Estive em Minas na última semana, numa das viagens da Geografia. Dessa vez visitamos Ouro Preto, Mariana, São João Del Rey, Tiradentes e Poços de Caldas.
Acho que entrei em mais igrejas do que tinha entrado antes em toda a minha vida. Acho que também deixei mais dinheiro nas igrejas do que tinha deixado em toda a minha vida...justificável, afinal, são as taxas de manutenção de um patrimônio histórico-cultural de valor incalculável.
Uma das coisas mais impressionantes que ouvi nessa viagem foram as histórias da escravidão naquela região. Os guias, invariavelmente negros, contavam várias histórias de como os escravos eram coagidos a trabalhar e não fugir - prisão e tortura dos pais ou filhos, armadilhas daquele tipo de pegar pé de urso, vários instrumentos de tortura, algemas, grilhões, pelourinhos...
Impressiona, porém, o fato de que as senzalas em Ouro Preto ficavam nos porões dos casarões. Explica-se: Ouro Preto é uma cidade serrana, com temperaturas amenas durante as noites/madrugadas. Os negros ficavam em grande quantidade nesses espaços diminutos, e o calor gerado pelos seus corpos acabava por aquecer os cômodos do casarão acima.
Essa, entre outras histórias, me fez repensar a questão da dívida histórica que o país tem com essa enorme parcela da população.
Nós a temos.
Igrejas em Mariana-MG. A quantidade de igrejas nessas cidades históricas de Minas é explicada pela competição entre as famílias ricas, que buscavam demonstrar sua pujança econômica construindo templos cada vez mais suntuosos e cheios de ouro. Bem no meio das duas, o pelourinho da cidade.
Não costumo fazer isso, mas resolvi usar de leve esse espaço para discutir um pouco do que eu tenho feito em fotografia...
Na semana passada eu fui convidado a publicar duas fotografias minhas numa revista editada por brasileiros na Inglaterra, a Jungle Drums Magazine. Faz muito bem pro ego, especialmente porque as minhas pretensões como fotógrafo são um tanto modestas. No ano que vem, provavelmente sai uma exposição minha no Museu da Bacia do Paraná - ainda não decidi se faço uma seleção das que eu julgo melhores ou se faço uma mostra das fotos tiradas nas viagens da geografia.
Aqui vão algumas que já estão escolhidas...como sempre, cliquem para vê-las num tamanho razoável.
Meu companheiro de blog, por exemplo, tem sido para mim promotor de constantes experiências no campo do paladar. E é sobre isso que este post fala.
Mas fique bem claro para quem ler então que não sou nenhum connoisseur; qualquer entendido pode com razão julgar pueris minhas considerações abaixo. Mas são palavras que, essencialmente, tentam manifestar e elaborar uma experiência estética real.
***
Tenho uma história de relativa distância ao álcool. Não tanto pela ojeriza à embriaguez, mas por uma questão de paladar — o meu ainda é consideravelmente imaturo. Embora tenha sofrido consistentes avanços há anos. Já há algum tempo, por exemplo, consigo apreciar sinceramente vinhos. E comecei desde os vinte e dois anos a ter certo prazer naquilo que odiei a adolescência inteira, enquanto meus companheiros etários se esforçavam em conseguir mais e mais: a cerveja.
Mas não sou um apreciador de cerveja – nem ao menos um consumidor de cerveja. Bebo pouquíssimo, meu prazer genuíno se vai em 1 copo e exige bom tempo para retornar – isso se a cerveja for boa. Sou capaz apenas de acompanhar socialmente uma roda “brejera” durante um tempo.
O marcelo e meu pai, por outro lado, já expandiram várias vezes minha compreensão de cerveja, trazendo-me variedades encorpadas e mais instigantes.
O último capítulo dessa minha educação foi talvez o mais interessante: Marcelo me apareceu com uma garrafa de cerâmica com rolha. Disse que era uma cerveja holandesa produzida em mosteiros Trapistas. Serviu dois copos cheios de âmbar e bebeu comigo.
