Depois do susto das notícias de hoje é preciso pensar com calma no que aconteceu e no que está por vir. Uma tese comum nas bolhas de esquerda é a de que o que está acontecendo é o tal "golpe dentro do golpe"; a evidência para isso é o fato de que a denúncia saiu n´O Globo, sinal de que o conglomerado dos Marinho teria alguma bala no gatilho: no caso a estratégia de esperar passar o prazo pras eleições diretas para derrubar Temer (2016) e colocar, em seu lugar, algum representante de outro grupo.
Há alguns problemas nessa teoria:
1) A Globo estava em franca lua de mel com o atual governo;
2) Temer ainda não concluiu as reformas tão defendidas pela oligarquia nacional. Se o plano original era o de deixar Temer fazer o trabalho sujo do PSDB para depois derrubá-lo, por que não esperar por isso?
3) As gravações foram fruto de um acordo de delação com a PGR. Fachin recebeu hoje e a justiça autorizou a saída dos delatores (a dupla caipira Joesley e Wesley). Fachin não poderia segurar uma informação dessas sob pena de ser acusado de proteger o governo, de forma que a divulgação era INEVITÁVEL. Dessa forma, a Globo não teria a opção de não divulgar, sob pena de ser passada pra trás por algum outro veículo. Melhor ter o furo e se virar;
Agora, uma leitura de como a Globo está explorando o fato dá pistas do que possa vir a acontecer:
1) O discurso da defesa da constituição foi imediato. O caso é de eleições indiretas e pronto;
2) No jornal das 10 (Globonews), a correspondente de São Paulo (não sei mais o nome dessa gente) lembrou ao painel de jornalistas que neste ano a justiça eleitoral determinou a realização de novas eleições no estado do Amazonas, mesmo depois do prazo de menos de dois anos para o fim do mandato. Renata Lo Prete imediatamente se pôs a falar sobre o conflito entre a Constituição, muito clara e o "cipoal" da legislação eleitoral. Passou a bola pro Merval Pereira, que disse que não sabia se a decisão poderia ser aplicada ao caso nacional e mudaram de assunto - não se discutirá a possibilidade de eleições diretas;
O cenário da defesa das eleições indiretas coincide com as previsões do "golpe dentro do golpe"...só me parecem ter sido precipitados prematuramente. Agora, a Globo já começou a defesa das indiretas e a lamentar o fim de um governo que começava a "tirar o país do buraco".
Pros grupos que estão interessados nas reformas de Temer, é crucial que não ocorram eleições diretas. Em primeiro lugar, porque esse debate dominaria a cena política e inviabilizaria, de vez, as reformas, uma vez que jamais seriam aprovadas nas urnas. Além disso, os dois movimentos que dariam ao PSDB um candidato em condições de disputa são muito incipientes: a gestação política de Dória e a fritura de Alckmin. Por fim, Lula lidera em todos os cenários possíveis e dificilmente será condenado em segunda instância antes das eleições. Para todos os efeitos, uma eventual vitória eleitoral o absolveria, politicamente, de todas as acusações. Pessoalmente, acho péssima candidatura do Lula, dpo ponto de vista da manutenção da situação de tensão social.
Fico curioso com a posição de Ciro Gomes. Em campanha há quase um ano, vem dizendo que não apoia as diretas de maneira alguma porque seria mais uma ruptura com a institucionalidade. No fundo, penso que ele sabe precisar de mais tempo para se viabilizar e também da eliminação de Lula pela justiça, embora não o diga. Eu concordo com o primeiro argumento: acho péssimo romper com a institucionalidade vigente, mas entendo que já vivemos em um Estado de exceção. Qualquer resultado de eleição será legítimo; qualquer continuidade do atual processo, é ilegítima de nascimento. Penso que a única posição possível dada a gravidade dos fatos é a defesa das diretas já.
Isso tudo é o resultado de reflexões preliminares, tô me dando o direito de mudar de posição dependendo do que venha a acontecer nas próximas horas e dias.
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