segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O MONSTRO SOUZA (4): The Monster Tour

Agora em definitivo: futuras cidades, datas, horas e locais de lançamento na semana que vem.
E o nome definitivo da turnê, claro.

(pôster feito por Bruno e Marcos Caldas em cima da Capa original que fiz em cima do Desenho original do Marcatti)

Tá confirmado: estarei em Sampa, dia 10 e Brasília, dias 11.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O MONSTRO SOUZA (3): Souza Tour

(calma: este é provavelmente o último post sobre o Monstro...)


As datas e locais futuros e passados de lançamento d'O Monstro Souza Brasil afora:

Rio de Janeiro (já ocorrida): 
dia 12 de novembro, na La Cucaracha e na Rio Comic Con. 

São Luís
Hoje, dia 23, às 21:00 na Feira do Livro
Assista o videozinho nesse link. Reportagem da transmissora da Globo no Maranhão, a rede Mirante (que Bruno apelidou de Sarney News). Se desse, eu colocava o vídeo aqui ( e baixava pra mim também).


Curitiba 
08 de dezembro, na Itiban. Junto ao Souza haverá o lançamento do volume 2 de Promessas de amor adesconhecidos enquanto espero o fim do mundo, de Pedro Franz, e Rua, de André Caliman.

São Paulo
10 de dezembro, na HQ mix (Praça Roosevelt, 142). lA ocasião também terá o lançamento paulistanao da ótima Golden Shower (já lançada na Rio Comic Con e na La Cucaracha)
Nesta eu estarei presente com Bruno!


Por agora é só.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O MONSTRO SOUZA (2)

Aconteceu.
O Monstro veio a público. 


O livro, que pude finalmente ver, é um objeto bonito. Faz juz às espectativas que eu e Bruno tínhamos, e faz juz aos nossos esforços e aos esforços dos muitos colaboradores. 
Estava lá na Comic Con e ainda está lá na Cucaracha e na Livraria da Travessa. Foi comprado e está sendo (eu espero) lido. Espero que suas qualidades sejam apreciadas; que dele se fale, que nossas piadas obscuras sejam compreendidas e que a maior parte dos erros que nosso amadorismo esforçado gerou passem despercebidos.


Links dos principais lugares onde foi noticiado até agora:
Quarto Mundo.
Universo HQ.
Gibizada, blog do jornal O Globo.
Blog do Zema Ribeiro.
Diário do André.
Roteiro Aberto.


Em comemoração,  adianto exclusivamente para os reservados leitores do Wilbor o "posfácio" que  escrevi para O Monstro Souza. 
(com o acréscimo de links e ilustrações outras que o livro não poderia ter... hehehe)



Dos monstros e monstruosidades que se escreve e se imagina:

...eis que a lista é longa e a história é velha. Até na porralouquice, como em qualquer face primordial do ser humano, há tradição e há padrões; do alto de sua eruditíssima picaretice, Humberto Eco poderia falar do gore e do camp e das preferências “decadentistas” dos exageradamente sofisticados (put your hand on the hips!).

Mas que se possa citar de Rabelais até Marquês de Sade até um Rubem Fonseca até um Robert Crumb até um Chuck Palahniuk até um Lourenço Mutarelli nos âmbitos da sacanagem e da nojeira impressa é fato que, ainda que interessante, acrescenta pouco aqui.  Exceto isto: que o deboche grotesco é uma forma enviesada, reincidente e contínua de análise social, de olhar para aquilo que ninguém está olhando. Não basta simplesmente escarafunchar o nojento, claro; é preciso encontrar aquilo que está lá no nojento e que não se vê por que é desagradável demais olhar pra todo aquele lodo e excremento por cima. Com o perdão da palavra, tem-se que transcender o nojento.

