Um livro superfrancês e superdivertido para os que fazem parte ou aspiram à “intelectuália” sem perder aquela que, segundo Voltaire (era ele mesmo?), era o antídoto para a vaidade: a capacidade de rir de si mesmo. Não vou falar muito do livro de Martin Page, mas apenas vou me limitar a colar dois trechos longos que adorei ler nesse livrinho tão curto.
O primeiro trecho transcrito abaixo me chamou atenção pela imensa afinidade que me fez sentir em relação ao delicado protagonista do romance. (em outras palavras: parece eu, só que mais francês e mais “mariquinhas”.
Sobre Antoine:
(p. 14)
Aqui abaixo, o final do texto de Antoine dedicado a introduzir e explicar a seus amigos a razão de querer se tornar estúpido.
“Evidentemente, os intelectuais não são os únicos a quem compete a inteligência. Em geral, quando alguém começa a dizer ‘não é para ser demagíogico, mas... ‘ é efetivamente para ser demagógico. Por isso, eu não sei dizer muito bem o que poderia ser interpretado como condescendência. Estou convencido de que a inteligência é uma virtude compartilhada pelo conjunto da população, sem distinção social: há igual porcentagem de pessoas inteligentes entre os professores de história e os marinheiros-pescadores bretões, entre os escritores e os datilógrafos... Isso o sei pela minha própria experiência, à força de me aproximar de brain-builders, pensadores e professores, intelectuais idiotas e, ao mesmo tempo, de pessoas normais, inteligentes sem certificado de inteligência, sem a aura institucional. Eu não posso dizer outra coisa. É tão contestável quão impossível é um estudo científico. Encontrar alguém inteligente e sensato não é função do diploma; não há teste de Q.I. para revelar o que se poderia chamar bom senso. Eu ´penso e repenso no que dizia Michael Herr, roteirista de Nascido para Matar, no seu magnífico livro sobre Kubrick: ‘a estupidez das pessoas não deriva da sua falta de inteligência, mas da sua falta de coragem’.”
“Uma coisa que se pode admitir é que, freqüentar grandes obras, servir-se do seu próprio espírito, ler livros de gênios não asseguram a ninguém inteligência, mas tornam isso provável. Naturalmente, há pessoas que terão lido Freud, Platão que saberão fazer trocadilhos com os quarks e ver a diferença entre os falcões-peregrinos e um peneireiro, e que, todavia, serão renomados imbecis. Não obstante, potencialmente, estando em contato com uma multidão de estímulos e deixando o seu espírito freqüentar uma atmosfera enriquecedora, a inteligência encontra terreno favorável para o seu desenvolvimento, exatamente da mesma maneira que uma doença. Pois a inteligência é uma doença.”
(p.63-65)
(p.63-65)
Comment je suis devenu stupide
...É duro ser desinformado!)
Um comentário:
Bacana! Vais me emprestar este livro jusnto com as 20 outras promessas.
abração!
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