quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Antiamericanismo e a lei do WAR (sim, o da Grow)


Antiamericanismo é um preconceito como qualquer outro, só que está no seu auge. Em outros tempos, era natural pensar um monte de bobagens que ninguém questionava...era natural escravizar negros, natural que mulheres servissem de mesinha de centro, natural que homossexualismo fosse visto como doença.
Creio que o antiamericanismo é um sentimento provocado simplesmente pelo fato de que eles estão por cima. Proponho a reflexão sobre alguns temas:
“Se o Brasil fosse a maior economia do mundo, seríamos melhores para o mundo”
Será? O que indica que sim? O fato de que somos excelentes vizinhos para os hermanos latinos? Somos mesmo? Ao que me parece, o Brasil é visto pelos vizinhos como um país arrogante e imperialista...e isso muito antes de Hugo Chavéz, Evo Morales e Rafael Correa. Taí o Paraguai querendo renegociar Itaipu, a Argentina atravancando Doha...o que esses caras engolem, engolem porque podem ainda menos que a gente.
“Americanos são burros. Acham que Buenos Aires é a capital do Brasil”
Pois é, alguns muitos acham isso mesmo. E a gente sabe que Washington é a capital deles. Pergunto: alguém acha que notícias de Brasília são destaque nos EUA? Qual será a diferença do número de vezes que ouvimos falar em Washington e eles em Brasília? De qualquer forma, pense em um país que ocupe uma posição mais parecida com a nossa, ou seja, de menor destaque no cenário mundial:
1) Quantos brasileiros sabem qual é a capital da Austrália? Tenho certeza que de muita gente não tem a menor idéia, e de que muita gente acha que é Sidney. A Austrália é um país grandão no hemisfério sul.
2) Quantos brasileiros sabem qualquer coisa sobre a Índia? Um país grande, de população enorme e com uma economia mais ou menos do tamanho da nossa? Sabem qual é a capital?
Enfim, eu poderia passar o texto todo dando exemplos desse tipo. Os fatos são que nos EUA há menos analfabetos, o sistema público de educação é muito melhor (talvez pior que as melhores escolas particulares do Brasil), o ensino superior é MUITO melhor que o nosso, o nível de consciência política é muito maior que o nosso – mesmo entre os conservadores)...porque achar que o americano médio sabe menos que o brasileiro médio?
“A cultura americana é uma merda”
Discordo. Na minha opinião, na cultura americana tem muita merda. E tem muita coisa boa. Fazem música muito bem, cinema muito bem, quadrinhos muito bem, teatro muito bem, musicais como ninguém...
“ah, mas o cinema europeu é muito melhor”
Mas é menos massificado. O que a gente vê por aqui certamente é o filé mignon da produção européia...no seguinte sentido: para um filme europeu viajar o mundo, tem que ter algum sucesso por lá. Pode ser que a qualidade média seja melhor, mas por outro lado, temos que pensar no tamanho de Hollywood...é um lugar onde qualquer idiota com qualquer idéia e qualquer orçamento produz um filme. Se pudéssemos escolher os 20 melhores filmes americanos de cada ano talvez a impressão fosse outra.
“mas o cinema brasileiro é muito melhor”
É?
O que eu quero dizer com tudo isso: acho que esse sentimento de antiamericanismo, no fundo, esconde uma certa inveja. É como no WAR, aquele jogo da Grow...o cara que ta ganhando, de repente ta tomando tiro de tudo quanto é lado, e é um dos nossos, é amigo...quem ta ganhando não fez nada de mais, a não ser ter alguma sorte nos dados ou nos territórios de saída (e claro, alguma noção de estratégia).
Quem é rico no Brasil gosta de ostentar: carrões, jóias, roupas, penteados, cirurgias plásticas...e exatamente igual! Mesmo a nossa classe média tem um bom tanto disso...em cidades ricas e novas então...nem se fala!!
Isso não exime os EUA das críticas habituais, o governo é nefasto, as políticas internacionais são horríveis...mas o americano não tem culpa de ser alienado, da mesma forma que os meninos não tem culpa pelo crack que fumam. É uma questão de como a conjuntura das coisas se apresenta. Acontece que a crítica aos EUA tem proporções maiores porque eles SÃO maiores. Um peido do Bush faz um buraco maior na camada de ozônio que o do Lula, simples assim.
Enfim, não se trata de uma defesa dos EUA, sai de retro!!! É só uma reflexão sobre a hipocrisia de quem critica tudo aquilo que gosta pelo simples fato de que os caras estão melhor que a gente em praticamente tudo. Só isso.
Dá pra escrever um texto muito parecido sobre a birra Brasil x Argentina.
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13 comentários:

