Resgatando velhos conceitos para o futuro da cidade: caso de estudo São Luís. from Cidade Ideia on Vimeo.
Não comento a proposta, porque para julgá-la seria necessário mais informações e leitura mais cuidadosa; mas a análise me interessou porque nela vi várias coisas que já me chamavam atenção a respeito da cidade.
Quando saí da ilha e comecei a estudar arquitetura na USP de São Carlos (1998-2002), meu olhar sobre São Luís se transformou radicalmente, de forma que pode ser resumida em dois aspectos:
1. A maior conciência do valor, beleza e singularidade do conjunto arquitetônico colonial;
2. O fato de ser o caso mais extremo e acabado de "anti-cidade" que eu já vira: fragmentária e esparsa em um nível além da imaginação; completamente alheia a qualquer qualidade de espaço público para além de alguns pontos concentrados (parques, etc.); ao mesmo tempo cheia de mato e completamente avessa à arborização, com bairros inteiros de muralhas e calçadas universalmente estreitas.
O triste é que esse mesmo exato vídeo poderia ter sido feito em 2005 e ainda assim, com algumas diferenças de dados, todos os diagnósticos se aplicariam. A São Luis atual trata-se de uma catástrofe completamente anunciada e previsível.
Talvez não tenha sido falta de aviso; o poder público brasileiro tem o costume renitente de ignorar solenemente o conhecimento acumulado de décadas sobre as cidades por parte de geógrafos, arquitetos e planejadores; grande parte dos defeitos terríveis das aplicações do programa "Minha casa, minha vida" (os quais, acreditem, ainda virão a explodir em nossas caras) vêm dos grandes descasos e ignorâncias administrativas em nível federal, estadual e -- principal e dolorosamente -- municipal.
São Luís não é nenhum caso isolado; mas é um dos mais gritantes e agressivos.
Acho que, à moda dos estrangeiros, talvez os arquitetos nacionais devam investir cada vez mais em publicizar mais idéias e propostas nos meios de comunicação; mostrar que há alternativas e idéias ocorrendo, tentar provocar debate público. É uma luta desesperada, mas tendo a achar que vale a pena -- nem que seja para construir a relevância pública da própria disciplina da arquitetura e urbanismo.