O Monstro Souza por Gabriel GirnosEntão que se diga porque estamos aqui, e porque essa porralouquice existe impressa em papel. Ela existe, em primeiro lugar, porque Bruno é um cabra teimoso e obsessivo e porque eu continuo dando corda pra ele. Isto que se tem nas mãos, esse volume de papel e tinta, foi preparado, mastigado, deglutido, fermentado e regurgitado na mente e mão de seus autores há quase 10 anos. Com efeito, o primeiro esboço, desenhinho inocente que fiz a partir de uma descrição esdrúxula e insólita de monstro hot-dog, deve datar de 2000.

Como um cachorro-quente de barraquinha, a porrada de partes e elementos do livro foram compondo um “todo” meio que por acumulação. Este volume é quase um fanzine que foi inchando e inchando até ficar enorme, complexo e pretensioso — até querer virar “livro”. Aí é que a colcha de retalhos da narrativa passou a receber algo que pudesse ser chamado de “arquitetura”. Ainda que, muito à brasileira, uma arquitetura do puxadinho. 

Mas o que faz alguém amarrar seu bode por 10 anos numa idéia troncha dessas, meu Zeus? Aí é que está: é preciso “transcender” a sujeira, e dar sentido e validade a tudo isso virou também missão. Missão essa com o bônus de manter aceso nosso constante bate-bola de idéias.

De fato, este livro é fundamentalmente resultado de diálogo: um longo, trabalhoso e divertido papo de Bruno com um monte de pessoas. Eu, de início só um dos vários colaboradores, pela constância acabei tomando conta do pedaço e virando o interlocutor principal. Na parceria que acabamos firmando, foi altíssimo o nível de pitacos e interferências mútuas um nas competências do outro, de maneira que os limites de autoria ficaram um pouco promíscuos (e acabei ganhando meu nome na capa!). Mas embora quase tudo na forma e conteúdo em suas mãos tenha marcas de dedos de nós dois, acho que é justo identificar melhor as atribuições.

O livro foi basicamente “escrito, dirigido e produzido” por Bruno. Ele teve a idéia original toda e persistiu nela; escreveu o texto todo, bem como os roteiros de todas as histórias em quadrinhos; pesquisou, coletou e organizou os recortes, citações e todo o material “conteudístico”. Bruno também foi quem saiu por aí, incansavelmente, caçando e cutucando colaboradores, pavimentando a viabilidade do livro. É autor com A maiúsculo.

Eu poderia dizer que, de forma geral, organizei e burilei a forma visual que o livro veio a ter. Fiz o projeto gráfico, tipografei, diagramei, iconizei, desenhei; letreirei três histórias em quadrinhos (“a vida secreta das ervilhas”,”corações em chamas” e “caralho! uma aventura do delegado Caolho”) e  co-roteirizei uma (“alguns capítulos atrás); criei o logo do Monstro e outras coisitas. Colocado assim parece simples, mas reitero que o processo foi muito mais promíscuo: Bruno também se meteu a diagramar diretamente às vezes, e eu também contribuí o tempo todo com a estruturação da “arquitetura” do livro  (“gênese”, “revelações”, etc), com sugestões de organização e de texto. Um diálogo, enfim, em que olhares e habilidades diferentes se bateram sobre as mesmas coisas.




Fiel à geração editorial “dos anos 00”, este livro é mais um que deve sua existência à internet, à pirataria de software e ao barateamento dos processos de impressão. Eu e Bruno somos rigorosamente amadores: não ganhamos a vida com o que aqui fizemos (escrever, desenhar, diagramar e etc.), e não poderíamos bancar nem sequer os programas com os quais o fizemos. Sem falar que, sem a internet, seria impossível arregimentar tamanha variedade geográfica de colaboradores: gente em São Luís, Curitiba, Rio de Janeiro, São Carlos, Maringá, Teresina, São Paulo. Mais ainda, sem a web nossa própria parceria dificilmente teria vingado: na maior parte do tempo, nosso diálogo se deu a uma distância de quase três mil quilômetros. Eu, que saí da ilha há uns 13 anos, e Bruno, que continuou na sarjeta tentando nadar de braçada em sangue, merda e resto de baré tutti-fruti.

