Nas últimas semanas eu andei pensando e escrevendo um bocado de coisas sobre o último furacão cinematográfico-quadrinhístico (antes do recém-estreado Homem Aranha 3, claro), "300".
Ainda estou organizando os pensamentos (falta de tempo), mas vou já reproduzir uma trecho de um texto do Jorge Coli no caderno MAIS! a respeito do filme baseado na HQ de Frank Miller.
Acho interessante porque ressalta certas afinidades "fascistas" que eu e várias outras pessoas vemos na HQ e mais ainda no filme.
O Rinoceronte dos Outros
Aqueles espartanos do filme não são nada simpáticos. Dizem que lutam pela liberdade, mas, na batata, defendem uma sociedade de brutamontes. Todos "body-builders" bonitões, porque, quando os bebês nasciam feiosos, raquíticos, disformes, eram espatifados num buraco. Só sobravam os que virariam bons e fortões. Fora um, horroroso e nojento, que escapou. Ele vira justamente o traidor da pátria e vai lamber os pés do rei dos outros. Prova dos nove: se tivessem arrebentado com ele quando era bebê, Leônidas teria ganhado a guerra.
Os outros ameaçam esses espartanos brancos e poderosos de todos os lados. São negros, orientais, esquisitos, gente estranha. O Rodrigo Santoro é o rei dos outros, cheio de piercings, de maquiagem e de langores. Na sua corte, todo mundo transa com todo mundo, de qualquer jeito. Os espartanos são maridos machões, cumpridores e não dão bobeira.
É verdade, cá entre nós, que o modelito das sunguinhas deles, francamente; mas, enfim, detestam os filósofos atenienses porque esses filósofos, sabem como é, não é, e eles não são disso. As mulheres são barra pesada, usam umas espadas grandonas para matar quem é sem-vergonha e mentiroso. Os parlamentares são corruptos, vendidos aos inimigos; os sacerdotes (nojentos eles também, e podres) são piores. O que os espartanos deveriam ter feito desde o início era dar plenos poderes ditatoriais a Leônidas, e pronto.
Tom
A ironia é fácil, e o filme não tem jeito, é fascista mesmo. Mas é um esplendor. Suas cores são reduzidas a um azul noturno, fora o vermelho das capas. Tons de emblema. Os cenários, trazidos dos quadrinhos de Frank Miller, fazem pensar na pintura romântica mais alucinada: abismos, montes escarpados, gargantas estreitas. Os bichos, sobretudo o rinoceronte, são magníficos.
Ritmo
O andamento do filme é vagaroso, reforçado pela câmera lenta. Exige do público uma entrega hipnótica, como as que ocorriam nas paradas de Hitler ou nos discursos dos grandes líderes, os de Fidel, por exemplo, que duram cinco horas ou mais. Apesar disso, "300", dirigido por Zack Snyder, tornou-se um sucesso surpreendente.
Num tempo em que a precipitação, a velocidade da montagem e da ação parecem ser os únicos meios de prender a atenção de espectadores cada vez mais distraídos, "300" é extático como uma ópera de Wagner, como o "Crepúsculo dos Deuses".
Ele se termina, por sinal, da mesma maneira suicida.
Em outro texto Coli já havia desenvolvido uma análise estética mais detalhada do filme. Ele gostou muito do filme, nesse aspecto, mas concordou que a estratégia estética "extática" do filme é compartilhada pelo nazismo e o fascismo.
Guardem essa questão. Ainda vou retornar a ela -- mesmo que mais no âmbito dos simbolismos do filme do que do seu funcionamento estético.
3 comentários:
Odeio quando sou o último a ver os filmes...acabo lendo muita coisa e perdendo a vontade de assistir essas coisas.
Também não perdeu lá muita coisa, acho...
só a chance de falar sobre mesmo...
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