sábado, 8 de dezembro de 2007

Listen to the Music (só as mães)


A internet resolvendo suas dúvidas...

Quando eu era adolescente -- e o Cazuza já era morto há tempos -- era fascinado pela música "Só as mães são felizes".
Soturna, ácida, sarcástica -- e ainda assim, envolvida por uma ternura estranha que ressaltava sua crueldade. (Me pergunto do quanto havia nela das relações entre Cazuza e sua mãe...)

Ela é uma dessas músicas "do lado podre". Minha viagem a respeito: é como se o mundo inteiro flutuasse numa dualidade estranha com a perversão (meio Nelson Rodrigues, sei lá) e como se, em meio a isso, só a maternidade tivesse a esperança de plenitude... plenitude que em si não é o assunto da música; ela é, antes, uma conclusão por exclusão, ou mesmo um comentário sarcástico.

A grande questão minha a respeito: eu nunca entendi boa parte da letra da música -- embora sempre tenha sentido bem o seu "clima" e mensagem. Haviam referências e nomes obscuros que eu não podia compreender apenas de ouvido, porque não faziam parte de meu repertório juvenil.
Pra piorar, pouca gente conhecia essa música, e menos ainda gostava. A execução pública era proibida (não é difícil de sacar o porquê). Eu só a achava em um único disco -- "o melhor de Cazuza e Barão Vermelho" -- que NÃO tinha a letra da música.

Muitos anos depois, semana passada, pensei: ora pois, internet!

E taí.

So As Mães São Felizes
Cazuza
Composição: Frejat / Cazuza

Você nunca varou
A Duvivier às 5
Nem levou um susto Saindo do Val Improviso
Era quase meio-dia
No lado escuro da vida

Nunca viu Lou Reed
"Walking on the wild side"
Nem Melodia transvirado
Rezando pelo Estácio
Nunca viu Allen Ginsberg
Pagando michê na Alaska
Nem Rimbaud pelas tantas
Negociando escravas brancas

Você nunca ouviu falar em maldição
Nunca
viu um milagre
Nunca chorou sozinha num banheiro sujo
Nem nunca quis ver a face de Deus

Já frequentei grandes festas
Nos endereços mais quentes
Tomei champanhe e cicuta
Com comentários inteligentes
Mais tristes que os de uma puta
No Barbarella às 15 pras 7

Reparou como os velhos
Vão perdendo a esperança
Com seus bichinhos de estimação e plantas?
Já viveram tudo
E sabem que a vida é bela

Reparou na inocência
Cruel das criancinhas
Com seus comentários desconcertantes?
Adivinham tudo
E sabem que a vida é bela

Você nunca sonhou
Ser currada por animais
Nem transou com cadáveres?
Nunca traiu teu melhor amigo
Nem quis comer a tua mãe?

Só as mães são felizes...




Detalhe interessante: eu ia envelhecer e morrer antes de sacar de ouvido que o Rimbaud é citado.



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