sexta-feira, 13 de maio de 2016

Brazil, 2016*

Beati futuri, futura possibilia,
(futuro feliz, futuro possível)

Regozijai-vos, povo da Vera Cruz, pois tempos auspiciosos se anunciam!

Com a derrocada do perverso regime comunista que ameaçava os bons costumes em nossa pátria amada, podemos dormir tranquilos sabendo que o futuro será deveras alvissareiro.  As primícias são animadoras: estamos a excisar tudo aquilo que é supérfluo, frívolo e dispensável no nosso novo governo.  Começamos por eliminar um tal Ministério da Cultura, que dentre outras cousas, ocupava-se de regar, com os parcos recursos públicos, abonados artistas.  Ora, nos bons tempos de outrora a pouquidade de normas que incentivavam a execução das artes jamais impediu o surgimento de baluartes culturais: cito Heitor Villa-Lobos, Tom Jobim e Vinícius de Moraes.  Todos homens do povo, e com vantagens: do melhor que existe do povo. Não precisamos de samba nos morros, mas de gente nos campos e fábricas, construindo e alimentando o nosso povo. A retomada do progresso (sempre de forma ordeira, conforme preconiza o lábaro pátrio) não permite adornos e excessos.

Universidade é outro luxo no qual não devemos mais desperdiçar nossos mui-custosos recursos - até porque estes deverão ser sumariamente privatizados, passando às mãos de probos e valorosos homens de negócios, que saberão explorá-los de forma mais cosentânea, abatendo as sobras indesejáveis de nosso Estado.  A academia foi uma idéia (com acento, como é o certo) deveras interessante.  Bom enquanto durou, mas certamente é uma história de fracasso.  Aqueles que educamos para liderar os rumos da terra-mãe infelizmente sucumbiram, ufanosos e iludidos, aos desvarios marxistas.  Pergunto: que vantagens nos trouxe a tal academia?  Apenas conflitos, nossa gente partida ao meio em dúvidas que lhes foram imputadas por esse povaréu que não entendeu muito bem o que é certo.

Não negamos que o conhecimento oportunize o florescimento de uma nação melhor, mas deixemos isso para aqueles que entendem do assunto: os estadunidenses e cidadãos do velho continente fizeram suas universidades com perícia. Aqueles que quiserem poderão - e serão incentivados - a estudar no estrangeiro, pagando com seus próprios recursos, por óbvio. E não me digam que isso restringirá a educação aos filhos dos abastados.  A riqueza é o prêmio de quem trabalha, vivemos, doravante, o regime do mérito.  Eu mesmo conheço dois rapazotes crioulos, que após adotados por adoráveis amigos foram capazes de atingir empregos admiráveis: médico e administrador no hospital dos pais. Bonito de se ver.



Devemos desfazer confusão que vem sendo propalada por aqueles que buscam a reconstrução do regime rubro: não é verdade, em absoluto, que a mulher não é valorizada em nosso novo Brazil. Pelo contrário, não acreditamos, por um instante sequer, que homens e mulheres sejam iguais. Não é possível, senhores, que caiamos nesse discurso fácil de lésbicas e feministas mal-amadas de que não existem diferenças de gênero - pelo contrário, existem e exigem que tratemos os diferentes, de forma diferente. Está muito claro que nos últimos tempos, muitas damas tem estado aflitas, preocupadas. A razão disso, amigos, é a inadequação do nosso contra-gênero para absorver de forma adequada, os enigmas das conversas políticas.

Mulheres laborando fora do lar foi outra experiência bem intencionada que fracassou.  A tentativa foi pertinente, curiosa, mas não podemos mais arcar com as consequências. Conforme explanamos, a intelectualidade não apraz às mulheres.  É importante que as famílias as eduquem, desde pequeninas, para agradar aos seus maridos - não sem serem recompensadas pelos cônjuges varões: flores e chocolates são sempre excelentes presentes. E às que não se casarem, há sempre a serventia necessária para tratar de seus idosos.  Não queremos dizer que as atividades profissionais estão fora de alcance, de forma alguma, apenas que há atividades adequadas para mulheres de uma sociedade digna: professora de piano é, há séculos, profissão digna que pode muito bem ser exercida por nossas amáveis mulheres, ao menos para aqueles alunos sem maiores pretensões na música.  Lembrem-se também  que uma bela mulher ao piano anima qualquer festejo.

Haverão querelas, estamos certos, mas também sabemos que Ciência e Filosofia são efêmeras nas mentes preguiçosas. Pouco tempo de afazeres domésticos, novelas e revistas femininas deverão dar cabo de eliminar as preocupações tão comuns nos dias de hoje. Há ainda mais motivo para júbilo: com os modernos aparelhos inventados pelos homens, as tarefas do lar estão cada vez mais fáceis, de forma que haverá muito tempo livre para se dedicar a atividades como o tricô, bordado ou conversar com as amigas através do muro ou mesmo por video-chamadas! Beati futuri!

