quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Inferninhos artificiais

Só pra futura referência.

Você que estiver lendo isso: já pensou que, enquanto você faz aí o que quer que esteja fazendo, tem alguém pensando SERIAMENTE no potencial do emprego da realidade virtual e da estimulação sensória artificial como instrumento de castigo penal?

Alguém aqui já pensou no significado que um hamurábico “olho por olho e dente por dente” adquire quando se puder fazer um assassino, um estuprador ou um seqüestrador (excluídos aí os malucos totais e completos) saberem e sentirem EXATAMENTE os efeitos de seus atos sobre suas vítimas?

(certamentente existem volumes de discussão e de ficção a respeito. Se não vier por aí nenhuma hecatombe mundial nos próximos 20 anos, isso ainda será algo discutido publicamente a sério)


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6 comentários:

sandramilk disse...

Lembrei um pouco do filme Busca Implacável em que um agente secreto aposentado tem sua filha raptada em Paris por traficantes de mulheres. Sozinho e de forma mirabolante, ele consegue resgatá-la, massacrando toda a rede internacional envolvida. Mas vc fala na realidade virtual e da estimulação sensória artificial como instrumento de castigo penal. A violência é sempre algo tão brutal,inumano para mim que tenho dificuldade de aceitar o hamurábico olho por olho. Talvez por não ter vivido de perto um caso de sequestro ou estupro. Não sei ... Acompanho alguns fóruns de políticas públicas que lidam com estas questões... Em muitos casos o vitimizador já foi um vitimizado. Reproduzir a violência virtualmente só dá sequência ao ciclo de vitimização. A idéia da realidade virtual na aplicação do castigo penal parece dar uma nova dimensão a frase de Hobbes, "Homo homini lupus" , o homem como lobo do homem .... Fiquei inquieta com a idéia que me parece um retorno a era das trevas...Submeter o violento a mesma violência... Mas a discussão que vc propõe realmente precisa ser iniciada...

AlexRene disse...

Laranja Mecânica. Não é exatamente o que eles fazem no filme, mas quando Alex está livre se torna indefeso perante o que plantou antes do encarceramento. Em suma, se torna potencialmente pior pois agora é vítima. A razão está com ele, moralmente falando. A linha que divide o vitimizador do vitimizado é muito tênue, e de qualquer forma há de se criar o ambiente psicológico em que a vitima "atuou" para que o acusado sinta o mesmo choque. Mas isto é realmente muito pano pra manga. Ainda fico com o efeito da irônica frase de André Dahmer: "Assassinos. Vamos matar todos eles!!!"

Gabriel G; disse...

Alex, engraçado eu estava justamente lembrado do Laranja Mecânica nesta tarde... mas cheguei à conclusão que LM era mesmo um triunfo do funcionalismo: ninguém estava interessado em fazer Alex (seu xará) sofrer por motivos morais, mas simplesmente em torná-lo inofensivo e funcional. (nessa hora, a própria idéia de "punição" até parece mais humana, hehehe...)

O Dahmer é sempre pertinente nessas horas! :)

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Sei lá, não acredito. Penso justamente o contrário: só com uma hecatombe para que isso seja discutido e aplicado largamente (tortura militar é outra história). É que da forma como as penas vem sendo discutidas nos últimos tempos, e do jeito que os direitos humanos "pegaram", acho muito difícil um recrudescimento nesse nível para o "cidadão-ladrão" comum.

Enfim, embora seja possível, vai ficar na ficção.

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Você leu a história toda do "Santo Érico da Cabeça Arrancada"?

Gabriel G; disse...

Ah, lá vem o Marcelo fazer água no pessimismo da gente!... :)

É bom ter a opinião de alguém do direito... não acho que as instituições realmente aplicariam algo assim, mas acho que deve haver sim gente de fora delas que fica matutando seriamente a respeito.


Quanto ao Santo Érico... me parece uma das HQs mais insólitas do Laerte, e dizer isso não é pouco.