quinta-feira, 25 de setembro de 2008

calma, nada acabou

A atual conjuntura política norte-americana e a crise financeira atual me levaram a pensar em uma série de coisas. Este é um texto despretensioso, que me acusem caso eu escreva muita besteira por aqui.
A crise que vivemos é financeira, pelo menos até aqui. Crise financeira não é exatamente uma crise econômica, é uma crise do sistema capitalista financeiro – leia-se crise das bolsas de valores, crise de especuladores. Obviamente, uma crise financeira pode levar o mundo a uma crise econômica, uma vez que a economia mundial hoje é, em grande parte, sustentada em papéis. Alguns com lastro na economia real, outros com valores inflacionados ou deflacionados pela especulação dos investidores globais.
A economia dos Estados Unidos é, em grande parte, sustentada no mundo abstrato das finanças. As linhas de produção estão fora do país, muitas das empresas que mais se valorizaram são empresas de internet, cujo valor é avaliado pelo potencial de visibilidade e utilização por parte dos usuários da internet e softwares, outras, são empresas que cresceram aproveitando um período de ouro iniciado na era Clinton (bons tempos!), e começaram a oferecer crédito mobiliário sem qualquer lastro na economia real, simplesmente na expectativa de que o crescimento econômico seria capaz de manter os compradores pagando suas prestações.
Achar que o governo americano não interfere no mercado porque segue os princípios do liberalismo econômico é uma grande ingenuidade. Desde o crash de 1929 o governo tem comprado títulos podres, assumindo dívidas cada vez mais mirabolantes e agindo em todos os âmbitos possíveis – subsidiar agricultura não é interferência direta no mercado? Provocar artificialmente oscilações drásticas no preço do petróleo através da máquina de guerra não é influir no mercado? E quanto ao fato de que eles ainda são donos da moeda de troca internacional? Convenhamos, possuir estatais não é a única maneira de por uma mão muito visível na economia real.
De qualquer forma, o fato de que os Estados Unidos compraram a maior seguradora do mundo deixou muita gente enxergando indícios do fim do Império Americano, como se os princípios do liberalismo e não a riqueza material, territorial, poderio bélico e força da grana não fossem o que fazem deles a grande potência mundial. Acontece, que o capitalismo tem uma característica muito peculiar: quem comanda são os detentores dos meios de produção, e isso dá a essa gente o poder de manipular o meio econômico para fazer o que bem entenderem. A não-interferência estatal é desejável em muitos momentos, mas se tiver como objetivo salvar as bundas tocadas pela água que sobe, a história é outra.
No Brasil, cansamos de ver governo salvando pequenos banqueiros (pequenos mas muito, muito ricos e influentes). O Brasil quebraria sem o PROER? Certamente que não. O mundo financeiro quebra sem o pacote de salvamento às seguradoras e bancos de crédito imobiliário nos Estados Unidos? Não se sabe.
O problema dessa crise toda, é que como os valores das empresas variam conforme o humor dos investidores, ninguém sabe muito bem qual é o tamanho do buraco. Começaram falando em US$100 milhões, o pacote proposto pelo governo Bush é de US$700 bilhões, tem gente falando que na verdade, seriam necessários US$1,3 trilhões!!! Só como parâmetro, o PIB do Brasil em 2007 foi de exatamente US$1,3 trilhões.
Não me espanta ver o governo Bush pedindo essa quantidade de dinheiro ao Congresso. Quantas vezes vimos o legislativo americano liberando adicionais de 100, 200, 300 bilhões de dólares para financiar as guerras do Afeganistão e Iraque? Mas dessa vez, tem dois lados a serem analisados:
1) Os republicanos são malvados, mas burros eles não são. Nunca um presidente pediu tanta grana para o Congresso, se eles estão assustados na casa de US$700 milhões é melhor a gente pensar um pouco.
2) O governo Bush tem como característica conseguir as coisas do Congresso criando uma sensação de medo geral. Quem garante que dessa vez eles não estão se utilizando do mesmo recurso? Dizem “não há tempo para discutir, o mundo vai acabar, liberem a grana logo e depois a gente discute.” Isso tem deixado o Congresso com uma pulga atrás da orelha...é o problema de gritar “lobo” de brincadeirinha, de repente agora não levam a sério. Não nos disseram que tinham certeza de que havia armas de destruição em massa no Iraque?
Li ontem, em algum lugar que é inadmissível que na hora de repartir os lucros, as coisas sejam privatizadas, e na hora de repartir prejuízos, as coisas sejam socializadas. É verdade, mas é assim que as coisas são mesmo. Porque seria diferente agora? O dinheiro dos Estados Unidos vem de todos nós, mas talvez seja melhor que eles (o povo americano) tirem do bolso e resolvam logo essa merda do que deixar estourar e fazer com que todo o resto do mundo divida um problema cuja culpa reside exclusivamente nos investidores dos países desenvolvidos. É injusto pro povo norte-americano, a culpa é dos banqueiros, do governo, dos republicanos...mas ninguém mandou eleger aquela anta! Até agora não há números exatos, mas um economista disse na Globonews que 700 mil americanos já foram atingidos diretamente pela crise imobiliária – tiveram que devolver suas casas. Isso significa que 700 mil pessoas compraram casas sem ter condições de pagar, sob a garantia do mercado de que havia crédito dando sopa por aí. A pobreza é facilmente mascarável no mundo capitalista dos países ricos...mas em certas situações a realidade social aparece com toda a força – quem ficou pra trás em New Orleans quando a cidade foi devastada pelo furacão Katrina?
Não sei onde isso tudo vai dar, mas a coisa não cheira bem. Espero que isso tudo se resolva após as eleições presidenciais, pode ser jogo dos republicanos mesmo, tentando favorecer os apoiadores antes de talvez deixar o poder por um bom tempo...ou pode ser que a merda tenha chegado a um nível insuportável mesmo para os Estados Unidos, que na verdade, já convivem com a maior dívida pública do mundo há muito tempo.
P.S. No meio de tudo isso, vale lembrar que há alguns anos, o Brasil já teria de desmanchado no começo de uma crise dessas...é só lembrar que costumávamos desmanchar nas crises da Rússia, do México, da Argentina...dessa vez não é a crise de fucking Zâmbia, é a crise da maior economia do mundo, pelo amor de Zeus!! E tem gente mundo afora dizendo que o Brasil agüenta o tranco...e tem gente achando tudo por aqui muito ruim. Segundo a CNT/Sensus são 6% achando tudo uma merda, contra 77% que dariam o próprio rabo, caso o Lula estivesse a fim.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Marcelo, não querendo ser chato... Mas o pedido foi de 700 bilhões de dólares e não milhões... É só uma errata... rs!

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Opa...tem razão, foi corrigido.