quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Christ, what an asshole

Decobri essa no blog do McCloud: um certo cara teorizou que todas as tiras do The New Yorker poderiam ser terminadas com a frase "Chirst, what an asshole" sem prejuízo de suas qualidades cômicas. E fez alguns testes...

A experiência inteira está aqui. Vale a pena. (me lembrou um pouco o tipo de experiência feita em "Garfield minus Garfield" )

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Santo revanchismo, Batman!

Este assunto já foi discutido recentemente em vários lugares; mas como é absurdo, rasteiro, sem vergonha e envolve duas áreas de interesses do Wilbor (política e quadrinhos) tinha que ser repercutido aqui, ainda que à tardinha.

Acontece que um tradutor (não colocarei o nome aqui), na revista nº 98 do Batman, deu de traduzir o adjetivo "nasty" (asqueroso, safado, canalha, malévolo, etc.) por... "petralha".


 (Se você nunca ouviu o termo, não sou eu que vou lhe esclarecer. Google aí.)

Pois é. Teve bafafá e etc, obviamente. Um monte de gente estranhou, um monte de gente xingou, muitos nem entenderam, alguns não se importaram e outros apoiaram. A coisa foi repercutida até lá fora. O editor da Panini se desculpou. Teve até uma  turma do "deixa-pra-lá" porque, afinal, o cara foi até "corajoso", assumiu a responsabilidade pelo tradutor e pediu desculpas.

(O mesmo tradutor, diga-se de passagem, já tinha dado uma outra gafe profissional, dessa vez envolvendo a tradicionalíssima revista italiana de faroeste-machão Tex. Nela, o personagem título aparece xingando de "macaco" um negro que o atacava -- tradução sem nada a ver com a fala original.)


Bem, era até pra deixar pra lá mesmo, mas... olhem só um trecho da "desculpa" :

Não houve por parte de ninguém da redação a intenção de atacar partido A ou B. O termo foi usado totalmente desvinculado de qualquer teor político, já que há muito ele deixou de ser apenas uma associação a um partido. O que me parece é que algumas pessoas desejam apenas ver sangue, ou seja, que alguém da redação seja mandado embora apenas para satisfazer seu ego cruel.


[...]Nosso erro foi pressupor que uma gíria que já perdeu o seu caráter político em alguns lugares, não o tenha perdido em todos. Não estávamos querendo tecer nenhuma crítica a partido algum. Acho que já deixei isso bastante claro. Só não entende quem não quiser"

Arrã. ("Vocês é que são uns frescos, rancorosos e desatualizados, mas eu peço desculpas, viu?").

E o Diretor de Marketing da empresa?

"A Panini considera o termo “petralha” como uma gíria que vem se popularizando no Brasil, e independente da origem do termo, não é mais utilizado no linguajar popular apenas com conotação política, mas como sinônimos para asqueroso, nojento, etc. "

Bom, pra mim nada que insulte tão desavergonhadamente a inteligência alheia deveria ficar sem comentário. O melhor comentário que vi até agora (gostaria que fosse o meu) foi o do cara do Liberal, Lertário, Libertino:


"Afinal, sério, eu chamo as pessoas de vaca piranha aleatoriamente, sabe? Pode ser homem, pode ser mulher: pra mim é tudo "vaca piranha". Ah, e meu amigo japa, o Inosuke, eu chamo ele de "crioulo" o tempo todo. Poxa, esse termo já perdeu qualquer associação com raça, oxe!"


Ofereço humildemente quatro opções de interpretação para o caso da polêmica tradução.

1. A ingenuidade:
O tradutor é só um simples panaca que convive com um ciclo social paulistano muito fechado, composto quase exclusivamente de leitores, amigos e filhos de leitores da Veja e afins que não dão tanta atenção para política, limitando-se a achar que "tudo o que está aí uma pouca vergonha e se privatizasse ficava bem melhor" e tendo como modelo máximo de politização alguns leitores de Mainardi e Reinaldo Azevedo. Para estes  o termo "petralha" simplesmente virou "natural", sem ter conotação de ofender pessoas específicas  --afinal, não ofende ninguém que eles conheçam, só "aqueles fulanos ladrões lá".
Santo isolamento social, Batman!

