domingo, 10 de janeiro de 2010

Da Arte (1)

Vou dedicar, de vez enquando, espaço a discussões/definições/citações envolvendo a natureza da arte, que é um assunto que me interessa.
Os grifos nas citações abaixo são todos meus.


Sobre "público", aqui vai trecho de A Arte de governar, de Tatiana Roque:

Não existe um público à espera de uma obra de arte, seja ela uma música, um quadro, um vídeo ou uma instalação. Cada trabalho artístico inventa seu próprio público. Cada obra de arte inventa um gosto novo cuja inexistência torná-la-ia completamente abstrata. Mas esse gosto também a trai, incluindo, ao seu bel-prazer, a obra na vida.
Fora a palavra "gosto", com qual tenho certa reticência, achei legal. O texto ainda tem uma frase que vale a pena destacar, embora não tenha a ver exatamente com arte, mas com política:

"uma ética que não se baseia no dever, mas no devir"
Parece frase de efeito, mas é interessante.


Sobre visão, imagem e a arte... tem esse trecho de uma entrevista com o escultor Waltércio Caldas:

O principal órgão de percepção da arte é o olho. Pensamos através dos olhos. (...) A pintura, para mim, é um objeto muito opaco, em que o olho se fixa. Tenho um interesse nas coisas transparentes, que o olhar atravessa. O olhar vai e volta, não se fixa no objeto. Existe um aspecto lúdico na percepção e o objeto tem uma certa "saúde", uma capacidade de produzir novos significados dele mesmo. É como se, por vezes, a obra olhasse o espectador.

(...) Meus trabalhos resistem em se transformar em imagens. Eles querem ser coisas, antes de serem imagens. Não querem reproduzir coisas, querem ser a antirreprodução. Ao ser reproduzido, o objeto se torna opaco e perde sua natureza transparente. O mundo está sendo vendido às pessoas como se fosse imagem. Quero dizer justamente o oposto. Não quero me separar do jogo do mundo, mas jogá-lo com o suficiente distanciamento crítico para não me deixar levar pelos valores cínicos da aparência.

(...)
Olhar para a arte é compactuar com este abismo que há na frente, um desconhecido ativo que nos atrai e nos impele a encará-lo à revelia de nós mesmos. A função do artista é melhorar a qualidade do desconhecido.


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