sábado, 6 de dezembro de 2014

It's evolution, babe (4)



Ver este lindo desenho me fez lembrar de uma das coisas que achei mais legais -- dentre muitas -- que há no livro A Magia da Realidade de Richard Dawkins: a noção de como a genealogia das línguas humanas é uma das melhores analogias para se explicar a lógica evolutiva por trás da especiação biológica.

Línguas são fenômenos extremamente complexos e, ainda assim, mais ou menos coesos e internamente funcionais. Mas ninguém em sã consciência acha que surgiram um dia do nada, prontinhas, fruto da imaginação e do "projeto" de alguma superinteligência. Ninguém um dia "inventou" o português ou o inglês e os pôs no mundo. Línguas foram sendo construídas em séculos de evolução de interações comunicacionais humanas, adquirindo constantemente novos caracteres e perdendo outros, e por vezes gerando linhas de "descendência" que se diferenciaram a ponto de não conseguirem mais "procriar" -- ou seja, a ponto de seus falantes respectivos não conseguirem se entender.

Vejam bem: mesmo uma coisa que é certamente fruto da mente humana -- a língua -- não tem um "criador", um idealizador: foi desenvolvida coletivamente aos poucos, numa frente ampla de micro-mutações e micro-seleções diferenciadas de acordo com diferenças de "ambiente" e com isolamentos geográficos (locais diferentes, que tinham uma colonização, sotaque ou modo de vida distintos). O que os gramáticos fizeram posteriormente foi meramente tentar observar, registrar e sistematizar o que já existia espontaneamente.
Ou seja: não houve um "momento criador" definido e nem momento em que uma língua "virou" exatamente outra. E todas continuam em transformação -- a não ser que, como o latim e o aramaico, já estejam extintas.

Alguém virá dizer que isso tira a beleza e a riqueza das línguas em alguma medida?

Por que tanta gente tem problemas em entender ou aceitar esse princípio quando se trata dos milhões de anos de vida em nosso planeta?

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