O que dizer a respeito? Bom, houve certa vez aqui no Wilbor uma propaganda de brincadeira do Marcelo: “Colgate 5-D: uma nova dimensão de refrescância... seus dentes mais brancos... em dimensões que você nem conhece!"
Cito esta piada porque ela ajuda a expressar razoavelemente a minha impressão ao tomar pela primeira vez a cerveja Quadrupel.
Me senti como se tivesse encontrado a maldita CERVEJA PENTADIMENSIONAL.
Numa garrafa com rolha.
Basta dizer que depois de tomar a holandesa de rolha, todas as cervejas do dia-a-dia passaram a me parecer esquemáticas. Rasas, bidimensionais, monocromáticas. Havia um escala cromática inteira naquela coisa de monges. Embora seja um confesso ignorante, afirmo convictamente que era A bebida mais “volumétrica” e nuançada que já tomei. A quantidade de sabores dentro daquilo... em nenhum momento dava pra esquecer que se tratava de uma bebida feita com grãos — e milhares de grãos.
Finalmente compreendi -- e compreendi mesmo, não como uma noção intelectual, mas como experiência palpável -- como há quem beba cerveja quente. Porque eu tomei essa cerveja âmbar quente (meu pai a pôs na geladeira, mas não deu tempo de esfriar muito). E adorei.
Essa cerveja, enfim, toruxe um mundo todo de sutilezas desconhecidas. Abriu um campo novo ao meu paladar, ampliou enormemente toda a minha concepção ou mesmo imaginação do que uma cerveja seria ou do que pudesse vir a ser.
Não tenho ainda uma classificação para essa experiência que não estética.
A internet é um livro aberto de nomes estranhos e acasos bizarros.
Caí numa página em que uma certa estudante de artes visuais e cerâmica apresenta seu perfil para emprego. Ela termina de forma enigmática:
"Busco Trabajo preferentemente idóneo, pero mi búsqueda está orientada abiertamente."
Com ESTE NOME, ainda bem que a moça em questão está procurando seu trabalho idôneo na Argentina e não no Brasil.
domingo, 19 de outubro de 2008
Postado por
Gabriel G;
Vou fazer o ato horrível de tagarelar antes de mostrar.
O texto abaixo é de um cara chamado Neto, publicado blog Updaters, e eu li no blog do Marcelo Tas (a primeira vez que entrei lá, e gostei)
Ele de certa forma trabalha com clichês. Mais especificamente, ecoa para mim o clichê do Slideshow "edificante" ou "emocionante", e me interessa por ser a primeira vez que vi uma referência a isso. (Esses vagalhões de "ppts f:fwd" que abundam na web, ainda que tenham por vezes me proporcionado o contato com curiosidades muito interessantes, podem ser em sua grande massa considerados sem reservas um mar de pieguice, preconceito e mau design.)
Mas o que me chamou atenção no texto abaixo é o fato de eu não ter pensado ainda sobre o aspecto que ele aponta. Enfim, uma dessas verdades óbvias que eu não havia parado para considerar desde que essa tar de "crise" começou.
Está preparado? É comum, você já viu essas imagens antes.
Quem sabe até já se acostumou com elas.
Começa com aquelas crianças famintas da África.
Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele.
Aquelas com moscas nos olhos.
Os slides se sucedem.
Êxodos de populações inteiras.
Gente faminta.
Gente pobre.
Gente sem futuro.
Durante décadas, vimos essas imagens.
No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.
Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.
São imagens de miséria que comovem.
São imagens que criam plataformas de governo.
Criam ONGs.
Criam entidades.
Criam movimentos sociais.
A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza.
Ano após ano, discutiu-se o que fazer.
Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.
Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo.
Resolver, capicce?
Extinguir.
Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta.
Não sei como calcularam este número.
Mas digamos que esteja subestimado.
Digamos que seja o dobro.
Ou o triplo.
Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.
Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.