Povo da Santa Cruz, verde-louros, súditos do grande pato! Alegrai-vos, pois o futuro é premente! Construiremos uma nova nação, em nome dos pais e das mães, dos filhos e das filhas, da tradição e da propriedade, em nome de Deus.

Tempos auspiciosos se anunciam!


M.



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*com agradecimentos às amigas Grace e Juliana, pela inspiração.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Cunha afastado

O afastamento de Cunha é motivo de alegria, sim. Apesar da descrença geral por parte da esquerda, eu sempre achei que Cunha não se sustentaria. Os poderes que controlam o processo do impeachment não são exclusivamente políticos, mas de "poder puro": tratam-se de forças que emanam do poder econômico, midiático.

A grande mídia, a partir de um certo ponto, já não poupava Cunha, pelo contrário: sua presença era incômoda, porque, de certa forma, confere ao processo a sua aparência real, ou seja, de ilegitimidade.

Cunha deixou de ser relevante assim que deixou de controlar o processo. Neste sentido, a decisão de Teori é boa, vai além do que se imaginava, em princípio (afastamento da presidência da Câmara, apenas), mas veio tarde. Cunha conseguiu conduzir tudo o processo do impeachment sem ser incomodado. Resta saber se o plenário do STF confirmará a decisão - acredito que sim.

Enfim, de alguma maneira, o afastamento de Cunha "justifica" o impeachment de Dilma. Será lido, pela direita, como uma vitória sua, como se de fato conseguíssemos extirpar todos os que delinquiram - mega power trip.

Cunha simplesmente perdeu relevância. Outros perderão em seguida: Moro tá pra sair de cena, aguardando somente a decisão sobre Lula. Depois disso, aí sim, a coisa estará completa e podemos esquecer lava-jato ou qualquer investigação que possa prejudicar o núcleo duro da corrupção brasileira (exceto PT). Sobrarão migalhas, peixes pequenos que virão de vez em quando, pra lembrar à família brasileira que "somos um país sério".

De qualquer forma, a sensação de ver Cunha afastado é aquela de ter cagado algo que nos fazia muito mal.

domingo, 1 de maio de 2016

Serra no Itamaraty

José Serra (cliquem aqui para biografia ilustrada, vale a pena) é o nome mais cotado para exercer o cargo de ministro das relações internacionais. Acho estranho, afinal, o ex-governador de São Paulo é considerado um economista medíocre, o que não lhe confere nenhuma qualificação para atuação na área da diplomacia per se.

       Serra reagindo à luz.

Fico aqui pensando no significado político dessa nomeação: o objetivo é acomodar o PSDB, além de uma série de outros partidos que deram sustentação ao golpe da dupla Temer/Cunha.  Abrir mão de um diplomata de carreira para alojar um político também revela que ou Temer não está muito preocupado com os rumos das relações internacionais do país, ou que a função de negociação com o exterior cabe mesmo a um representante do mercado, e não a alguém que represente, de fato, o Estado brasileiro.  Serra cabe bem no último papel.  A renegociação da partilha do pré-sal evidencia o que Serra já disse antes, em telegrama revelado pelo Wikileaks:

"Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta"

É sabido que o modelo que obriga a Petrobrás se mostrou complicado para a empresa, uma vez que a mesma não tinha capacidade de investimento para explorar em todas as áreas - o golpe fatal sendo a queda do preço do petróleo, que agora se encontra abaixo do custo de exploração do pré-sal.  O valor da empresa caiu de US$380 bilhões em 2010 para 149 bilhões no dia 26/04/2016. No entanto, é importante lembrar que em 2002 a empresa se encontrava estagnada, com valor de mercado de US$15,8 bilhões (9,4 vezes menor que o nível atual).  Enfim, vamos ver qual será o efeito Serra.

Voltando à diplomacia, algumas curiosidades: sabem qual foi a última vez que o chanceler brasileiro não era um diplomata de carreira?

Celso Lafer, no governo FHC, que ocupou o cargo por 702 dias, entre 29/01/2001 a 01/014/2003.

Aliás, da redemocratização até o fim do governo FHC, tivemos 7 ministros (sem contar dois interinos, que somados, ocuparam o cargo por 78 dias), . Sabem quantos desses eram diplomatas?

Dois: Luiz Felipe Lampreia (FHC) e Celso Amorim (Itamar).

De 15/03/1985 a 20/5/1993 não passou um único diplomata pela chefia do Itamaraty, ou seja, todo o período Sarney e Collor, embora tenhamos tido até banqueiro (Olavo Setúbal).

Itamar ocupou a presidência por 821 dias na presidência, dos quais em 591 (71,9%) tivemos um diplomata como chanceler.

O governo FHC começa com um diplomata de carreira no Itamaraty, Luiz Felipe Lampreia, que ocupou o cargo por 2.203 dias, seguido por um interino, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, também diplomata, o que totaliza 75,9% dos 2.922 dias de FHC no poder.

Pra finalizar: sabem qual foi a última vez que o chanceler brasileiro foi um político de carreira?

Fernando Henrique Cardoso, no governo Itamar.

Será que Serra pensou nisso?