Gostei muito do nosso novo ministro da saúde, o médico sanitarista José Gomes Temporão. Não só por conta da posição dele a respeito da questão do aborto, mas desde que li algo sobre ele. O cara parece ter mais contato com a realidade da saúde brasileira, um senso social raro entre os políticos - mesmo porque ele não é um deles.
No último domingo, saiu uma pesquisa na Folha mostrando que a maioria dos brasileiros - 65% - defendem que a legislação sobre o aborto continue como está. No dia seguinte, em entrevista ao mesmo jornal, o ministro analisa este dado como sendo decorrente da falta de debate a respeito do tema, mas deixando transparecer que ele é favorável à descriminalização da prática.
Dois trechos relevantes:
"O resultado da pesquisa não me surpreendeu porque acho que a sociedade brasileira sempre debateu o tema de maneira superficial. Meu objetivo, quando toquei nesse tema há cerca de duas semanas, era chamar a atenção para um debate que sempre foi feito dentro de um contexto moral, filosófico ou religioso, mas não no contexto de saúde pública. "
" Essa é uma questão que suscita muitos debates entusiasmados e apaixonados, mas que colocam um véu sobre as questões que, para nós, sanitaristas, são importantes, como as situações que levam mulheres e casais a passarem por esse sofrimento. Para subsidiar esse debate, temos que aperfeiçoar nosso conjunto de informações para que possamos ter uma discussão mais aprofundada. No ano passado, o SUS (Sistema Único de Saúde) realizou 2.000 abortos legais e 220 mil curetagens pós-aborto na rede. Não posso afirmar com segurança a percentagem desses 220 mil procedimentos que foram feitos em decorrência de um aborto espontâneo ou de abortos realizados em condições inseguras. Essa é uma informação relevante para a discussão."
Olha no que deu:
10 de abril:
Grupo hostiliza ministro durante ato contra o abortoNo último domingo, saiu uma pesquisa na Folha mostrando que a maioria dos brasileiros - 65% - defendem que a legislação sobre o aborto continue como está. No dia seguinte, em entrevista ao mesmo jornal, o ministro analisa este dado como sendo decorrente da falta de debate a respeito do tema, mas deixando transparecer que ele é favorável à descriminalização da prática.
Dois trechos relevantes:
"O resultado da pesquisa não me surpreendeu porque acho que a sociedade brasileira sempre debateu o tema de maneira superficial. Meu objetivo, quando toquei nesse tema há cerca de duas semanas, era chamar a atenção para um debate que sempre foi feito dentro de um contexto moral, filosófico ou religioso, mas não no contexto de saúde pública. "
" Essa é uma questão que suscita muitos debates entusiasmados e apaixonados, mas que colocam um véu sobre as questões que, para nós, sanitaristas, são importantes, como as situações que levam mulheres e casais a passarem por esse sofrimento. Para subsidiar esse debate, temos que aperfeiçoar nosso conjunto de informações para que possamos ter uma discussão mais aprofundada. No ano passado, o SUS (Sistema Único de Saúde) realizou 2.000 abortos legais e 220 mil curetagens pós-aborto na rede. Não posso afirmar com segurança a percentagem desses 220 mil procedimentos que foram feitos em decorrência de um aborto espontâneo ou de abortos realizados em condições inseguras. Essa é uma informação relevante para a discussão."
Olha no que deu:
10 de abril:
O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, enfrentou ontem uma manifestação contra o aborto, em Fortaleza.
O protesto -organizado por lideranças religiosas e políticas, inclusive um deputado petista- foi em resposta a recentes afirmações do ministro, que é favorável a uma discussão sobre o tema e já defendeu a realização de um plebiscito para decidir por sua liberação ou não.
(...)
Com um carro de som e diversas faixas, como "Por um Brasil sem aborto" e "O Ministério é da Saúde ou da morte?", os manifestantes desviaram o foco de atenção do evento, em que o ministro iria falar de um programa de ginástica.
Enquanto Temporão discursava, entre vaias, os manifestantes gritavam: "Diga não ao aborto e sim à vida".
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E aí, dá pra esperar que algum político, concorrendo a cargo majoritário defenda a descriminalização do aborto antes que um debate mais profundo seja feito? O problema é: os caras não tem cara nem de promover a discussão, as igrejas do país não querem permitir nem que se discuta. Por isso mesmo há uma relação direta entre religiosidade e desenvolvimento.
E o foda é a hipocrisia sobre isso tudo...estamos falando em descriminalizar o aborto. Ou seja: mulheres que fazem o aborto são criminosas. E a pulga atrás da minha orelha direita me diz que tem muita mulher abortando. Filhos de padres, inclusive.
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Pra finalizar, uma engraçada sequência de notícias sobre o tema (calma, só os links):
22 de março de 2007
Bebê anencéfala será ícone em ato contra o aborto
Para médicos, vida social de bebê anencéfala é impossível (pra mim também!)
2 comentários:
Essa da bebê anencéfala foi FODA!...
Quero ver se os caras vão estampar uma foto do bebê... se for um daqueles coitadinhos com cabeça deformada e estiver cheio de tubo pra tudo quanto é lado, a mesma foto vira campanha contra.
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