mensalão, e um medinho, ainda que pequeno, de que o sidekick de Serra fosse eleito. Agora o buraco é mais embaixo.

Lula deixará o governo com índices de aprovação superiores a 80% e recordes em todos os indicadores sociais e econômicos. Obviamente, tentará de todas as maneiras eleger a insossa Dilma como sua sucessora. Creio que a indicação de Dilma como candidata é o reflexo mais óbvio da crise de identidade que vive o PT.

De um lado, o governo tentará fazer desta uma eleição plebiscitária, comparando o atual governo com o anterior – campo de batalha no qual a vitória é praticamente certa. Serra, por outro lado, esperto que é, tenta com todas as forças fugir de tal armadilha, comparando a sua experiência com o currículo da ministra chefe da casa civil.

No campo da "simpatia" acredito que dá empate: tanto Serra quanto Dilma são tidos como antipáticos, frios e pouco carismáticos. Serra tenta comparar o seu currículo como administrador, contra a falta de experiência eleitoral de Dilma.

Acredito que ainda que consiga tal coisa – o que não será fácil devido ao apelo popular de Lula – Serra corre o risco de apostar em um fato que já se mostrou incapaz de derrotar o próprio Lula, quando este era também inexperiente. Fora isso, boa parte do que Serra tem para mostrar também faz parte de sua experiência como ministro da saúde, no governo FHC. Do ponto de vista administrativo, creio que o maior problema que o PSDB deverá enfrentar é a defesa de seus próprios governos.

O estado de São Paulo, maior e mais rico estado da federação, está sob a gestão tucana há quatro gestões. Nesse período, apesar do bom momento vivido pelo país nos últimos 7 anos e do fato de ter tido o governo federal como grande aliado na gestão FHC, o estado de São Paulo coleciona uma série de recordes negativos, dentre os quais se destacam os péssimos indicadores na área de educação.

O modelo de progressão continuada, já criticada em 2002, não tem-se mostrado um modelo capaz de fazer muito mais que a inclusão dos jovens mais carentes no sistema educacional (coisa que já era conquista do período tucano no governo federal). O estado tem se colocado nas piores posições nacionais em testes padronizados, tendo sido ultrapassado por estados com recursos infinitamente menores. Agora temos uma situação em que quase todo mundo está matriculado, e gente na oitava série que não é capaz de ler ou escrever.

O que é curioso nisso tudo é que, o tucanato, craque em atribuir o bom momento nacional à estabilidade econômica adquirida com o plano real, tem se mostrado incapaz de avançar no mesmo passo que o resto do país – repito – tendo o maior PIB do Brasil e 8 anos de governo federal a seu favor. Me parece incompetência mesmo: aparentemente os “vermelhos” do PT foram capazes de dançar ao som do capitalismo com muito mais eficiência que os neo-liberais.

Certamente não foi por falta de propaganda, levando-se em consideração que Serra tem batido, ano após ano, os recordes de gastos publicitários (não que o governo federal não faça a mesmo, mas parece estar sendo mais eficiente nisso também). Óbvio que o carisma de Lula é capaz de muita coisa, agora, é difícil pensar que crescimento econômico se consegue com sorrisos e churrasquinhos.

O engraçado de tudo isso, é que o maior nome do PSDB, o ex-presidente FHC começou, finalmente, a se sentir ofendido pela falta de moral dentro do próprio partido, que optou, nas duas últimas eleições, fugir da defesa de seu próprio governo. Serra em 2002 e Alckmin em 2006 buscaram se distanciar das “conquistas” do vaidoso FHC, e agora pagam o preço da hipocrisia a tentar tomar para si os méritos pelos programas de distrinuição de renda crescimento econômico.

Como resultado disso tudo, o ex-presidente escreveu, no último domingo, um artigo em que faz pesadas críticas ao atual governo – papel criticado mundo afora, onde geralmente ex-governantes buscam ser discretos em relação aos governos subsequentes. Mas tudo bem, é legítimo que FHC defenda seu legado em um momento que Lula e os fatos forçam a comparação entre os dois. Antes de um artigo coerente, FHC desferiu pauladas para todos os lados, em uma defesa rápida, impensada e em grande parte, mentirosa dos feitos de seu governo.