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Ah, lembrei o que motivou esse texto, acabei nem citando: ontem eu li um livrinho sobre o Tom Jobim, contando sobre um período em que ele andava meio esquecido por aqui e foi morar nos EUA, onde tinha muito mais público pra música boa (tem até hoje). Além de não receber o devido valor por aqui, o cara começou a ser achincalhado pela imprensa, que o acusava de estar "americanizado"...de fato, ocorria o contrário: o Tom nunca deixou de fazer Bossa Nova, e o fato de ter traduzido algumas letras ajudou - e muito - na divulgação da nossa música por lá.

O mesmo vale pra pesquisadores...se de repente você é chamado pra trabalhar em Harvard, sei lá...vai recusar? Pode até ser que sim. Mas se for pra lá, vai ficar achando tudo ruim, quando você ganhou todas as condições de desenvolver sua carreira?

A gente costuma achar ruim quando estrangeiros falam mal da gente, não?

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Ah, e mais uma coisa:

acho importante entender o antiamericanismo como um preconceito pra gente não ficar pensando muita bobagem. Tem que entender que os caras agem daquela forma porque estão na posição que estão, é da natureza capitalista fazer de tudo pra continuar em cima.

Não pensar sobre isso, equivale a assistir um documentário de leão e zebra na discovery e ficar pensando:

"ó lá...ó lá, vai pegar...porra, pra que isso?? Putz, tá chegando, pulou...ai!!! Pegou, caralho, filho da puta!!! Ó lá...PORRA!!! mordeu o pescoço, caralho..."

Ou seja: os caras não vão agir de outra forma senão aquela que é a adequada. E ninguém, no lugar deles, com a história deles (ou com a nossa) faria diferente - vide outros impérios.

AlexRene disse...

Isto é muito relativo. Desde como fomos colonizados e como crescemos com isso, até a falta de oportunidade que é o grande resultado destes que citei, o maior problema do brasileiro é não aceitar o seu modo de fazer cultura. Ter influência é normal e saudável, principalmente no meio artístico, mas já se comparar e pesar as coisas é burrice. Aliás, todo tipo de preconceito nasce da ignorância. Estudemos a história e analisemos sob a visão da antropologia qualquer nação e podemos porque cada povo é de "um jeito".
Temos ótimas obras de arte que os estadunidenses nunca poderiam criar porque são resultado da nossa visão interna do social, em compensação eles tem as deles. A diferença maior é o marketing empregado nisso, ehheh...

Enfim, algumas coisas que me fizeram admirar a cultura deles:
-Preacher
-Bob Dylan
-Charles Bukowski
-Jack London
-Henry David Thoreau (a paisagem)
-Beatniks
-Martin Scorsese
-Frank Capra

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Alex,

Não sei se entendi muito bem, mas a questão aqui não é comparar a nossa cultura com a deles. Eu cito as comparações de produtos culturais mais no sentido de questionar a razão pela qual muita gente torce o nariz para algumas coisas só porque são americanas. Eu gosto muito de algumas coisas de lá, mas garanto que gosto mais das de cá.

