quinta-feira, 15 de maio de 2008

cagada

Grande cagada do Lula a demissão de Marina Silva.

Vai-se embora uma das últimas grandes figuras do PT. Marina Silva é sem sombra de dúvida o maior nome que temos se queremos lutar pela preservação da Amazônia. Mas o governo precisou optar entre os interesses dos ruralistas, industriais, neoliberais e a defesa do meio ambiente (que diga-se de passagem, não tem nada de pouco importante).

Da mesma maneira, por incompatibilidade de interesses e visível falta de ousadia, o governo Lula perdeu Cristovam Buarque ainda no comecinho do primeiro mandato. Ainda que o senador tenha feito uma questionável defesa do reitor da UnB, na época não tinha ninguém dentro do PT mais qualificado que ele.

Infelizmente as áreas nas quais esse governo mais peca são aquelas em que todos nós tínhamos esperança de ver alguma mudança com Lula no poder.



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4 comentários:

Anônimo disse...

Talvez...

Tudo o que foi postado pelo Marcelo faz o maior sentido, mas "há males que vêm para o bem", como diz o ditado. Isto pois, com a saída de Marina Silva, tão bem quista lá fora, talvez a pressão internacional sobre o controle do desmatamento na Amazônia aumente, fazendo com que o governo brasileiro se empenhe mais para preservar o verde. Inclusive, o referido assunto está em pauta, de grande relevância, diga-se de passagem, na 9ª Conferência das Partes da Convenção sobre a Diversidade Biológica (COP) que ocorre entre os dias 19 e 30 na Alemanha (a última havia sido realizado em Curitiba-PR em 2006, salvo engano), contando com a presença do governador do PR, Sr. Requião.
Não obstante, o Novo Ministro Carlos Minc parece seguir a mesma linha de Marina Silva, o que pode ser bom se ele conseguir costurar mais alianças políticas...
Ainda tem o fato de a Premiê alemã Ângela Merkel cobrar do Brasil postura na preservação ambiental como condição para assinar acordo de biocombustíveis com o Brasil.
Assim, pode ser que se veja no Brasil em relação a preservação ambiental, o que aconteceu com a Inglaterra ao decretar os "Atos de Navegação" em 1651, obrigando a todos os produtos estrangeiros que chegassem a Inglaterra serem transportados por navios ingleses, fazendo um tratamento de choque na industria naval inglesa até então insipiente, o que a transformou a Inglaterra em uma das marinhas mais fortes do mundo...
Contudo, pode ser que Caetano Veloso tenha razão ao dizer: "...Ou não!"

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Esse meu post merecia ser muito mais longo, mas ontem à noite eu estava extremamente cansado, escrevi essas poucas linhas pra não deixar passar o fato, que me incomodou demais.

Sim Marcel, há "males que vem pro bem"...mas há males que vem em decorrência de estratégias políticas. A Marina vinha sendo isolada pelo planalto há muito tempo, e se teremos as hidrelétricas do Madeira com turbinas menos impactantes, expansão das unidades de conservação, redução do volume da transposição do São Francisco entre outros avanços, devemos ao fato de que a Marina é arretada.

O Minc é qualificado, pessoalmente gosto dele. Conheço mais como geógrafo e ambientalista urbano do que como defensor da Amazônia. O problema é que o MInc entra como um cara que certamente vai conceder os carimbos para a Dilma com muito mais facilidade. Veja bem: mesmo a Marina sendo uma militante ambiental super forte, não conseguiu evitar que todas as obras mencionadas acima fossem realizadas. Não fosse ela mais forte certamente os danos seriam muito maiores.

Só para ter noção da diferença entre os dois, a primeira notícia que a Folha veiculou sobre o Minc como ministro foi a seguinte:

"Minc licenciou obras em tempo recorde"

o subtítulo:

"Em um ano, secretaria comandada por ele no Rio emitiu o mesmo número de licenças que nos três anos anteriores"

e o segundo subtítulo:

"Complexo petroquímico de US$ 8,4 bilhões que a Petrobras vai fazer perto de manguezal foi autorizado seis meses após estudo "

Bem...uma coisa é desburocratizar os procedimentos, outra é acelerar prazos irresponsavelmente por conta de pressões.

Os prazos de estudos de viabilidade ambiental são longos em parte pela burocracia, mas também porque são estudos muito complexos. Há experimentos, por exemplo, de conaminação dos mananciais hídricos que levam meses para ser concluídos, análises químicas, compilação e organização de dados e o mais importante e demorado: essa coleção de dados precisa ser analisada e interpretada com muito cuidado.

Infelizmente a discussão acerca do meio ambiente é extremamente desqualificada, pois a imprensa, como todos sabemos, serve aos interesses de uns poucos. 6 meses para uma licença ambiental de um complexo petroquímico não me parece razoável, mas estamos falando da Petrobrás.

