Esse aqui eu tirei do blog do Luís Nassif.
Relaxa, top top top, e goza. É ouro!
Por Juca Kfouri
Impressiona como o país cada vez mais se acostuma a fingir e a viver, e a morrer, das próprias mentiras
PEGUE-SE QUALQUER exemplo, mas fiquemos com os mais recentes.
No esporte, para começar.
O milésimo de Romário é um bom caso.
O Pan-2007, outro.
Ora, todos sabemos que o Baixinho, fabuloso, maior jogador que uma grande área já viu, criou um objetivo para ele mesmo e todos entraram na festa. Viva!
Mentira inofensiva. Mas mentira. Mentirinha, digamos.
Com o Pan é mais grave, pelo uso do dinheiro público sem a menor cerimônia, um dinheiro que os passageiros que cruzam o país pelos ares agradeceriam se o vissem mais bem gasto.
E aí a falsidade é grave, porque mata.
Em torno do Pan, a omissão é medalha de diamantes.
Thiago Pereira, que é um nadador digno de todo respeito e não tem a menor culpa do que se omite, é tratado como quem superou Mark Spitz.
E, friamente, é verdade.
Mas meia verdade, muitas vezes pior que a mentira pura, por mais difícil de ser desmascarada.
Ora, Spitz, ao ganhar cinco ouros no Pan de Winnipeg, em 1967, simplesmente bateu três recordes mundiais, como bateu outros sete ao ganhar mais sete medalhas de ouro em Munique, nos Jogos Olímpicos de 1972.
Compará-lo a Pereira não honra nenhum dos dois.
Fiquemos por aqui, para falar do que é mais chocante, porque sempre com a cumplicidade da mídia.
A tragédia da TAM, que obscureceu o Pan, é rica em ensinamentos.
Começou não é de hoje, com o escândalo do Sivam, no governo anterior, e continuou impávida e colossal de lá para cá.
Uma frase debochada e ultrajante da ministra do Turismo, um gesto raivoso e moralmente pornográfico do assessor presidencial, um pronunciamento vazio e perplexo do presidente que nunca havia visto uma sucessão de acontecimentos tão caóticos nos aeroportos nacionais e pronto!
Tudo continua como antes, a não ser, é claro, para quem morreu e para quem ficou por aqui, na saudade.
Ora, nem Romário é um artilheiro comparável a Pelé nem Pereira é o novo Spitz nem este governo é mais ou menos culpado que o anterior.
Somos todos responsáveis, ou quase todos, que continuamos a voar como voamos, a votar como votamos, a festejar como festejamos e a reclamar mais dos que são rigorosos do que daqueles que são complacentes.
Dar ao Pan-2007 sua verdadeira dimensão é, para muitos, sintoma ou de bairrismo ou de mau humor.
E a crise aérea vira exploração política.
Mas o que se vê na TV no Pan, e o que se viu e ainda se verá na TV sobre o avião da TAM, é de dar vergonha de como se faz jornalismo/sensacionalismo no Brasil.
O ufanismo sem limites e a demagogia sentimentalóide não nos levarão a lugar algum, a não ser neste em que estamos, do caos, da falta de perspectiva e da acomodação cúmplice e criminosa.
Os resultados superdimensionados do Pan-2007 inevitavelmente se inevitavelmente se transformarão em frustração quando Pequim chegar, no ano que vem.
Ou alguém acredita mesmo que o Brasil superou o Canadá, que é mais saudável e pratica mais esporte que o país norte-americano?
Brasileiro com muito orgulho?
Quadro de medalhas: 200 mortos.
Por Juca Kfouri
Impressiona como o país cada vez mais se acostuma a fingir e a viver, e a morrer, das próprias mentiras
PEGUE-SE QUALQUER exemplo, mas fiquemos com os mais recentes.
No esporte, para começar.
O milésimo de Romário é um bom caso.
O Pan-2007, outro.
Ora, todos sabemos que o Baixinho, fabuloso, maior jogador que uma grande área já viu, criou um objetivo para ele mesmo e todos entraram na festa. Viva!
Mentira inofensiva. Mas mentira. Mentirinha, digamos.
Com o Pan é mais grave, pelo uso do dinheiro público sem a menor cerimônia, um dinheiro que os passageiros que cruzam o país pelos ares agradeceriam se o vissem mais bem gasto.
E aí a falsidade é grave, porque mata.
Em torno do Pan, a omissão é medalha de diamantes.
Thiago Pereira, que é um nadador digno de todo respeito e não tem a menor culpa do que se omite, é tratado como quem superou Mark Spitz.
E, friamente, é verdade.
