Eu tiha visto isso, fiquei meio sem entender se isso representa algum tipo de posicionamento do Laerte ou se é simples contestação de fato, de que os "livres-pensadores" são, muitas vezes, entendidos como uns chatos que servem pra incomodar aqueles que estão em paz. Vi uma entrevista recente do Dawkins em que isso ficou bem claro: o questionamento feito a ele era o porque de um posicionamento tão virulento contra uma maioria de pessoas que não tem nada a ver com qualquer problema relacionado à religião.
A resposta - e issom tá em um dos livros dele - é que é no meio moderado que surgem os extremistas. Os fanáticos do islã, são, em sua maioria, educados por uma maioria de professores fanáticos.
Houve também um tempo em que ser eclético era visto como boa coisa. Que será do livre-pensamento.
A gente conversou ontem a respeito, Marcelo, mas vou comentar aqui pro "público"...
Acho que a questão aqui não se refere à "tolerância" hipócrita contra o pensamento crítico, mas sim ao "politicamente correto" e o "politicamente INcorreto" no atual clima de briga "liberais de esquerda" x "polemistas neocons".
O interessante é que não sobra "boa imagem" pra ninguém aqui.
Um exemplo que, na minha opinião, ilustra a questão desse "pensamento livre auto-intitulado" ao qual o "esnobe de dentro" da tirinha se refere: anos atrás, num comentário de blog, vi alguém se referir à Yasser Arafat como "aquele terrorista aidético".
Me lembro que foi assim, do nada. Não foi em meio a alguma discussão acalorada sobre "validade" de terrorismo ou sobre a Palestina -- foi um insulto meio gratuito, no meio de assunto outro, feito mais para "chocar" e mostrar quão sagaz, bem-informado e sem papas na língua seu emissor era. A gratuidade da declaração, e não seu conteúdo, é que me deixou surpreso; ecoava um tipo de self-righteousness que sempre me deixa ressabiado.
O comentário, para mim, dava impressão de ter o objetivo de irritar e atrair pessoas "de esquerda" à discussão. Não houve retorno naquela ocasião, contudo --ninguém se interessou (ou se ofendeu).
Desnecessário dizer que esse tipo de declaração "politicamente incorreta", fruto de um certo "pensamento livre", costuma ser reverberada em blogs dos mais batutas como este aqui: http://juliosevero.blogspot.com/2007/07/lder-mximo-do-terrorismo-contra-israel.html
Agora... vamos à "exegese" da tirinha -- minha costumeira interpretação-viagem.
O que me pareceu é que o cara tranqüilo dentro da casa, ouvindo música e bebendo whiskey, representa a dominância cultural da esquerda no Brasil -- aquela que costuma ser chamada de "comunista caviar" ou "esquerda on the rocks" pela "nova direita" brazileira. É uma característica curiosa mas conhecida do Brasil o fato de que sua alta cultura, ainda que formada por elites econômicas, tem fortes raízes em posições esquerdistas (ainda que superficiais ou calcadas mais na culpa e na condescendência sociais que na compreensão).
Do lado de fora, querendo "entrar" nesse espaço chique onde se houve música italiana e se bebe whiskey -- isto é, querendo fazer parte da elite da alta cultura, -- estaria um homem que representa o "polemismo" da nova direita brasileira, uma nova estirpe de intelectuais ligadas à mídia que, no reboque dos neo-conservatives gringos, procura ganhar visibilidade e adesão na base da agressividade retórica e da crítica ao que chamam de "politicamente correto" e ao que consideram consensos tolos de esquerda que dominam no país.
Se aceitarmos essa alegoria, o espírito-de-porquismo do comentário "ele fica puto" funciona então como um toque de humor e crítica do Laerte ao próprio grupo ao qual ele esteve mais relacionado -- a esquerda -- que não deixa de ser pedante e elitista mesmo quando está certa a respeito da truculência de seu interlocutor "politicamente incorreto".
.... enfim, SE isso realmnete for mais ou menos que o Laerte queria dizer... eu gostaria de ter tido a sagacidade de fazer um comentário desses.
"comunista caviar" ou "esquerda on the rocks" é ótimo!
Essa tirinha é um momento raro do Laerte, de discussão política. Ele já fez algumas desse tipo, mas são sempre assim: obscuras, relativamente indiretas e sem qualquer vinculação partidária ou a fatos específicos - o ponto de vista de alguém que observa a política com uma certa distância.
Muito legal, acho que lá pelas tantas a gente ainda encaminha algo maior sobre o Laerte (ou melhor, sobre a obra).
