segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Véio safado



Um causo: no meu primeiro ano de faculdade, estava em julho no Museu de Niterói, por ocasião de um ENEA (Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura). Palestra de Niemeyer, o véio Oscar -- que só tinha, olha só, 90 anos na época.
Aquela comoção. Umas meninas chorando. Eu pensava: "ah, que melação".

A palestra era aquela coisa de sempre, várias folhas enormes sendo desenhadas com um traço livre e despreucupado pelo senhor encurvado enquanto falava, essencialmente, as mesmas coisas que fala sobre arquitetura já havia uns 40 anos. (Bom, quarenta anos antes ele já tinha uns 50 anos...)

Depois de tudo, sessão de autógrafos com o decano arquitetônico. Fila imensa, enchi o saco e não fui atrás, medo de, sei lá, perder o ônibus. Um colega veterano da Arquitetura de São Carlos -- conhecido pela significativa alcunha de "le Monstre", "monster" ou apenas "monstro" -- foi pra fila pegar autógrafo. Demorou pra caralho.
Eram desenhinhos autografados que o veím batuta fazia para cada um. A maioria ganhava o rabisco-conceito do MAC de Niterói mesmo. Alguns pediam outros.

Segundo o que me contou, Monstro pediu pra ele fazer um daqueles famosos desenhos de mulher. Pra quem não conhece: uns rabiscos simples e inspirados de mulheres nuas, coisa bem simpática e niemeyeriana.

"Mas, isso é sacanagem!", o veím comentou.

"Arquiteto gosta de sacanagem" argumentou Le monstre.

E recebeu o desenho -- não lembro se acompanhado de um sorrisinho do ancião ou de alguma expressão semelhante à da foto acima.


Deus abençoe o véio cumunista.



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3 comentários:

Marcílio, o gêmeo malvado disse...

Niemeyer comedô!! Quantas traçou ao longo de quase 100 anos?

Arquiteto gosta de sacanagem? Sim essa é a fama...hehehehe!!

Anônimo disse...

Cara, fiz arquitetura em João Pessoa e tive o prazer de ir para esse ENEA, eu estava no meu quarto ano de faculdade e consegui ficar dentro do salão do MAC em que ele deu a palestra, dia inesquecível aquele, nunca gostei das atitudes de Niemeyer, do que ele fez para conseguir chegar onde chegou, mas confesso que nesse dia, naquele lugar, foi inesquecível, acabei achando o velhinho porreta!

Também inesquecível foi o povo dançando o Berequetê na saída do MAC, as festas no Sambódromo, os almoços na Fundição Progresso...

abraço.

Gabriel G; disse...

Obrigado por escrever, Clayton!

Aquele ENEA foi realmente inesquecível (a despeito dos problemas de organização). E também foi o único no qual estive.

Hoje me arrependo de não ter um autógrafo do Sr.Oscar... ele é definitivamante porreta, mesmo com seus defeitos.

Os almoços na Fundição Progresso foram memoráveis (então ESSE é o nome daquele lugar! Não lebrava nem a pau!!). Festar e (no meu caso, ao menos) dormir no sambódomo foi uma ocasião única. Usar o banheiro de lá também... embora no sentido negativo de "uniqueness".

Acrescento também, no meu caso, a marcante visita a uma favela "urbanizada" no meio de um morro.

Já o Berequetê no Museu... eu omiti deliberadamente...

(mas tenho TUDO fotografado!)