Não houve documentário, ong, lobby ou pressão que resolvesse.
Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia.
Nunca pensei que a primeira vez que meu nome aparecesse em um convite seria por ter feito apenas o letreiramento e baloneamento de uma HQ... hurra!
(infelizmente, fizeram uma nova versão do convite com o devido circunflexo no sobrenome do Bruno e SEM o meu nome. Mas esta aqui fica no blog como manifesto...)
Em primeiro lugar, fazemos os nossos sinceros votos de saúde, paz e harmonia em seus lares e também no trabalho. Desculpe por tomar o precioso tempo dos senhores consumidores, trazendo mais um incômodo com a leitura desta humilde cartinha, sabemos que o dia-a-dia não é fácil, sempre muito corrido e atarefado. Mas pedimos a gentileza, de fazer uma forcinha para ler nossa mensagem. Muito obrigado.
Sinceramente, agradecemos pela incansável cooperação de muitos anos, não sabemos como agradecer aos senhores consumidores amigos, que foram muito pacientes em nos ajudar e não foi apenas por uma ou duas vezes, foram inúmeras as ocasiões que pudemos contar com o precioso apoio dos senhores.
Graças aos muitos milagres que os senhores consumidores amigos fizeram para nós, estamos chegando aos 57 anos de existência, sabemos que não pé fácil dar o mesmo apoio durante tanto tempo, por essa razão somos eternamente gratos. Muitíssimo obrigado. Assim, procuramos sempre fazer o maior esforço possível e obedecer ao nosso lema: “Amor, Carinho e Dedicação — Procurando Cumprir Obrigação”. Sabemos que talvez os nossos produtos ainda não estejam à altura do merecimento dos senhores consumidores, mas se puderem nos perdoar e comprar os produtos Panco, ficaremos muito agradecidos.
Manteremos a luta de sempre e esperamos que continuem enviando as cartinhas ou falando com nossa central de atendimento, para que possamos sempre melhorar os nossos produtos e satisfazer cada vez mais os nossos consumidores amigos.
Nesses quase 57 anos, desde a fundação, os senhores consumidores sempre foram incansáveis em nos ajudar, ficamos até envergonhados de sempre estarmos pedindo, mas quem seria a Panco sem os senhores consumidores.
Continuaremos sempre rezando para os senhores consumidores amigos, para a saúde e o bem-estar da família.
Muitíssimo obrigado.
Deus lhe pague.
FKY
Não sei de vocês: mas pra mim é nítida a imagem de um velhinho japonês escrevendo essa carta. Taí algo que eu nunca ia esperar ler de manhã no verso de uma embalagem de bisnagas.
SE pararmos pra pensar, uma das coisas ambivalentemente interessantes de ser professor é ser surpreendido pelas idéias ou criações mais inesperadas. Mas algumas são mais inesperadas que outras.
Imagine SE você, como banca de uma seleção para a vaga de professor, numa prova escrita sobre composição plástica, tem que se digladiar com um texto que não só é enrolação, mas uma enrolação de duas páginas com palavras bonitas e que não significam ABSOLUTAMENTE NADA.
SE pensarmos um pouco a respeito, veremos que não é um caso qualquer. É um primor da enbromação. E é um caso perigoso, pois vai ter gente que, por ignorância, vai sentir-se tentada a respeitar o autor pelo simples fato de não entender o que este diz.
Enfim, imagine SE você tivesse que avaliar um texto que acaba assim:
"SE, numa dobra do espaço, o tempo se fizesse suficiente para que uma configuração com sólidos fosse composta dentro da perfeição e a arte pudesse miscigenar o dinâmico e o estático, a partir de um ponto relativo, nosso conhecimento seria fundo para nossa imaginação que, respaldados pelo tempo, transformaria um simples sólido, amorfo, estático e inanimado em arte."
(infelizmente, eu não fiquei com o trecho que fazia referência a "composições com sólidos" provocando "emoções, sensações, orgasmos"...)