A ilha, de fato, é onipresente em seu isolamento. Se há uma inspiração maior em nossa “missão”, bem como uma espinha dorsal (salsicha literária) neste livro-hotdog, essa é a cidade de São Luís do Maranhão. Josué Montello (pra quem o Bruno paga o maior pau) costurava várias de suas tramas a partir dos lugares. Sua construção de uma experiência literária da cidade (ou de uma experiência da cidade pela literatura – enfim, um negócio pra Benjaminianos ruminarem) é algo fortemente enraizado em Bruno. Claro que, na superfície, nada mais avesso a essa literatura grande que este livro pós-modernozinho aqui em mãos: Montello, São Luís e São Luís via Montello são uma referência básica para Bruno, mas não muito diferente de como o são Star TrekHellraiser, o cancioneiro brega e a cultura trash. Referencial esquizofrênico para uma cidade esquizofrênica numa geração idem.

Até mais que eu, Bruno ama o obscuro. E não se desculpa com ninguém por isso. Neste livro de piadas cifradas, nem tudo é pra ser compreendido de primeira, mas tudo tem sentido. Da mesma maneira que na vida real, digamos — nem que seja apenas aquele sentido grosseiro, o da pura causalidade.

Bruno também ama o feio. Amar e falar de São Luís exige um pouco isso, pois até e principalmente na beleza São Luís é ilha, rodeada de feiúra por todos os lados e com poucas pontes. Mas uma feiúra fértil, feiúra-humus, feiúra (sub)urbana de pobreza e sujeira e terreno baldio e ruína e mato e mofo, numa panela de pressão de calor melado, asfalto escaldante e mar barrento.

O mar, como o asfalto, é cinza; mas dá brisa.




Gabriel Girnos
outubro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

Tea Party, xenofobia sul/sudestina e a divisão brasileira entre azuis e vermelhos

Comecei esse post pensando em falar apenas do Tea Party e traçar um paralelo com a situação que vemos hoje no Brasil, com as reações anti-nordestinas que se iniciaram com a vitória de Dilma.  Acabei misturando com um outro post que estava preparando, mas acho que as coisas acabam se encaixando.  Aconselho que cliquem nas imagens para ampliá-las.

Pra quem ainda não entendeu o que é o "Tea Party" norte-americano, eis uma bela entrevista de Frank Rich, jornalista político no New York Times.  Frank faz uma belíssima análise do atual momento político econômico dos EUA.



Interessante pensar que o Tea Party tem início com uma reação nervosa contra a eleição de Obama, coisa que infelizmente me lembra o que está rolando por aqui, com a ascenção pós-eleitoral de grupos separatistas e xenofóbicos.

Não é a primeira vez que vejo isso acontecer: a reação que tivemos após a derrota de Geraldo Alckmin, em 2006, me mostrou que as idéias separatistas não eram coisa só do Sul.

Em Maringá sempre senti que havia um nível de preconceito contra nordestinos - baixo, mas havia - cheguei a sentir isso na pele no colégio Marista, onde estudei, por ser filho de mãe maranhense.  Sempre tive a impressão de que uma grande parcela da população seria a favor de uma separação da região sul.  OÓbvio, jamais foi uma posição declarada, talvez porque seja senso comum que tal coisa seria muito desgastante, etc, etc, etc...agora, se simplesmente acontecesse, estaria ótimo.

Em 2006, acompanhei, com muito desgosto, uma aproximação dos paulistas a esse movimento.  As mesmas declarações que causaram tanto frisson agora, já estavam lá...só faltava o twitter, já que blog a gente sabe que pouquíssima gente lê.

Para nosso bem, esse pessoal só fala de política faltando dois meses para as eleições, continuam por mais um tempo e depois se acalmam.  Não fosse assim Lula não teria atingido seus 83% de popularidade - aqui é muito importante lembrar que apenas 3% consideram o governo ruim ou péssimo. 

Talvez essa raiva toda dure um pouco mais, já que a campanha foi pesadíssima (beleza, Serra!).  Mas passa.

