Sexta-feira passada estava ouvindo a “Itapuã” de Toquinho, cantada por um punhado de gente embriagada e da minha idade (eu incluso) . Me dei conta de que nunca estive lá, mas que, só por essa música tão “antiga”, tenho uma impressão paradisíaca desse lugar do qual não conheço nem uma só foto.
Mas fiquei triste em ouvi-la.
Não foi por causa desse “desconhecimento” que acabei de apontar — esse é antes motivo de alegria, pois é o poder e a glória da grande arte e da grande fantasia, nos brindar com paraísos e infernos imaginários (mesmo quando baseadas em existências reais, são imaginários, são a “sagrada mentira” da não-vida da arte).
Fiquei realmente triste porque me dei conta que, hoje, uma música bela e simples e tão marcante dessas não poderia ser composta sem ser imediatamente apropriada, comprada ou mesmo planejada para se encaixar em uma campanha turística.
Pense bem nisso. Não é extremante plausível?
Tudo tem que ser vendido. Tudo tem que ser anunciado. Tudo tem que ser útil – tem que embalar, entreter, veicular, convencer, vender. Não se pode perder tempo algum – o que é por definição contrário ao espírito dessa música.
Aquela delicadeza tranqüilidade espontâneas correm o risco de se tornarem simples atributos da “ignorância” e da “ineficiência”. Tornam-se cada vez mais impossíveis – ou melhor, inviáveis. Já percebeu como hoje quase já se aboliu a diferença entre “inviável” e “impossível”?
E o que me deixa puto é que acha-se normal isso.
Apesar da liberdade potencial inédita na história da humanidade, talvez nunca tenhamos sido tão desesperadamente presos.
É um mundão grande e vasto, eu sei. Mas às vezes me parece um mundinho de merda.
4 comentários:
Tem razão. Eu já tinha pensado nisso antes, só que com outra música...
Há alguns anos, ao escutar "o barquinho" do Roberto Menescal percebi que todas as imagens que me vinham na cabeça lembravam propagandas, sendo que uma delas existiu, era uma propaganda das "havaianas" nas Olimpíadas de Seul-88.
Engraçado que só depois que eu fui pensar que não eram propagandas, eram imagens de praias tranquilas, um barquinho passando, paisagens paradisíacas...e que tudo isso veio muito antes da propaganda, já que passei boa parte da minha infância em Fortaleza.
Mas hoje é difícil desvincular. Por mais que o sentimento de "Tarde em Itapoã" seja uma coisa própria da música, a imagem de paisagens Edenianas são vinculadas ao desejo de estar num lugar desses. E só tem um jeito: viaje bem, viaje vasp!
E quem tava bêbado?
hehehehe!...
aquele amigo seu do Direito ao meu lado (num alembro o nome) estava decididamente bêbado.
Impressão tua! Tava só muito alegre e sonolento...
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