quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mais um momento materialista e dialético


O Estado, diria Gramsci, é “mais ou menos aquilo que o Foucault vai dizer daqui a algumas décadas sem me dar o devido crédito por ter dito isso primeiro, careca miserável”. Não é só o que o Hegel chamava de sociedade política, o Estadinho lá, com seu congressinho, seu presidentinho, sua policinha, capitão Nascimento, Sarney, essas coisas. É isso também, bem entendido. Mas também é a articulação disso tudo com a sociedade civil, a escola e as academias que elaboram e desenvolvem a visão de mundo dominante, o saber assim produzido, os sindicatos reformistas e partidos social-democratas que mantém o conflito sob controle, a mídia que fixa os limites do debate, a família que transmite os valores dominantes e consagra hierarquias, etc. Se você conquista o Estado czarista, você caia ele de vermelho e os burocratas que obedeciam o czar obedecem você. Mas de nada adianta conseguir uma adesão puramente externa (quem é que era contra o Stalin na frente dele?) em termos de ideologia, sentimentos, valores, saberes. Ou você consegue convencer, sensibilizar, justificar-se, descrever a realidade, ou você, cedo ou tarde, ao invés de impor sua visão de mundo, vai ser lentamente colonizado pelos dominantes conquistados.

Vi a referência para esse excelente texto sobre Estado, poder e o conceito de Hegemonia em Gramsci no blog do Idelber Aguiar. O texto inteiro está no Blog Na prática a teoria é outra. Vale MUITO a pena: claro, direto e simples ao explicar várias coisas cabeludas.

Claro, não falo isso na condição de entendido que julga (pois entendo pouquíssimo), mas na condição de leitor que de repente entendeu melhor um monte de coisas (ou assim o acha).

O interessante é que a primeira vez que ouvi falar insistentemente de Gramsci foi pelas paranóias de um ídolo dos neo-direitecas, e só agora, anos depois, é que vi -- também na web -- alguma explicação boa sobre o assunto.


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4 comentários:

Marcel disse...

Bem, sei que parece besteira, mas como dizem que dizia o sábio: "O que é, é, porque se não fosse não era"... E o texto é exatamente isso, é o que é, atingindo mesmo um ultra realismo...
Salve, salve a dialética!!!...

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Li recentemente um texto interessantíssimo de Gramsci: "os intelectuais e a organização da cultura"...também desses que nos explica um monte de coisas e deixa as dúvidas de que porque as coisas continuam do mesmo jeito quando já sabemos, muitas vezes, o que fazer?

Unknown disse...

Gabriel, devia ter te dado "Dialética do esclarecimento" e a "dialética negativa". Creio que irias gostar bastante, pois tem a ver com aquilo que conversamos lá pizzaria. :). tem um livro também muito bom (que não tem tradução para o português) chamado "Karl Marx's theory of history" de Gerald Cohen. :)

Gabriel G; disse...

Opa! Valeu, Thales. Eu gosto dos frankfurtianos, e tenho vergonha de dizer que nunca li o "dialética do esclarescimento" inteiro, só o famigerado capítulo sobre "indústria cultural"...
Eu acho que já li um capítulo do "dialética negativa" há uns anos atrás... mas posso estar confundido e só ter lido mesmo parte do "teoria crítica" do Horkheimer.

Esse do Cohen, coincidetemente, eu ouvi falar recentemente... vou checar. Preciso me re-teorizar.