Por outro lado, há quanto tempo estão enroladas as concessões do Madeira? Há quanto tempo está enrolada a transposição do São Francisco? Palmas para a Marina.

Outra discussão que eu pretendo colocar aqui é a respeito dos biocombustíveis, mas estou esperando receber dados do professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, da USP. O cara proferiu uma palestra nada menos que brilhante anteontem, dessas que quebram muitos paradigmas. Posso dizer que o cara me abriu os olhos para muita coisa, especialmente para os riscos dessa política de massificação dos biocombustíveis, talvez a maior falácia do governoi Lula. E que fique claro que a Angela Merkel sabe muito bem quais são as consequências de comprar álcool brasileiro (sim, menos impactante que o de milho, pero no mucho). Mas o problema inicial fica no Brasil, bastante longe de Berlim.

No final das contas, reitero o que eu disse antes: a demissão da Marina é uma das maiores cagadas do Lula. E é cagada não no sentido de que ele não sabe onde está se metendo...cagada são as consequências. O ato em sim, é trairagem das bravas com o país, é irresponsabilidade, é vender a alma para o diabo dos Ronaldos Caiados e Blairos Maggis da vida.


Infelizmente.




P.S. Todos sabem que eu acho o governo Lula de longe melhor que os anteriores, um governo que certamente reduziu as diferenças entre pobres e ricos e tudo mais...mas isso não o exime de ser criticado quando volta e meia faz besteiras. E essa é muito grande, como foi a besteira de demitir o Cristovam Buarque no primeiro mandato. Como eu disse antes, até então o Cristovam tinha a sua reputação extrememente em alta, e não tenho dúvidas de que mesmo com a defesa do reitor da UnB, o senador é compromissado sim com a educação no Brasil. Certamente mais ousado que Lula e Fernando Haddad. E ambos os casos são de escolhas entre o que é rápido e agradável ante o difícil e espinhoso embate com as elites que apoiam qualquer governo. Nessas questões fundamentais, Lula tem se mostrado um banana.

Anônimo disse...

Putz... Mas queria que você me apontasse em qual momento do meu comentário eu discordei do seu post? Eu simplesmente quis ter uma visão otimista da coisa toda, porque parece óbvio (claro que pesa sua sobriedade na análise do caso) que Marina Silva ter saído do governo foi uma grande meleca...
De qualquer forma, realmente a pressão internacional pode aumentar para o Brasil prestar mais atenção na preservação ambiental, mesmo ainda parecendo paradoxal na prática o binômio desenvolvimento X sustentabilidade...
Fora isso, infelizmente não pude presenciar tão brilhante palestra a qual foi referida (se é que meu limitado conhecimento cientifico poderia a acompanhar já que estudei uma área das sociais aplicadas e não uma ciência natural), mas me parece que pelo menos alguns pontos na massificação do plantio de cana (ou milho, ou soja, mamona, o escambau) são claros, quais sejam: Aumento da fronteira agrícola, impelindo maior desmatamento nas florestas e desequilibro ambiental; utilização de mão de obra semi-escrava e propagação de miséria atingindo, p.ex., locais onde antes eram terras indígenas; diminuição do cultivo de alimentos (ou/e utilização de alimentos, como o milho, para produção de biocombustíveis, diminuindo sua oferta)e aumento no uso de agrotóxicos em áreas onde havia culturas que não utilizavam tais produtos químicos (como gado ou seringueiras, p.ex.), o que implicaria em maior contaminação do meio... E com certeza deve haver muitos outros que meu conhecimento não alcança...
Em resumo, como eu havia dito, eu só quis ter uma visão otimista de um choque poderia causar, mas concordo contigo, Marcelo, o quadro parece mais escatológico do que otimista...

P.S: Logo eu que sou pessimista na essência quis ter uma visão otimista, você deveria me incentivar, hahaha!...

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Não é que você tenha discordado Marcel...é que me parece que a visão otimista nesse caso não é adequada, porque o futuro que a gente pode vislumbrar quando esse tipo de merda aparece é sombrio mesmo. Essa demissão é muito sintomática de quais são as nossas prioridades mesmo.

Eu só estou tentando deixar claro pros milhões de leitores do Wilbor qual é a situação posta.

Nesse caso, melhor manter o seu pessimismo mesmo...rsrsrs!


Quanto à palestra, foi bastante clara, dava pra pegar tudo sim. Eu só não chamei porque eu não tinha amenor noção até a terça-feira a noite, não sabir nem que seria o Ariovaldo...senão teria chamado, porque valeu muito a pena. Esse ano tá muito bom de palestras.