quarta-feira, 13 de abril de 2016

O ódio na era do show-reality


É engraçado, é uma piada.

Mas dá medo: pois eles existem.

Antes ficavam isolados em seus quintais e portas de apartamento com correntinhas; hoje lançam-se em público, redes de ódio (variando entre a ignorância, a paranóia e esquizofrenia) arremessadas na midiosfera, que em seu arrastão recolhem brasil afora seus outros semelhantes.

A visibilidade e os grandes números coletivos (união faz a força) atraem ainda mais pessoas.

Aqui uso o irretocável comentário de minha amiga Nilce Aravecchia:

"Um indivíduo sozinho pode ser incapaz de exprimir certos atos violentos que consegue tranqüilamente produzir em grupo. O sentimento de ódio compartilhado em um grupo acaba por potencializar a força destruidora, impedindo o chamamento à consciência."

Nesse sentido, é perigoso subestimar a força da lógica subjacente da sociedade do espetáculo ("o que é bom é o que aparece e o que aparece, se aparece é porque é bom"); a visibilidade, os números são sua própria justificativa. Seja ódio, boçalidade ou vulgaridade: para a imensa maioria das pessoas, a publicização já é em si legitimação. A mídia se reconstruiu como 'reality-show', o mundo se reconfigura como 'show-reality': realidade de miudezas sempre à mostra para milhões, de eternização dos espasmos dos afetos (em especial os afetos negativos).

Essa força de reatroalimentação coletiva/midiática produziu, recentemente, o mais amplo surto coletivo de esquizofrenia paranóide já visto no país.

A eleição não dá o resultado que desejo? Eleição falsificada. Abaixo à urna eletrônica, quem acredita nessas urnas só pode ser idiota mesmo. A revista que há anos fala mal do governo federal em toda e qualquer oportunidade (real ou fictícia) por acaso acabou de reconhecer algo de acertado que esse governo fez? É vendida, petralhada, sacana.

Essas criaturas vão ferir muita agente ainda. Indiretamente e diretamente.

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