Mas você tem razão, muito brasileiro é complexado com a nossa maneira de fazer cultura...de qualquer forma, como você disse, a gente produziu e produz muita coisa que eles não poderiam ter feito, o contrário é verdade também. Ambas as culturas são muito ricas, creio que as ex-colônias tem algo em comum na produção cultural que as destacam do resto do mundo, mas aí é outra discussão.

Obrigado pelo comentário, apareça!

Anônimo disse...

Eu no War sou a Al Qaeda... Marcelo, eu no War II quando estava perdendo, mas tinha muitos aviões, lancei todos contra o império do Tiago, mesmo não sendo meu objetivo e estando do outro lado do mundo... rs!!!
... Gostei do texto, expõe a verdade nua e crua, mas fiquei pensando também, será que se chegássemos a ser uma potência não teríamos uma diplomacia melhor e seríamos menos beligerantes? Por exemplo, Atenas floresceu, até determinada época, como uma forte cidade-estado sem guerrear (tá depois guerreou)... E o próprio Bill Clinton atacou o Kosovo e não provocou tão forte sentimento antiamericano, não é?!?
Bem, em resumo, o que estou querendo dizer, é que há jeito de dar uma bofetada de forma mais suave e acho que ai que reside a despida e verdadeira crítica antiamericana, pois concordo com você Marcelo, se fossemos um Império, faríamos quase tudo para manter o poder...

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Pois é Marcel, é por aí mesmo...mas na posição em que os EUA se encontram, qualquer ação militar gera antiamericanismo - aí com razão.

O Clinton não tinha nada que se meter no Kosovo, não me lembro muito bem como foi aquela história, mas acho que lá o problema que eles alegavam para intervir era real - evitar uma limpeza étnica - ao contrário da entrada do Bush no Iraque para procurar as tais armas de destruição em massa...cabe pesquisar direitinho e relembrar a história do conflito no Kosovo.

Quanto ao negócio de que se fossemos um império faríamos de tudo para nos manter...a gente faz de tudo para manter a hegemonia na AL, e isso já incomoda muita gente.

AlexRene disse...

Cara, desculpe se não me expressei bem. Eu quis citar justamente o preconceito que você expôs. Te dou completa razão sobre isso, mas quando disse que muitos se comparam falo dos que dizem que somos melhores que eles. Há uma comparação nisso quando dizem que "somos melhores".

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Imagina Alex, a falha é minha, é que a linguagem escrita as vezes deixa algumas coisas no ar mesmo...é por aí mesmo, a comparação existe por parte dos que simplesmente assumem que somos melhores sem pensar no que estão dizendo ou no próprio conceito de estética". Valeu pelo comentário, apareça mais por aí!

Gabriel G; disse...

É interessante que, neste momento, estou lendo justamente um capítulo sobre nacionalismo e cosmopolitismo na produção e crítica cultural num livro do Marcelo Coelho (colunista da folha).

Essa é uma questão muito rica.

Fazendo coro: a cultura Americana é riquíssima. Sua excessiva industrialização cultural produz uma quantidade de merda impressionante, bem como cacoetes e clichês industrializados que se infiltram em coisas que poderiam ser boas (o que julgo mais danoso do que a simples merda total). Mas acho que seria possível defender que, em média, os EUA têm a "indústria cultural" de maior qualidade do mundo.

Alguém aqui já viu a indústria cultural da França? Se for tudo igual a "O pacto dos Lobos", que venham los gringos! hehehe

Isso também disse...

Considerando o antiamericanismo um sentimento manifestado seja pela raiva, inveja ou simplesmente para reforçar a nossa própria identidade, assumo que de certa forma sou meio antiamericana sim. O meu lado antiamericano me toca quando eu penso em EUA enquanto Estado e não enquanto nação. Sou antiamericana por discordar de como eles fazem política, esta que aparentemente se diz soberana mas que apresenta claros sinais de fraqueza e por isso a guerra é tão necessária, faz parte do neo imperialismo.
Chego a conclusão que este sentimento é o que alimenta a minha critica.
Quanto à exportação de bens culturais, só nos resta relaxar e gozar. Yes, we can!