2. O mau perdedor: 
o tradutor é anti-petista convicto e apaixonado e, ainda puto da vida com o resultado das eleições, não conseguiu conter sua indignação sagrada e pôs em ação uma micro-vingança contra esse governo corrupto (ou até mesmo contra os "petistas" que ele conhecia pessoalmente). Santo revanchismo, Batman!

2. A ditadura
Acreditando estar num regime de censura que colocou uma ex(?)-terrorista no poder, o tradutor quis  fazer seu dever cívico de denúncia e de exercício da livre-expressão, ameaçada pela ditadura gramsciana do "politicamente correto", num ato que jamais poderia vir à tona nessa mídia controlada! (todo mundo que lê Veja, Estadão e Reinaldo Azevedo sabe que o Brasil com seu governo petralha é campeão de conteúdos censurados no google!!!!)  Mas... como fazê-lo? Ora, através de uma guerrilha semântica num meio menos vigiado, aparentemente inofensivo... o gibi!! (Tchaaannnnnn!!!). Seria caso parecido na tradução de "macaco" na Revista do Tex...o sagrado dever de se desafiar o politicamente correto!
Mas, infelizmente para ela, revelou-se que nada está abaixo do radar da petralhada. Santa ditadura, Batman!

4. "O segredo do sucesso"):
Tanto no caso Batman quanto no caso Tex, o tradutor simplesmente quis aparecer. Saberia que um monte de pessoas espumariam e gritariam aos quatro ventos,  ao mesmo tempo em que  várias outras apareceriam  defendendo sua "ousadia" e "liberdade de expressão" e o alçariam a micro-herói contra a "patrulha ideológica" ( não importando quão despropositada, grosseira ou pura e simplesmente inadequada a sua tradução fosse no fim das contas).


Agora, sabe o que é mais legal? Nenhuma das opções exclui completamente as outras.


...
Pra ser justo: tem quem ache que a mudança pode ter sido feita pelo editor, o que isentaria o tradutor de culpa. As teorias, contudo, seguiriam valendo, com exceção da primeira. Afinal, porque mais alguém mais de cima na hierarquia da Panini iria querer interferir  no gibi de maneira tão grosseira? Ora, certamente que não por causa dos contratos sem licitação que a editora tem com o governo paulista. São só 27 milhões, afinal.
Integridade não tem preço.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

"Foco no aluno" ou "tucanando o cassetete?"

Vi essa no Observatório da Imprensa. Grifos meus.
"[...] esse governo [federal] foi extremamente generoso nas concessões e omisso nas cobranças. Instituiu um piso nacional de salário para o magistério, atualmente em 1.024,00 reais. O salário médio do professor brasileiro subiu de 994 reais em 2003 para 1.527,00 reais em 2008 [...].
[preciso comentar alguma coisa ou os grifos são suficientemente irônicos?...]
"Sindicatos mais poderosos pressionam para que o grosso da verba de educação seja gasto em aumentos salariais e diminuição do número de alunos em sala de aula, duas variáveis que não têm relação com a qualidade de ensino."
[...uau...]
"Em termos de regime de trabalho, ao contrário dos desejos dos sindicatos, a maioria das pesquisas mostra que não faz diferença, para o aprendizado do aluno, quantos empregos o professor tem, se trabalha em uma escola ou mais" (Veja, 19/01/2011).
 Eu tenho amigos e parentes que lêem VEJA. Desculpem, mas depois dessa eu vou ter que dizer sem gentilezas: acreditar em tudo o que a VEJA publica fatalmente fará de você alguém pior -- e mais burro. E principalmente, ler esse senhor Ioschpe. Juro. É por preocupação que o digo.
Uma análise mais detalhada das falácias desse senhor estão neste blog.