Mas meia verdade, muitas vezes pior que a mentira pura, por mais difícil de ser desmascarada.
Ora, Spitz, ao ganhar cinco ouros no Pan de Winnipeg, em 1967, simplesmente bateu três recordes mundiais, como bateu outros sete ao ganhar mais sete medalhas de ouro em Munique, nos Jogos Olímpicos de 1972.
Compará-lo a Pereira não honra nenhum dos dois.
Fiquemos por aqui, para falar do que é mais chocante, porque sempre com a cumplicidade da mídia.
A tragédia da TAM, que obscureceu o Pan, é rica em ensinamentos.
Começou não é de hoje, com o escândalo do Sivam, no governo anterior, e continuou impávida e colossal de lá para cá.
Uma frase debochada e ultrajante da ministra do Turismo, um gesto raivoso e moralmente pornográfico do assessor presidencial, um pronunciamento vazio e perplexo do presidente que nunca havia visto uma sucessão de acontecimentos tão caóticos nos aeroportos nacionais e pronto!
Tudo continua como antes, a não ser, é claro, para quem morreu e para quem ficou por aqui, na saudade.
Ora, nem Romário é um artilheiro comparável a Pelé nem Pereira é o novo Spitz nem este governo é mais ou menos culpado que o anterior.
Somos todos responsáveis, ou quase todos, que continuamos a voar como voamos, a votar como votamos, a festejar como festejamos e a reclamar mais dos que são rigorosos do que daqueles que são complacentes.
Dar ao Pan-2007 sua verdadeira dimensão é, para muitos, sintoma ou de bairrismo ou de mau humor.
E a crise aérea vira exploração política.
Mas o que se vê na TV no Pan, e o que se viu e ainda se verá na TV sobre o avião da TAM, é de dar vergonha de como se faz jornalismo/sensacionalismo no Brasil.
O ufanismo sem limites e a demagogia sentimentalóide não nos levarão a lugar algum, a não ser neste em que estamos, do caos, da falta de perspectiva e da acomodação cúmplice e criminosa.
Os resultados superdimensionados do Pan-2007 inevitavelmente se inevitavelmente se transformarão em frustração quando Pequim chegar, no ano que vem.
Ou alguém acredita mesmo que o Brasil superou o Canadá, que é mais saudável e pratica mais esporte que o país norte-americano?
Brasileiro com muito orgulho?
Quadro de medalhas: 200 mortos.
2 comentários:
Hahaha!!
Gabriel citando o Juca é inusitado, mesmo sendo citação de citação.
Eu tinha lido essa coluna do Juca.
Pra quem não conhece, o Juca Kfouri é o "esquerinha" dentre os colunistas esportivos, polemiza muito com presidentes de federações, dirigentes de clubes, etc...
Ele falou uma coisa muito interessante outro dia, a respeito da qualidade da imprensa esportiva.
Disse que concorda com as críticas de que a imprensa esportiva é muito repetitiva, a cada quatro anos as manchetes de cobertura das copas e olimpíadas são sempre as mesmas, as histórias de sofrimento e superação também.
Do mesmo jeito é o jornalismo convencional, com suas coberturas sobre as baixas temperaturas no sul, paraísos tropicais no nordeste, problemas de estrutura nos mais diversos órgãos públicos do país...
Realmente se age como se escândalos políticos escandalizassem alguém.
A tempo: acho que o Nassif devia ser péssimo atleta, ruim de bola e de bolinha de gude, sempre o último a ser escolhido e tals...o cara nunca fala de esportes e quando fala cita o Juca...parece ex-fumante chato.
Já o Juca, esse sim pode falar o que bem entender.
De qualquer forma, o que o Juca escreveu é óbvio, ninguém espera desempenho parecido com o do Pan nas olimpíadas. Mas o desenvolvimento de esporte num país é um processo longo e penoso.
Prática esportiva é importante para um país e sua população, e o mercado esportivo é importante e enorme. Essas modalidades que só aparecem no Pan ou numa olimpíada se beneficiam enormemente dessa comoção do Pan.
Romário é o melhor atacante que eu já vi jogar, e um dos caras mais engraçados e inteligentes (no humor) que já passaram pelo esporte, ao contrário do Pelé, que jogou muita bola mas é um perfeito idiota.
O Juca é muito inteligente, mas na tentativa de se diferenciar dos demais jornalistas esportivos, criou essa mania de jogar água no chope quando não é necessário.
Na verdade, eu postei este texto pensando no pouco que ele falava do mafuá da TAM, e não do PAN... Esporte é assunto periférico pra mim.
Postar um comentário