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Olá,

Concordo com seu comentário, é difícil encontrar alguém que possa defender, em sã consciência, a forma como os EUA se comportam perante o resto do mundo, e muitas vezes, em relação à sua própria população.

Da mesma forma, é difícil pra muitos vizinhos nossos engolir algumas posturas brasileiras, aidna que o momento atual da política externa brasileira tenha gerado uma pagação de pau até então inédita.

Eu só penso que esse sentimento não justifica uma reação contra qualquer coisa que saia de lá, ou mesmo contra o "cidadão comum". O "Bob", que trabalha numa fábrica qualquer em Detroit não tem muito a ver com isso, por mais que seja eleitor (a gente não faz muito melhor...é só lembrar que ainda há um eleitorado fiel ao Maluf).

Ocorre que pela importância geopolítica norte-americana, não ocorre com eles um descolamento entre o que se pensa do Estado e da população.

Pra exemplificar: as presenças da conservadora Margaret Tatcher e do fidaldo Tony Blair não foram capazes de gerar um sentimento anti-britânico generalizado...ninguém boicota Monty Python ou os Beatles. Da mesma forma, muita gente não gosta de Fidel Castro em cia, mas isso não se traduz em repúdio à música cubana.

Em suma: acho justa qualquer reação que esteja relacionada às posturas unilaterais e beligerantes dos EUA. Mas não penso que a produção cultural deva pagar o pato.

Obrigado pelo comentário, apareça mais vezes, e viva Miles Davis!

Isso também disse...

Essa "isso também" sou eu, Amanda. Sei lá porquê saiu assim. Realmente esse assunto intriga e é dificil não fazer comparações mesmo que não seja esta a sua proposta aqui. Mas é inegável que brasileiros tenham birra de tudo que é originário dos EUA, coisa de irmãos pobres e invejosos kkk Confesso que há tempos atrás deixava de comer mc donalds, de aprender a falar inglês...como se fosse uma questão de dignidade! Engraçado que nunca houve aqui no Brasil um movimento de Boicote aos EUA, de onde vem essa birra tão direcionada aos EUA? Deve ser porque grama do vizinho é sempre mais verde e nesse caso é mesmo!
Só sei que hoje em dia, eu moraria em new york.

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Hahahahaha!!!

Dá um slogan ótimo: "Amanda é isso também!"

Então Amanda, não importa muito qual é a minha proposta aqui...o legal da blogosfera é a possibilidade de divagações e assuntos que vão surgindo a partir da discussão original. Fique à vontade para comentar onde quiser e o que quiser, seus comentários são sempre bemvindos.

Eu acho que a birra com os Estados Unidos tem uma raiz mais profunda que a simples "inveja dos irmãoes pobres". Lembro que certa vez assisti um episõdio do South Park em que os meninos estavam no Iraque (salvo engano), e tinha um menininho iraquiano. Lá pelas tantas, eles perguntavam pra esse iraquiano o porque de tanto ódio contra eles, americanos. A resposta era ótima:

"Nós odiamos vocês justamente porque vocês não entendem o motivo desse ódio".

Assim: eles realmente tem uma certa dificuldade em entender os motivos pelos quais o resto do mundo não consideram que eles estão lá para "presentear esses povos sofridos com as bênçãos da democracia".

Quanto à rejeição à tudo que seja proveniente dos EUA, eu não consigo ser assim desde que morei lá. Percebi que as pessoas são muito parecidas com a gente - comparando o "povão médio". São alienados, e isso não é por conta de um comportamento ativo. Eu não acho que a derrocada dos Império Americano dependa das nossas pequenas revoltas, como renunciar à Coca-Cola. Eu acho que na atual conjuntura, o que pode acontecer é que eles percam competitividade pelo surgimento de coisas novas, de outras potências ou outros paradigmas.

Quanto a morar em Nova York...eu não pensaria duas vezes. Cidade legal pra cacete!