Neste ano ganhou força uma tese, segundo a qual com o aquecimento global a Amazônia sofreria um processo de savanização. Essa hipótese é tida como a coisa mais próxima da verdade por 90% dos meteorologistas, e é baseada em modelos computacionais de previsão de tempo, simulações de 100, 150 anos.
Ouvi de alguns geógrafos de algum renome que a tendência é essa, Carlos Nobre, pesquisador do INPE defendeu a hipótese esse ano, no IPCC. Contra tudo isso, apenas uma voz se levantou: a do professor Aziz Nacib Ab´Saber. O professor, que estava na plenáriateve um debate ríspido com Carlos Nobre, afirmando que os estudos paleoclimáticos indicam que tanto a Floresta Amazônica quanto a Mata Atlântica expandiram seus domínios justamente em épocas de aquecimento.
Segundo Francisco Mendonça, outra vedete do mundo geográfico dos tempos atuais, Carlos Nobre não atacou Ab´Saber porque não pega bem contrariar um velhinho de 80 e tantos anos...
Bom...
Matéria publicada hoje, na Folha de São Paulo mostra que esse ano, após uma das maiores estiagens dos últimos tempos, a floresta ficou mais verde.
Os garotos dos modelos computacionais se apressaram em dizer que é o resultado de apenas um ano, que não sabem o que acontecerá se isso se repetir em intervalos cada vez mais curtos...
Ab´Saber 1 x 0 tecnólogos.
Explico: o clima não depende apenas dos fatores climáticos. A vegetação muito menos. Um geossistema será tão complexo quanto a quantidade de variáveis introduzidas pelo pesquisador. Obviamente, computadores são muito ágeis para calcular coisas, mas quem introduz dados nos modelos são os homens. Computadores não interpretam dados. Podem até tentar, mas indicarão sempre o resultado lógico baseado num modelo matemático que estará sempre incompleto, daí a diferença da interpretação feita peloo cara que talvez mais conheça a geografia do Brasil em todos os tempos. Um geógrafo do campo, um intelectual, um cara completo.
Fazendo um paralelo com a questão dos solos: a Amazônia é auto-sustentável nesse quesito...a matéria orgânica que mantém a pujança daquela mata é aquela fornecida pela própria floresta - biociclagem. Esse ano, em Morada Nova-CE observei um campo enorme de terra desnuda, apenas pedras sobre a terra. Após uma estiagem de quase 100 dias, havia umidade debaixo dessas pedras. E debaixo da floresta? Esses modelos consideram essas pequenas variáveis? Haverá lá plantas desconhecidas, que retém água e carbono sob a superfície? Sim. Haverá um animal esquisito que influecia numa cadeia de eventos ainda desconhecidos? Com certeza. Uma coisa é acreditarque o cerrado avance sobre áreas desmatadas, outra é pensar que o cerrado invadirá a floresta. Acho que essa geração de hoje joga demais com a certeza do que se conhece, ignorando fatores novos e antigos.
As vezes penso que por isso a ciência no Brasil vai tão mal das pernas...quando as coisas chegam ao ponto em que alguém se nega a debater com um professor para não ofender os mais velhos...quem tem cu tem medo, meus amigos.
Perguntem se alguém achava Newton, Eisntein ou Darwin uns bobos no final de suas vidas? Nos países desenvolvidos, esses caras são tidos como patrimônios intelectuais, a opinião deles SEMPRE deve ser levada em conta, no mínimo para ser debatida e descartada.
Para a infelicidade de Carlos Nobre, muita gente lá fora sabe quem é (e não quem foi) Ab´Saber. O que ele disse será levado em conta, ainda que daqui a 100 anos provem que ele estava errado. Como estava "errado" Isaac Newton...ciência é um processo cumulativo.
Enfim, que fique bem claro: sou fã do Ab´Saber. Vi esses dias uma entrevista do cara: enxergando mal, mas com a mesma clareza de pensamento de sempre. Certamente um dos grandes pensadores da história do Brasil, e ponto final.
2 comentários:
Salve salve.
Assino embaixo.
Ele é realmente uma pérola do nosso saber!
longa vida a ele!
Parabéns pelo artigo!
Valeu Ivan!
Mais estranho do que gente comentando nesse blog além dos autores é gente postando em artigos antigos...que mal pergunte, você é geógrafo também? Como achou essa coisa antiga?
abração!
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