sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Dos perigos das falsas simetrias





Sugiro que as pessoas leiam ao menos o começo de um texto do Idelber Avelar, que toca no assunto das falsas simetrias (mesmo que versando sobre outro tópico, o da religião), antes ou depois de assistir este trailer.

As lutas de esquerda no período militar estão repletas de equívocos e crimes. Ainda assim, não consigo não ficar cabreiro com o fato de um documentário sobre os crimes da esquerda "terrorista" brasileira no período militar começar a aparecer JUSTAMENTE numa época em que, por ocasião do Programa Nacional dos Direitos Humanos, pegou fogo a discussão sobre investigação e punição para torturadores da ditadura (com direito até a Ministro da Defesa e generais subindo nas tamancas).

É difícil e perigoso julgar um filme sem tê-lo visto. Mas dá pra julgar esse trailer, e o tom do recorte aqui colocado é extremamente significativo.
Não sei se faz juz ao todo. Mas sei que a escolha por mostrar uma fala de Fernando Henrique Cardoso falando de "corrupção" e de "impunidade" já deixa claro pra mim o público-alvo do documentário -- além de ser augúrio de uma bela merda filmada.


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2 comentários:

Carlos Felipe disse...

Mais uma vez o FHC falando abobrinha e sendo falso.

Contudo, acho válido ver de vez em quando o outro lado da moeda, diferente da constante martirização dos guerrilheiros, muitos dos quais praticavam sim atos terroristas.

Sou da opinião de que essas pensões tem servido apenas para premia os amigos dos ex-guerrilheiros que de uns anos pra cá chegaram ao poder.

A falecida esposa do FHC era uma das lideranças da guerrilha, assim como a Dilma e o Dirceu.

Estes grupos não visavam, ao menos na época, libertar o país, mas assumir o poder e impor suas diretrizes.

Enfim, nenhum dos lados tinham boas intensões. Pra variar, as vítimas em sua maioria foram os idealistas iludidos pela propaganda de cada lado e/ou pessoas que não haviam tomado lado algum.

Tentar reparar todos estes equívocos com dinheiro público, é piorar ainda mais a situação, pois não pune possíveis culpados e multa toda a população, que em sua maioria, nada teve a ver com o conflito e sequer era nascido. Pior, premia pessoas que sofreram, mas também causaram sofrimento.

Isto seria um equívoco tão grande quanto obrigar o povo alemão a pagar um tributo a Israel ou a todos os judeus e ciganos do mundo, por causa do holocausto.

Na minha opinião, a partir do momento em que nenhum dos lados concordaria em dar a cara a tapa e assumir seus erros, tanto militares que torturaram, quanto guerrilheiros que praticaram atos impensados, o perdão mútuo é de fato a melhor opção.

Do contrário, se formos cavar erros do passado, teremos de idenizar os descendentes de escravos, e tantos outros injustiçados por erros de governos e conflitos passados.
No fim, veremos que todos hoje, temos direito a alguma reparação, inclusive por coisas que seguem ocorrendo hoje.

Gabriel G; disse...

Valeu pelo comentário, Carlos.
Gostaria de ressaltar aqui dois pontos:

1. Há muito o que criticar na ação dos militantes. Outro dia mesmo eu estava conversando com um colega sobre como os antigos miliatantes que se "deram bem" hoje eram praticamente todos oriundos de elite econônica ou política, enquanto os pobres que se fuderam no regime continuam não-vingados.

Mas a generalização é perigosíssima. Haviam várias militâncias e vários movimentos de guerrilha; existe hoje uma tendência perigosa e filha-da-puta de tachar todos de tão "anti-democráticos" quanto o Regime de direita. Além de ser uma injustiça contra certos militantes verdadeiramente democráticos, para mim essa tendência safada tem como propósito dizer que a ditadura "não era tão ruim assim" consideradas as opções...

É por isso que foquei o começo do e-mail na idéia de "falsas simetrias". Colocar lado da lado iniciativas de guerrilha com TORTURA COMO POLÍTICA DE ESTADO como se fossem "forças equivalentes" é muuuito desonesto pra minha cabeça. Aqui entra uma discussão que transcende a simples "direita e esquerda" ou "comunistas X militares": é a discussão sobre a abominação que é a tortura oficializada.

Um Estado torturador se alimenta daquilo que há de mais baixo e repulsivo no ser humano -- a propensão a humilhar e ferir aqueles que não têm defesa. O sorriso dos soldados Americanos nas fotos de Guantánamo nos ensinam bastante sobre isso -- assim como, em outra foto famosa, o sorriso na cara de jovens nazistas enquanto humilham publicamente um judeu cortando-lhe a barba.

Ccomo o episódio do Wilson Simonal nos ensina, num Estado torturador QUALQUER um está sujeito a ter seus direitos suspendidos. Basta que um desafeto com os "contatos" certos acuse você de algo e pronto: você estaria sujeito a destinos que, dependendo do grau de estupidez e truculência dos encarregados, poderia variar entre uns dias na prisão, choques elétricos no saco ou o "desaparecimento" completo.


2. Por último, gostaria de colocar uma discordância: não acho que a questão da ditadura sejam simplesmente "erros do passado", equivalendo à "escravidão".
Em primeiro lugar, porque porque estamos num Brasil ainda cheio de pessoas que viveram e sofreram essa época -- aliás, somos GOVERNADOS por pessoas que viveram e construíram sua formação política nesse período.

Em segundo, porque por isso mesmo a discussão sobre o horror da ditadura está longe de ter uma conclusão unânime -- ainda há vários a minimizá-la (veja-se a "ditabranda" da Folha de São Paulo).