quinta-feira, 30 de abril de 2009

Sobre adaptações

Acabei de ler "ensaio sobre a cegueira". Não vou discorrer sobre ele, vamos deixar só o econômico "excelente", e falar que é das coisas que fazem valer a pena falar essa língua bizarra que é o Português
(não queria estar na pele dos tradutores!)

A questão aqui é que minha grande motivação -- ou melhor, meu "toma vergonha na cara e lê logo" foi o filme. Ou, explicando melhor, foi ler o livro ANTES de ver o filme. Filmes são muito poderosos, contaminam a experiência de mídias mais esforçosas (ou "quentes", como diria McLuhan) como a escrita.

Mas, infelizmente -- ou felizmente, não o sei ainda -- vi o trailler.

Espero sinceramente que o filme seja muito melhor do que vi lá. Quando ouvi no trailer a frase "you can make a difference" tive vontade mandar todo mundo que fez o filme ir à porra do caralho da merda das putas que os pariram. Pra mim esse clichezão gringo não tem NADA a ver com o tom lusitano e saramaguiano do livro.

Pode bem ser culpa do trailler -- afinal, feito pra vender coisas aos americanos, e narciso acha chinfrim, esquisitão ou metido a besta o que não é espelho -- mas não sei mais se vou querer ver o filme.

Fico pensando há tempos: a melhor maneira de se falar sobre certas coisas é a escrita. Uma história sobre cegueira como o Ensaio ou sobre um psicopata que entende o mundo pelos cheiros, como é o excelente O Perfume de Patrick Süskind, TÊM NA ESCRITA A SUA MELHOR FORMA DE EXPRESSÃO. DE LONGE.

No caso daadaptação cinematográfica de O Perfume, feita uns anos atrás, o máximo que se consegue fazer é criar alguma impressão cinestésica através da imagem, o que pode ser muito interessante, mas ainda assim incomparavelmente incompleto. Sem falar que a imagem sempre se impõe soberana: não há quem possa com a imagem, e é por isso que com ela deve-se ter cuidado.

(com a vantagem que, em casos assim, no filme se gastam milhões de dólares para um produto que será no máximo "insuficiente". Em termos artísticos, oficórsi, bufunfa vem de montão.)

Como disse, ainda não assisti o Filme do "ensaio" (ou talvez seja melhor chamá-lo só "blindness") mas o trailler me deu impressão de que o que pode-se fazer é apenas representar uma hecatombe mundial. Ou, como já disse o Bruno no O putaqueopariu: fazer um filme de zumbi.

Se quando eu o assistir minha opinião (preconceituosa) mudar, eu escreverei dizendo.


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5 comentários:

Marcel disse...

Gabriel, eu li o Ensaio sobre a Cegueira tem algum tempo e também não assisti o filme por causa desse preconceito que você menciona. Aliás, eu não li o livro, mas detestei o filme "O Perfume", que nada mais me passou que um filme sobre o nariz. Para mim, "O Nariz", digo, "O Perfume", passa um misto de Dr. Hannibal Lecter com algum X-man.
Por outro lado, O Senhor dos Anéis, foi uma boa adaptação, ao meu ver, mas claro, com as limitações que você ressaltou que a linguagem escrita não têm. Obviamente, comentei isso descontando as diferenças entre o Senhor dos Anéis e Ensaio sobre a Cegueira no campo reflexivo-crítico-filosófico.
Inclusive, Gabriel, eu também era um leitor de Histórias em Quadrinho, mas diferentemente de você, eu lia o POP Homem Aranha mesmo, e a adaptação (tirando o último filme) foi interessante, mesmo assim decepcionou os fãs no sentido das modificações introduzidas no personagem central, e também me incomodou a superficialidade que o filme trata o "Mal du siècle" e crises existêncais que atingem os heróis POPs da Marvel em geral... Mas enfim, foi razoável ver o Aranha se balançando nos arranhacéus de Ney York...
Outra adaptação, essa sim, muito surpreendente é o filme "O Processo" feita pelo diretor gênio Orson Welles ao livro de Franz Kafka de mesmo nome...
O que estou querendo dizer, é que acho que também vou dar uma chance ao filme "Ensaio", mesmo não esperando muita coisa...

Marcel disse...

P.S: De onde surgiu esse "y" no lugar do "W" em "New York"????!!!!
Que gafe...

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

"Ney York": famoso cantor brega de Santa Maria do Suaçuí, Minas. Of course!

rsrsrs!

Paulo S. Sak disse...

Olá amigos! Parabéns pelo blog, o conteúdo é excelente e está na minha lista de preferidos.

Quanto ao filme. Basta vê-lo. Não serão duas horinhas de imagens na telinha que tirarão a excelente impressão deixada pelo ensaio saramaguiano.

O diretor brasileiro tentou ser o mais fiel possível à obra do escritor e estava apreensivo para não desagradá-lo. Talvez tenha conseguido o intento, até porque arrancou algumas lágrimas de emoção dele na estréia do filme.

Claro que a impressão face a uma obra desta envergadura para nós é sempre a mesma: o livro é melhor.

Mas duas horinhas no sofá comendo pipoca, não fazem mal a ninguém. Qualquer coisa é só escovar os dentes e tudo fica BRANCO de novo!!!

Gabriel G; disse...

Olá, Paulo. Sempre é bom ver alguém comentando... (o Marcel já é habituée, hehehe)

Este é um post revoltado, escrito no momento de indignação (tem uns outros por aí, em um deles eu detonei a coitada da Revista Zupi). Provavelmente vou assistir o filme sim. Particularmente, fiquei muito curioso com as cenas em São Paulo. Mas vai demorar um pouco, o filme terá de vir até mim, digamos...