terça-feira, 5 de maio de 2009

NO JUMP YES DANCE





Tanto eu como o Marcelo estamos planejando há tempos falar do que anda aparecendo de experimentalismo nos espaços jornalísticos para quadrinhos. E quando penso a respeito, essa História em Quadrinhos acima sempre me vem à mente.

Essa é uma das HQs mais belamente e genialmente non-sense que eu já vi.
Ou melhor: nonsense não é o termo mais adequado. Embora algumas coisas pareçam gratuitas, há metáforas bem visíveis. O mais certo seria falar aqui em simbolismo ou "surrealismo".

Na minha leitura, Laerte procura construir aqui, com o humor e estranhamento que lhe são característicos, uma alegoria sobre tempo, morte e arte.

Percebam que, enquanto os acontecimentos da vida do Minotauro são mostrados, a caveira é mostrada sempre com um "enquanto isso:".

É visível que, na última linha de quadros, o minotauro troca de lugar com a caveira; mas percebam que ele faz isso rompendo a sarjeta -- o espaço branco entre quadros, que é mecanismo de seqüenciação e passagem do tempo. Ao fazer isso, ele,no outro lado do penhasco, está "fora do tempo": e a forma de Laerte mostrar isso é a maneira como a caixa de texto recordatória de "enquanto isso", que antes indicava o tempo de maneira automática em nossa leitura, torna-se de repente um objeto estranho nas mãos algo surpresas do Minotauro.

Minha viagem: a morte é o eterno "enquanto isso". Não é outra coisa que significa "nós que aqui estamos por vós esperamos". Não importa o que esteja sendo feito por você em qual ponto do mundo, enquanto isso os mortos continuarão mortos.

Outra viagem minha: qual seria o vale que o Minotauro quer pular? Eu creio que é o "vale da morte", esse mesmo que aparece em oração. O sábio-ânfora informa ao minotauro que não se vence a morte na busca pura pelo objetivo (pular), mas no ato estético (dançar)

O ato estético do Minotauro, a dança, é o que conquista a morte. E ao mesmo tempo em que o Minotauro pula fora do tempo, seu espectro "morto" se anima e pula dançante para o lado dos "vivos". A Arte é a imortalidade, é o fora-do-tempo: no ato estético temos o "enquanto isso" em nossas mãos, enquanto aquilo que é finado permanece animado.

O contraponto do ato estético está na mulher assistindo televisão. O programa de televisão aqui não é "arte", mas uma distração; e percebam que Laerte não se referiu a programinhas Big Brother ou Faustão, mas a ficções comerciais mais interessantes (...eu e a Dani sempre assistimos House e The Big Bang Theory...)

Vida, morte e arte acontecem lá fora, mas a resposta da mulher alheia a tudo diante da televisão é sempre um "assim que acabar...".


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5 comentários:

Gabriel G; disse...

Acho que este texto deve estar simplesmente incompreensível. Perdão.

Uma hora eu o reescreverei com mais cuidado e detalhe.

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Tá não. É que é uma história muito complexa mesmo, acho a sua análise válisa, e me lembro de ter discutido essa história contigo - provavelmente com outra conclusão.

Mas algumas coisas são certas:

1) não é non-sense, por mais esquisita que a história seja;
2) as referências ao minotauro do Laerte estão muitas vezes ligados ao tema "morte", ou à perplexidade perante um mundo difícil de ser compreendido;
3) as referências à House e "The big bang theory" - sou fã também são necessárias - é pra deixar claro que tem "coisas melhores a fazer que perder tempo com bobagens (a dança). E outra, o Laerte é outro nerd.

adriano disse...

caralhoputaquepariucaralho. boa interpretação

Gabriel G; disse...

Valeu, Adriano!

Aliás, fui dar uma olhado no seu site: bem bonito, e muito boas as suas fotos!

Apareça sempre.

Gabriel G; disse...

Marcelo, o Laerte realmente tem toda a cara de ser nerd. Mas acho que não é um nerd de ficção científica...