sábado, 9 de junho de 2007

ponto para Dráuzio

Eu gosto do Dráuzio Varela, li o "Estação Carandiru" e o "Por um fio", gostei de ambos. O Dráuzio tinha um programa dele em algum canal público, muito bom, e depois do sucesso do filme colocaram o doutor no Fantástico. Quem sabe como funciona cabeça de crítico pode imaginar que o Dráuzio ficou mal falado, virou uma espécie de "sabe-tudo" da medicina popular. Uma pena.

Hoje, o Dráuzio foi muito feliz ao publicar um belo texto na Folha de S. Paulo, entitulado "A Força do Pensamento". o subtítulo diz o seguinte:

"A montanha ir até Maomé é tão improvável quanto o Everest surgir na minha janela"

Foi um artigo à moda de Sagan, onde o Dráuzio tratou de usar sua autoridade de oncologista experiente para não só refutar o efeito placebo como ainda mijou naquelas pessoas que se irritam com o familiar moribundo, morrendo de câncer, dizendo que "ele não tem coragem para reagir", como se o pensamento positivo tivesse o poder de fazer com que os tumores regredissem.

alguns trechos:

"Em 40 anos, nunca vi alguém se curar com a força do pensamento."
(...)

"Insisti com o rapaz para se tratar em Nova York, porque não havia nem há um só caso descrito na literatura de desaparecimento espontâneo de metástases pulmonares de câncer de testículo. Todos os que morreram da doença antes do advento da quimioterapia seriam homens pulsilânimes, desprovidos do desejo de viver demonstrado por meu paciente, portanto ineptos para subjugar suas metástases às custas da positividade do pensamento?"
(...)
"Por que a energia emanada do pensamento positivo serve apenas para curar doenças, jamais para fazer um carro andar dez metros ou um avião levantar vôo sem combustível?"
(...)
"Esse tipo de crendice não me incomodaria se não tivesse um lado perverso: o de atribuir ao doente a culpa duplicada por haver contraído uma doença incurável e por ser incapaz de curá-la depois de tê-la adquirido."
(...)
"Acreditar na força milagrosa do pensamento pode servir ao sonho humano de dominar a morte. Mas, atribuir a ela tal poder é um desrespeito aos doentes graves e à memória dos que já se foram."

Essa argumentação não é nova, Richard Dawkins e Carl Sagan falam, cada um à sua maneira, sobre o que pensam dos poderes curativos do pensamento positivo. Sagan, aliás, morreu de câncer, sofreu bastante...certamente gostaria de ter esse dom da auto-cura.

Estranhamente, de uns 2.000 anos prá cá, os milagres da igreja católica tem se restringido à curas milagrosas. Nunca mais andaram sobre as águas ou tranformaram água em vinho ou coisa parecida. Os milagres são limitados pela tecnologia onipresente e pela nossa atual capacidade de verificação dos fatos. É realmente espantoso que a literatura médica nunca tenha sido descrito o desaparecimento espontâneo de metástases pulmonares de câncer de testículo...nunca!

Placebo, homeopatia e pensamento positivos são ótimos...desde que a sua doença seja um resfriadinho...três dias de bons pensamentos resolvem. Já se o problema for um vírus, uma bactéria mais resistente ou alguma coisa degenerativa, reze para achar um bom médico.

Ah sim...placebo também não serve para repor cálcio, vitaminas e sais minerais. Gozado, não?


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