quarta-feira, 10 de junho de 2009

Sim ou não Simonal

Neste fim de semana, fui ver o documentário sobre o Simonal "Ninguém sabe o duro que dei". Achei muito legal. O filme possuía cenas muito bonitas, e informações interessantes. Em grande parte, foi legal porque eu não sabia praticamente nada sobre quem era o Simonal.

Algumas coisas no documentário me incomodavam, porém. Não sabia dizer o que, exatamente. Mas tinha vagamente a ver com a sedutora lente de distorção da nostalgia.

Minha impressão final saindo do cinema: Simonal sofreu um bocado antes e depois do sucesso, era charmoso e extremamente talentoso, mas também consideravelmente burro (coisa que, com a típica boa-vontade que se tem na relação nostálgica com os mortos sofridos, os entrevistados chamaram de "inocência"). Um grande cantor, enterteiner de massas, homem da TV e personalidade forte, que se ferrou em grande parte por, deslumbrado com o sucesso, só querer saber do seu próprio umbigo.
Pra quem achar que sou insensível ao sofrimento e injustiça real feitos ao cantor -- que não era, afinal, cagüeta da ditadura -- digo sinceramente: quanquer um que manda "amigos" espancarem alguém, pelo motivo que seja, não merece a minha pena.

Mas há também uma parte importante da história que o filme não comenta, preferindo se focar na injustiça da campanha difamatória dos jornais e do Pasquim (que, como se sabe, era lido por todo mundo...) : a incapacidade de Simonal de se reinventar musicalmente. Por melhor que fosse, Simonal de certa forma era o que hoje chamamos de POP, e não conseguiu ser muito mais que isso. Isso num momento em que já tínhamos "pops" da estatura de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Ben...

Essa última questão ficou mais clara pra mim ao ler este texto aqui, Rebulding Simonal dita(brand): ninguém sabe à ditadura o que dei. E nesse texto eu entendi o que me incomodou no filme.
Ao contrário do autor do texto, eu de início achei que o filme deu sim espaço considerável para um julgamento pesado sobre Simonal ao entrevistar o ex-contador que foi (supostamente) torturado meio que a pedido dele.
Aliás, dá pra escrever um artigo inteiro sobre ditadura e as peculiares relações brasileiras entre público e privado a partir dessa historinha! Soldados da polícia militar que a "pedido de amigo" levam alguém clandestinamente -- pela porta dos fundos e sem acusação formal-- para um órgão oficial --DOPS -- para extrair uma confissão oficial?

Mas lendo o texto citado acima eu me dei conta: ôpa, será que esse filme foi feito pra mim ou pra fazer a cabeça de outros?
Qual seria o impacto do filme sobre alguém que acredita, afinal, na "ditabranda"? O que significa todo esse jabazão da globo lá no documentário (pra que entrevistar o Boni???) ?

E, em especial: o que ele significa na atual mania da grande imprensa (leia-se a Falha de S. Paulo) em "diminuir" a "suposta violência" da ditadura? E diante da inclinação -- ignorante ou invejosa mesmo-- de muitos hoje em dia em reclamar do sucesso que artistas anti-ditadura tiveram ou de nhénhénhézar a respeito do Ziraldo (entrevistado no filme) receber uma bolada por ter sido censurado durante a ditadura?

Não acho tampouco que esse documentário foi feito para esse pessoal do nhénhénhé, mas passei a gostar menos dele.

Anyway: recomendo o filme e o texto linkado.


Bookmark and Share

Nenhum comentário: