segunda-feira, 27 de outubro de 2008

educação sensorial

É bom ter amigos sofisticados.


Meu companheiro de blog, por exemplo, tem sido para mim promotor de constantes experiências no campo do paladar. E é sobre isso que este post fala.

Mas fique bem claro para quem ler então que não sou nenhum connoisseur; qualquer entendido pode com razão julgar pueris minhas considerações abaixo. Mas são palavras que, essencialmente, tentam manifestar e elaborar uma experiência estética real.


***


Tenho uma história de relativa distância ao álcool. Não tanto pela ojeriza à embriaguez, mas por uma questão de paladar — o meu ainda é consideravelmente imaturo. Embora tenha sofrido consistentes avanços há anos. Já há algum tempo, por exemplo, consigo apreciar sinceramente vinhos. E comecei desde os vinte e dois anos a ter certo prazer naquilo que odiei a adolescência inteira, enquanto meus companheiros etários se esforçavam em conseguir mais e mais: a cerveja.

Mas não sou um apreciador de cerveja – nem ao menos um consumidor de cerveja. Bebo pouquíssimo, meu prazer genuíno se vai em 1 copo e exige bom tempo para retornar – isso se a cerveja for boa. Sou capaz apenas de acompanhar socialmente uma roda “brejera” durante um tempo.


O marcelo e meu pai, por outro lado, já expandiram várias vezes minha compreensão de cerveja, trazendo-me variedades encorpadas e mais instigantes.

O último capítulo dessa minha educação foi talvez o mais interessante: Marcelo me apareceu com uma garrafa de cerâmica com rolha. Disse que era uma cerveja holandesa produzida em mosteiros Trapistas. Serviu dois copos cheios de âmbar e bebeu comigo.






O que dizer a respeito? Bom, houve certa vez aqui no Wilbor uma propaganda de brincadeira do Marcelo: “Colgate 5-D: uma nova dimensão de refrescância... seus dentes mais brancos... em dimensões que você nem conhece!"

Cito esta piada porque ela ajuda a expressar razoavelemente a minha impressão ao tomar pela primeira vez a cerveja Quadrupel.


Me senti como se tivesse encontrado a maldita CERVEJA PENTADIMENSIONAL.

Numa garrafa com rolha.




Basta dizer que depois de tomar a holandesa de rolha, todas as cervejas do dia-a-dia passaram a me parecer esquemáticas. Rasas, bidimensionais, monocromáticas. Havia um escala cromática inteira naquela coisa de monges. Embora seja um confesso ignorante, afirmo convictamente que era A bebida mais “volumétrica” e nuançada que já tomei. A quantidade de sabores dentro daquilo... em nenhum momento dava pra esquecer que se tratava de uma bebida feita com grãos — e milhares de grãos.


Finalmente compreendi -- e compreendi mesmo, não como uma noção intelectual, mas como experiência palpável -- como há quem beba cerveja quente. Porque eu tomei essa cerveja âmbar quente (meu pai a pôs na geladeira, mas não deu tempo de esfriar muito). E adorei.



Essa cerveja, enfim, toruxe um mundo todo de sutilezas desconhecidas. Abriu um campo novo ao meu paladar, ampliou enormemente toda a minha concepção ou mesmo imaginação do que uma cerveja seria ou do que pudesse vir a ser.


Não tenho ainda uma classificação para essa experiência que não estética.


Valeu, Marcelo!

8 comentários:

Unknown disse...

Cara... assim me deu vontade até de tomar cerveja!

Unknown disse...

cara... não é porque eu seja careta, mas é que cerveja não desce não... da mesma forma que tu, meu paladar ainda não é suficiente preparado para tomar ceveja (apesar de adorar vinho e até uma boa cachaça)...

Unknown disse...

:D

Gabriel G; disse...

Thales, essa quadrupel eu recomendo pra nós que não tomamos cerveja. Se bem que ela é tão cara que nem dá tempo de enjoar: só dá pra tomar um pouco mesmo, hehehe...

Olha, embora não beba cerveja, eu também aprecio uma cachaça!
(Mas simplesmente "aprecio": não consigo "beber" de verdade. Ainda. Mas confio que um dia chego lá!)

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Sempre às ordens! Essa é muito boa mesmo.

Anônimo disse...

Fiquei morrendo de vontade de provar.....O gosto do rapaz que sugeriu é indiscutível.... Mas o texto é saborosamente inspirado....

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

E o rapaz do texto é igualmente "saborosamente inspirador"...rsrsrs!!!

Aliás, preciso dar créditos aqui para uma outra prima querida, a Flávia...Ceará é coisa boa de se beber!

Unknown disse...

Gabriovaldo que só aprecia cachaça,talvez mereça uma pequena coleção para provocar uma aceleração neste paladar gustativo e olfativo de nossas celebres e por vezes pueris cachaças... Aquelas de fundo de quintal produzidas a moda antiga com os secretos temperos de quem as produz por prazer e por herança cultural.....