domingo, 19 de outubro de 2008

Vou fazer o ato horrível de tagarelar antes de mostrar.

O texto abaixo é de um cara chamado Neto, publicado blog Updaters, e eu li no blog do Marcelo Tas (a primeira vez que entrei lá, e gostei)

Ele de certa forma trabalha com clichês. Mais especificamente, ecoa para mim o clichê do Slideshow "edificante" ou "emocionante", e me interessa por ser a primeira vez que vi uma referência a isso. (Esses vagalhões de "ppts f:fwd" que abundam na web, ainda que tenham por vezes me proporcionado o contato com curiosidades muito interessantes, podem ser em sua grande massa considerados sem reservas um mar de pieguice, preconceito e mau design.)

Mas o que me chamou atenção no texto abaixo é o fato de eu não ter pensado ainda sobre o aspecto que ele aponta. Enfim, uma dessas verdades óbvias que eu não havia parado para considerar desde que essa tar de "crise" começou.


ei, você aí, me dá um dinheiro aí?


Vou fazer um slideshow para você.

Está preparado? É comum, você já viu essas imagens antes.

Quem sabe até já se acostumou com elas.

Começa com aquelas crianças famintas da África.

Aquelas com os ossos visíveis por baixo da pele.

Aquelas com moscas nos olhos.

Os slides se sucedem.

Êxodos de populações inteiras.

Gente faminta.

Gente pobre.

Gente sem futuro.

Durante décadas, vimos essas imagens.

No Discovery Channel, na National Geographic, nos concursos de foto.

Algumas viraram até objetos de arte, em livros de fotógrafos renomados.

São imagens de miséria que comovem.

São imagens que criam plataformas de governo.

Criam ONGs.

Criam entidades.

Criam movimentos sociais.

A miséria pelo mundo, seja em Uganda ou no Ceará, na Índia ou em Bogotá sensibiliza.

Ano após ano, discutiu-se o que fazer.

Anos de pressão para sensibilizar uma infinidade de líderes que se sucederam nas nações mais poderosas do planeta.

Dizem que 40 bilhões de dólares seriam necessários para resolver o problema da fome no mundo.

Resolver, capicce?

Extinguir.

Não haveria mais nenhum menininho terrivelmente magro e sem futuro, em nenhum canto do planeta.

Não sei como calcularam este número.

Mas digamos que esteja subestimado.

Digamos que seja o dobro.

Ou o triplo.

Com 120 bilhões o mundo seria um lugar mais justo.

Não houve passeata, discurso político ou filosófico ou foto que sensibilizasse.

Não houve documentário, ong, lobby ou pressão que resolvesse.

Mas em uma semana, os mesmos líderes, as mesmas potências, tiraram da cartola 2.2 trilhões de dólares (700 bi nos EUA, 1.5 tri na Europa) para salvar da fome quem já estava de barriga cheia.


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3 comentários:

Gabriel G; disse...

Ingênuo ou não, por mais cara de "Zona Sul" possa ter para algumas pessoas, é certo que há aqui um atestado válido e genuíno de um desacerto impressionante e, no momento, indisfarçável.

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Interessante. Obviamente, o "salvar as bundas dos que já tem" é exatamente o que tem sido feito, mas creio que por motivos que talvez evitem um mal maior, não sei...

Mas é realmente impressionante pensar que 120 bilhões de dólares não signifiquem nada para uma emergência do mundo financeiro; e que a miséria mundial não significa tanto para o mundo, ou seja, não é uma situação emergencial - para aqueles que sempre tem as bundas salvas.

Anônimo disse...

Interessante, realmente, não havia pensado nisso também...
Mas, como disse o Marcelo, talvez seja questão de se evitar uma crise muito maior... Mas, sei lá, pra ser simplificador também, a lógica que move mercados e os faz serem salvos com trilhões de dinheiros é a mesma lógica e sistemática que precisa que as crianças esqueléticas existam, seja por serem um tipo de simbolo do que seriamos caso "não fossemos ricos" ou como prática de mercado onde deve existir um dominado moribundo... Foucault dizia que o crime era uma afronta ao próprio príncipe, e por isso era punido com tanta crueldade na idade média, pois todo crime era uma afronta física ao próprio monarca, que além da pirotecnia em praça pública, exibia uma parada militar, para extirpar o criminoso da sociedade e ritualizar a politica do medo, demonstrando a população e ao inimigo do Estado, qual será seu fim certo caso afronte o poder monárquico, ou na época, o Estado em si...
Faço paralelo, dizendo que os famintos também servem de simbolo ao Capital, pois é isso que acontece com quem afronta o Capital e não cumpre suas metas, hoje o Capital é o próprio organismo mundial e quem está fora dele deve ser nada, não merece sua compaixão, deve ser exposto com seus ossos apodrecendo em vida: "Vejam, você tem dó deles, não têm?! Pois bem, sigam a lógica de mercado, louvem o mercado e agora, salvem o mercado e o grande Capital"... Obviamente, isso não é consciente e sim uma análise que se move por si, fruto do que somos, da mesma forma que o Gabriel citou em tempos atrás no Chá pra Pérsia...