De qualquer forma, é importante lembrar que dizer que o Serra ganhou no PR.  Ganhou, mas a Dilma venceu em mais municípios (212 a 187), com larga vantagem nos municípios mais pobres - pra deixar claro que bolsa-família não é exclusividade nordestina.  Os paranaenses podem, então, se revoltar contra as populações de Foz do Iguaçu, Guarapuava e uma infinidade de cidadezinhas.

Aqui vão alguns gráficos que mostram a situação do eleitorado paranaense.  Optei por dividir os municípios em 6 categorias, de acordo com o número de eleitores em cada um deles:
A divisão deixa as categorias com mais ou menos o mesmo tamanho, exceto aquela dos municípios com mais de 100.000 eleitores, que sozinha é responsável por 36% do eleitorado (o que pesou a favor de Serra).

Agora, a situação da votação dos candidatos em cada uma dessas categorias:

Notamos aqui que Dilma tem ligeira vantagem nos municípios de até 10.000 eleitores.  Serra ganha por pouco nos municípios entre 10.000 e 100.000 eleitores e dispara nos municípios com mais de 100.000 eleitores.  Tirando os "grandes municípios, a vitória de Serra teria sido muito mais apertada (51,6% a 48,4%).  Esses municípios são, por ordem de grandeza, Curitiba, Londrina, Maringá, Ponta Grossa, Cascavel, Foz do Iguaçu, São José dos Pinhais e Colombo.  Desses, Dilma venceu em 2: Foz do Iguaçu e Colombo.  Em São José dos Pinhais e Cascavel, a eleição foi apertada em favor de Serra.  A grande vitória tucana ocorreu nas quatro maiores cidades do estado: 61% em Curitiba, 63% em Maringá, 68% em ponta Grossa e 75% em Londrina - esta última, a maior votação dele em todo o estado.

Agora, como bom geógrafo, não poderia deixar de espacializar esses resultados, comparar com um mapa temático que talvez explique algo e propor uma síntese, incluindo alguns outros dados da geografia paranaense:




Os mapinhas acima, feitos às pressas.  No da esquerda, o resultado do segundo turno das eleições.  Tudo em vermelho/rosa são municípios onde Dilma venceu.

1) a mancha rosa no noroeste coincide com a mancha do arenito Caiuá, região "periférica" da agricultura, uma vez que os solos não são tão férteis como no resto do terceiro planalto (que equivale, mais ou menos, à tudo da metade do estado para oeste).  Esse pedacinho do noroeste concentra pequenos produtores rurais, ao contrário da região de Maringá, com suas superprodutivas terras-roxas e concenctração de grandes produtores de soja.

2) a mancha do sul do estado e a mancha acima de Curitiba (vale do Ribeira) correspondem às áreas mais pobres do estado.  Quem já foi ao miolo do Paraná sabe, por comparação, que não se parece com o Paraná bonitinho que vemos em Maringá ou Curitiba.  O vale do Ribeira é uma das regiões mais pobres do país, tanto do lado paulista quanto do paranaense...inclusive, foi uma das regiões escolhidas para piloto do fome-zero.

Aí vale a pena a comparação com o mapa da direita, que indica a renda per capita municipal do ano de 2000.  A escolha do ano de 2000 tem dois motivos: são os dados georreferenciados que eu tinha em mãos no momento e; de 2000 pra cá essa população pôde sentir o impacto das políticas sociais do atual governo.  E olha que a pobreza paranaense não é a mesma que se sente no sertão nordestino.

Bom, é isso aí...com os fatos, fica difícil chamar o Paraná de "estado azul" - e olha que foi a segunda melhor votação de Serra.  O voto em Dilma se explica pela sensação de melhora dos mais pobres, além do fato óbvio de que o país melhorou em diversos setores. Serra, por outro lado, atraiu o voto dos conservadores e sua zona de influência.

Pra finalizar, o mapa vermelho/azul da Folha:

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O MONSTRO SOUZA

Agora é pra valer. 


Após intermináveis adiamentos, revisões e canos de editoras, eu e Bruno Azevêdo, do O PUTAQUEPARIU!, estamos lançando nosso velho, velho projeto O Monstro Souza.