Mais engraçado ainda, é que essa defesa foi tão ridícula que nem a Folha de São Paulo engoliu. Publicou, no começo da semana um quadro intitulado “as meias verdades de FHC”. Acho que não são necessários comentários mais extensos aqui:


Assisti hoje às entrevistas de Lula e FHC ao programa "Hard Talk", da BBC de Londres, concedidas em 2007, início do segundo mandato de Lula. Fica clara a dor de cotovelo, do presidente mais qualificado intelectualmente que já tivemos, ao responder sobre os avanços conquistados por seu sucessor "ignorante". dentre outras coisas citadas, falou sobre a não-firmeza ética de Lula no episódio do mensalão, e quando perguntado sobre os escândalos em seu governo (e não se enganem, foram muitas denúncias arquivadas pelo então procurador geral da República, Geraldo Brindeiro, o engavetador geral da república, citado desta forma pelo entrevistador inglês).

Isso pra não mencionar o golpe constitucional da reeleição.

A coisa começou.


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2 comentários:

Marcel disse...

É realmente... o FHC perdeu a total chance de ficar quieto e se portar mais dignamente. Paciência...
O Lula realmente conseguiu uma desenvoltura muito maior para o país e também não acho que se consiga isso apenas deixando como está.
Claro que acho que houve problemas éticos e legais no mandato do Lula, mas cada coisa é uma coisa.
Outro ponto a ser visto, é que no governo do FHC nem a Policia Federal, nem a Procuradoria da República se moviam.
Ainda, os lances de problemas internos das instituições que apareceram, demonstram uma capacidade de fortalecimento das mesmas, vez que tanto a PF, como a ABIN passaram por escândalos e se mantiveram intactas, apenas com pequenas alterações.
Algum tempo atrás talvez fosse necessário uma intervenção centralizadora (potencialmente militar) das instituições de Direito com muita força e pouca inteligência e eficiência, dando uma aparência de segurança jurídica, mas que na prática só se restabeleceria a tênue linha das fracas instituições até o próximo escândalo.
Dessa feita, sendo um tanto funcionalista (apesar de minha orientação tender a uma esquerda moderada), quer dizer que as próprias instituições se "curaram" o que é muito bom do ponto de vista do status quo do Estado Democrático de Direito.
Na época do FHC simplesmente varreria-se para debaixo do tapete.
Eis mais uma mudança sob a tutela do governo Lula.
Ademais, apesar de pessoalmente não gostar da postura do então presidente do STF Gilmar Mendes, houve um fortalecimento do Supremo e uma atuação mais efetiva, o que demonstra maior certeza de democracia, já que o maior guardião da Constituição da República é o próprio STF. Assim, do ponto de vista social-jurídico-democrático, ótimo, vez que a atual Constituição por si possui o alcunha de Constituição Cidadã e o fortalecimento de seu maior bastião e das demais instituições em si consignadas implica em uma solidez na democracia (nesse funcionalismo-positivista e tome Comte e Durkhein).
O Lula, não só conseguiu lidar, obviamente dentro da realidade com um verdadeiro PACTO SOCIAL que deixaria o sonhador-prático Rousseau feliz da vida, como o teórico-recluso Voltaire muito contente.
Obviamente, Lula é mais que uma continuidade desmiolada do tucanato, ele conseguiu trabalhar com as instituições aperfeiçoando-as e, querendo ou não, fortaleceu a democracia, mesmo com os esbarrões éticos-morais-legais que ousou cometer.
O que, sendo extremamente filosófico com uma pitada budista, é muito bom, pois se dependêssemos novamente de um salvador, recairíamos na necessidade de uma super homem de Nietzsche. E o último que acreditou em algo parecido institui o super autoritarismo e tentou dizimar os judeus.
Além de que, mais uma demonstração, de que, finalmente, as instituições democráticas estão ficando maduras no Brasil, visto que já dizia Bertolt Brecht: "Infeliz as Nações que Precisam de Heróis".

Marcel disse...

Na seguinte parte do comentário:

"O Lula, não só conseguiu lidar, obviamente dentro da realidade com um verdadeiro PACTO SOCIAL que deixaria o sonhador-prático Rousseau feliz da vida, como o teórico-recluso Voltaire muito contente."

Faltou complementar o seguinte (ficou sem sentido).

...como também fortaleceu as instituições democráticas.