terça-feira, 1 de outubro de 2019

Imagine...

Eu sempre achei a utilização do "obrigado" como agradecimento um negócio meio esquisito:

"Você me fez um favor e agora eu estou obrigado a retribuir. Meu bom senhor, saiba que serei seu escravo até que surja a oportunidade de lhe retribuir pela passagem do saleiro."

É um agradecimento que elimina o altruísmo de quem fez o favor e gera um dever a quem recebeu. Eu não quero ter obrigações com gente escrota que me faz um favor. Nesse sentido, "agradecido" é melhor - não confundir com o uso de "gratidão".

"De nada" é uma resposta igualmente esquisita, embora adequada pro tipo de agradecimento que "obrigado" representa.  Meio que liberta a pessoa recebedora do favor de uma futura obrigação de uma forma meio esnobe. É uma resposta abolicionista, faz o interlocutor se sentir uma princesa Isabel.


"Pfffff...pular do prédio salvar a vida do seu bebê? Não me custou nada, faço quando quiser. Eu salvo bebês o tempo todo. Quem não faria isso? Você está livre, pode ir, não precisa nem passar o sal".

Outras respostas que seriam adequadas pra "obrigado": "liberto", "alforrio", "solto".

"Obrigado!" / "Tá livre."

"Obrigado!" / "Dispensado."


Nesse sentido, ob"imagine" dos paulistanos é a melhor resposta possível para o nosso autoritário agradecimento pátrio: ao mesmo tempo reconhece que o outro está agradecido e faz troça do "obrigado".

"Você pode me passar o ketchup, por favor?"
"Claro"
"Obrigado"
"Imagina! Por isso? Cara, bacana que você esteja agradecido, mas isso não é importante. Você tem filhos, uma vida pra cuidar, problemas sérios. Não precisa disso, a gente nem se conhece tão bem."


Outra possibilidade, pra quando um desconhecido te agradece:

"Obrigado!"
"Sai fora! (eu, hein...)"



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