Após vários estudos, opções e dores de cabeça, esta é a capa definitiva. Seguindo o histórico multicolaborativo e coletivo desse livro, convidamos o renomado Marcatti, grande autor do quadrinho underground brasileiro, para fazer o desenho original... e ele topou! Taí o resultado.

Já falamos uma ou outra vez aqui no Wilbor sobre esse projeto, citando o prêmio de literatura maranhense que ele ganhou (antes mesmo de ser lançado...) e até dando um "spoiler" de uma das HQs, desenhada por mim.

Pra quem quer saber o que diabos é o livro:
Conteúdo: em termos gerais, trata-se de uma paródia/pastiche dos absurdos da capital e da cultura maranhenses em meio à cultura de massa contemporânea, tudo a partir da história de um cachorro-quente de 1,80m de altura que trabalha como “loverbói” no centro histórico de São Luís e é um assassino serial. 
Forma: o romance é uma narrativa grotesca de humor negro, que sobrepõe ao texto uma miríade de informações e referências culturais de outras mídias: histórias em quadrinhos, ilustrações, recortes e informações jornalísticas impressas e transcrições locuções de rádio. Enfim, um conjunto "transmidiático" que mistura fatos fictícios, fatos reais e fatos reais-mas-que-parecem-fictícios, como a história de Hidramix Hinfinito.


O lançamento do livro já começou a ser anunciado, inicialmente pelo Bigorna, e agora também pelo Ambrosia. Há uma entrevista bacana do Bruno neste blog aqui., e um comentário muito legal do excelente desenhista Odyr em seu blog. Mais à frente, deverei atualizar os novos links que aparecerem e dar notícias do andamento...

Como citei antes, o Monstro Souza foi uma construção de uma pancada de colaboradores. Já está no ar o blog do livro, que pretende juntar material inédito e desenhos de todos aqueles que participaram em algum momento da criação do livro, bem como de todos aqueles que, por qualquer motivo inescrutável, quiserem desenhar o Monstro e mandar o resultado pra mim ou para o Bruno.

O  livro terá seu primeiro "grande" lançamento no Rio de Janeiro agora no dia 12 de novembro, em meio a Rio Comic Con 2010. Planeja-se lançamentos nas próximas semanas em São Paulo, Curitiba, Brasília e, é claro, São Luís. Assim que tiver as datas certinhas, postá-las-ei aqui.

José Serra é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno!

Que José Serra é mau-caráter, não é novidade pra ninguém.  Conta o meu pai, contemporâneo dessa figura em sua época de DCE que, Serra já se utilizava de expedientes escusos para conseguir o que queria: quando havia a necessidade de votações nas quais a posição de Serra era minoritária, a estratégia era discursar longamente, até que o quórum diminuísse e a votação estivesse garantida.

Que José Serra trouxe o nível da campanha presidencial ao chão, já não se discute.  Aliou-se com os setores mais conservadores da sociedade, da TFP, Opus Dei ao que resta da ARENA nesse país.  A simulação da bolinha de papel  e a tentativa de enganar o povo ao misturar o modelo de concessões do pré-sal com o modelo do petróleo anterior são preciosidades da coleção de baixarias da campanha tucana.  Sobre isso já escrevi neste espaço.

Só que eu eu jamais, jamais imaginei que Serra pudesse tomar uma atitude tão antidemocrática quanto a que assumiu em seu “discurso de ‘aceitação’ da derrota”.

Dilma Rousseff foi declarada vencedora do pleito às 20:14, pouco mais de uma hora depois do término da votação (lembrando que o Acre tem duas horas de atraso).  Se a minha memória não estiver extremamente comprometida, é de praxe que o telefonema de congratulações seja feito logo depois desse anúncio do TSE.  Não se falou nisso.  Em eleições presidenciais, normalmente o candidato derrotado faz o discurso oficial de admissão de derrota e cumprimentos ao vencedor de seu QG eleitoral, sempre ANTES do discurso do candidato eleito...é mais que uma simples regrinha de etiqueta, faz parte do respeito à democracia.