5 comentários:
Eu tiha visto isso, fiquei meio sem entender se isso representa algum tipo de posicionamento do Laerte ou se é simples contestação de fato, de que os "livres-pensadores" são, muitas vezes, entendidos como uns chatos que servem pra incomodar aqueles que estão em paz. Vi uma entrevista recente do Dawkins em que isso ficou bem claro: o questionamento feito a ele era o porque de um posicionamento tão virulento contra uma maioria de pessoas que não tem nada a ver com qualquer problema relacionado à religião.
A resposta - e issom tá em um dos livros dele - é que é no meio moderado que surgem os extremistas. Os fanáticos do islã, são, em sua maioria, educados por uma maioria de professores fanáticos.
Houve também um tempo em que ser eclético era visto como boa coisa. Que será do livre-pensamento.
A gente conversou ontem a respeito, Marcelo, mas vou comentar aqui pro "público"...
Acho que a questão aqui não se refere à "tolerância" hipócrita contra o pensamento crítico, mas sim ao "politicamente correto" e o "politicamente INcorreto" no atual clima de briga "liberais de esquerda" x "polemistas neocons".
O interessante é que não sobra "boa imagem" pra ninguém aqui.
Um exemplo que, na minha opinião, ilustra a questão desse "pensamento livre auto-intitulado" ao qual o "esnobe de dentro" da tirinha se refere: anos atrás, num comentário de blog, vi alguém se referir à Yasser Arafat como "aquele terrorista aidético".
Me lembro que foi assim, do nada. Não foi em meio a alguma discussão acalorada sobre "validade" de terrorismo ou sobre a Palestina -- foi um insulto meio gratuito, no meio de assunto outro, feito mais para "chocar" e mostrar quão sagaz, bem-informado e sem papas na língua seu emissor era. A gratuidade da declaração, e não seu conteúdo, é que me deixou surpreso; ecoava um tipo de self-righteousness que sempre me deixa ressabiado.
O comentário, para mim, dava impressão de ter o objetivo de irritar e atrair pessoas "de esquerda" à discussão. Não houve retorno naquela ocasião, contudo --ninguém se interessou (ou se ofendeu).
Desnecessário dizer que esse tipo de declaração "politicamente incorreta", fruto de um certo "pensamento livre", costuma ser reverberada em blogs dos mais batutas como este aqui: http://juliosevero.blogspot.com/2007/07/lder-mximo-do-terrorismo-contra-israel.html
Agora... vamos à "exegese" da tirinha -- minha costumeira interpretação-viagem.
O que me pareceu é que o cara tranqüilo dentro da casa, ouvindo música e bebendo whiskey, representa a dominância cultural da esquerda no Brasil -- aquela que costuma ser chamada de "comunista caviar" ou "esquerda on the rocks" pela "nova direita" brazileira. É uma característica curiosa mas conhecida do Brasil o fato de que sua alta cultura, ainda que formada por elites econômicas, tem fortes raízes em posições esquerdistas (ainda que superficiais ou calcadas mais na culpa e na condescendência sociais que na compreensão).
Do lado de fora, querendo "entrar" nesse espaço chique onde se houve música italiana e se bebe whiskey -- isto é, querendo fazer parte da elite da alta cultura, -- estaria um homem que representa o "polemismo" da nova direita brasileira, uma nova estirpe de intelectuais ligadas à mídia que, no reboque dos neo-conservatives gringos, procura ganhar visibilidade e adesão na base da agressividade retórica e da crítica ao que chamam de "politicamente correto" e ao que consideram consensos tolos de esquerda que dominam no país.
Se aceitarmos essa alegoria, o espírito-de-porquismo do comentário "ele fica puto" funciona então como um toque de humor e crítica do Laerte ao próprio grupo ao qual ele esteve mais relacionado -- a esquerda -- que não deixa de ser pedante e elitista mesmo quando está certa a respeito da truculência de seu interlocutor "politicamente incorreto".
.... enfim, SE isso realmnete for mais ou menos que o Laerte queria dizer... eu gostaria de ter tido a sagacidade de fazer um comentário desses.
Eu acho que é por aí mesmo, Gabriel.
"comunista caviar" ou "esquerda on the rocks" é ótimo!
Essa tirinha é um momento raro do Laerte, de discussão política. Ele já fez algumas desse tipo, mas são sempre assim: obscuras, relativamente indiretas e sem qualquer vinculação partidária ou a fatos específicos - o ponto de vista de alguém que observa a política com uma certa distância.
Muito legal, acho que lá pelas tantas a gente ainda encaminha algo maior sobre o Laerte (ou melhor, sobre a obra).
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