Dilma esperou, esperou, esperou…quase duas horas depois do anúncio oficial, e nada do Serra!  Dilma inicia seu primeiro discurso à nação, como presidente eleita, precisamente as 22 horas, sem que houvesse qualquer declaração do candidato derrotado.  O discurso de Dilma se encerrou as 22:25.

Serra inicia sua fala quinze minutos depois de encerrado o discurso de Dilma, às 22:39.  Pronunciou exatas 720 palavras durante 10 minutos e 7 segundos; dessas, dedicou 36 palavras e 26 segundos para reconhecer sua derrota e cumprimentar Dilma Rousseff.  

Disse o Zé:

“No dia de hoje, os eleitores falaram. Nós recebemos com respeito e humilde a voz do povo nas ruas. Quero aqui cumprimentar a candidata eleita Dilma Rousseff e desejar que faça bem para o nosso país.”
Depois disso, cumprimentou seus eleitores, agradeceu seus companheiros de campanha (sem mencionar Aécio ou Índio da Costa), e disse coisas bonitas, a respeito de uma guerra:

“Nestes meses duríssimos, quando enfrentamos forças terríveis, vocês alcançaram um vitória estratégica no Brasil. Cavaram uma grande trincheira. Construíram uma fortaleza. Consolidaram um campo político de defesa da liberdade e da democracia no Brasil. Um grande campo político em defesa da democracia, da liberdade e das grandes causa sociais e econômicas do nosso país, que estão aí vivas no sentimento de toda a nossa população.”

O discurso doSerra tá aqui:


Ninguém quer um país sem oposição.  Mas naquele momento, ao término de um processo em que Serra dividiu o país, conclamando os setores conservadores da sociedade, o momento era de apoiar a presidente-eleita  e trazer de volta a paz a uma população cansada de debate sujo.

José Serra saiu menor da campanha.  Depois de tudo isso, e desse discurso de encerramento, creio que Serra esteja acabado para o cenário federal...seu nome agora, é Zé Pequeno.



Só pra lembrar do que se trata o respeito democrático, John McCain fez um belíssimo discurso quando perdeu as eleições para Obama.  Infelizmente não encontrei legendado, mas conto pra vocês como foi.  McCain falou por cerca de 10 minutos.  Agradeceu os votos que teve e abriu dizendo que "o povo falou, e falou com clareza".  Disse que ligou para Obama, controlou por diversas vezes as vaias de seus correligionários, e passou a falar sobre o adversário.  Elogiou a capacidade de Obama de transmitir e instilar nos americanos uma mensagem de esperança.  Falou longamente sobre o fato histórico de terem eleito um descendente de negros.  Falou do passado escravista do país.  Ofereceu sua ajuda a Obama.  O video tá aqui...quem não viu e entende inglês, vale a pena.


É assim que se faz.  McCain foi muito grande nesse discurso.  Serra, muito pequeno.  Infinitamente pequeno pra quem deseja ser presidente de um país diverso como o nosso.

Não acredito que o PSDB volte a patrocinar Zé Pequeno em 2014, quando Aécio estará no meio de um mandato de 8 anos no senado.  Não acredito que Serra se candidate em 2018, quando terá 76 anos.  Não acredito que se candidate ao governo de São Paulo, uma vez que a prioridade será a reeleição de Alckmin.  Restará a Zé Pequeno a prefeitura de São Paulo ou a disputa pelo senado, na qual enfrentaria Suplicy, que ocupa a vaga desde 1991.

P.S. Não se falou muito sobre a demora de Zé Pequeno em discursar ou sobre o teor de suas palavras, exceto por um professor de história desavisado que comentava na Globonews naquele momento.  Fiquei pensando no que poderia ter atrasado tanto o Zé, e descobri que ele mora em casa não declarada ao TSE, localizada à rua Antônio de Gouveia Giudice, 775, em Alto de Pinheiros.  O QG tucano fica no edifício Joelma (tinha que ser!).  Esse trajeto, segundo o Google Maps, levaria cerca de 20 minutos.  Domingo à noite certamente não passaria muito disso.