Eu, de minha parte, comecei com esse texto feito pra pai-de-classe-média-alta-pra-quem-professor-é-mero-empregado, pra chegar num que em verdade li antes, no Blog no Alon: "Sem espírito de patota". Um  texto cujo ponto (aparentemente) principal dele é a defesa do "foco absoluto no aluno" como  estratégia política necessária para uma "revolução" na educação pública. 


Até aí ok. O problema é o resto, que de maneira branda aproxima-o do texto inacreditável de Ioschpe. O texto de Alon me pareceu superficial e cheio de "atalhos" argumentativos pra um assunto absolutamente sério, mas o que me entristeceu foi o fato dele vir de alguém que se anuncia de esquerda. 


"Seria injusto concluir que o PT se preocupa de menos com a qualidade do ensino público fundamental e médio, esse nó górdio à espera de ser decepado. Mais provável é que o petismo ainda não tenha reunido as necessárias condições políticas para o upgrade.
E por uma razão simples. A revolução educacional brasileira pede foco absoluto no aluno e no aprendizado deste, que deve subordinar as demais variáveis. Inclusive as sindicais."
Bom, eu concordaria totalmente com "foco absoluto no aluno" se eu vivesse num país onde professores do ensino básico já fossem minimamente bem pagos, bem treinados, bem avaliados e bem vistos. Concordaria em gênero, número e grau se  "foco absoluto no aluno" não tivesse sido colocado de saída como em conflito às reivindicações de professores; se me garantissem que não teria absolutamente nada a ver com "arrocho salarial" e nada a ver com ignorar as reivindicações docentes.
Mas, o que se vê no texto é que, mais uma vez, o professor e o sindicatos acabam sendo reduzidos a vilõezinhos da história. Não que a política dos sindicatos não tenha suas várias picaretagens e ações questionáveis. Mas é fato que certas exigências têm motivos. E é fato simples e claro que a profissão docente continua precária e precisa ser reestruturada e revalorizada-- assim como o próprio ensino, diga-se de passagem. Especialmente porque não há uma coisa sem a outra  -- embora alguns preferiram ignorar essa conclusão simples.


Eu adoraria concordar com "foco no aluno" se este não estivesse embalado em uma retórica de vigilância e cobrança. Sintomático que no texto do Alon não haja nenhuma palavra sobre, pra início de conversa, deixar a profissão de professor do ensino básico mais digna, bem-treinada, estimulante e, principalmente, universalmente mais bem-remunerada (o que, diga-se de passagem, automaticamente atrairia o melhor material humano à profissão). Não, há até mais ênfase é na "vigília" dos pais do que nessa questão. É muito irônico ver essa ênfase em alguém que diz "de esquerda". Até porque alguém de esquerda deve saber muito bem que as bandeiras pela melhoria de condições dos professores não se tornou repetitiva e arrastada já há muitos e muitos anos só por ser "trololó", mas principalmente porque tem sido sistematicamente ignorada ou ouvida muito a contragosto.

Não que a avaliação profissional seja algo menor; muito pelo contrário, acho que o professor deve ser constantemente cobrado pela qualidade de seu trabalho, e é VITAL que se desenvolva uma avaliação eficiente. Mas comigo não tem negociação: primeiro garanta-se a universalização de salários e condições de trabalho minimamente decentes ao professores. Depois disso podemos até discutir "remuneração variável" e afins como estímulo à qualidade (ou mesmo pequenas bizarrias como "pais assistirem as aulas dos filhos via internet"). Mas o Brasil tem um triste histórico de querer "instaurar" meritocracia sem nem se dar ao trabalho de garantir direitos mínimos.
Óbvio ululante: não há como reestruturar e valorizar o ensino sem valorizar aquele que FAZ o ensino. É da mesma maneira na saúde: qualquer declaração sobre a "importância da saúde" que venha acompanhada de crítica a greves de profissionais médicos que ficaram meses sem receber salário é hipocrisia ou estupidez.
Mas a lógica atual -- inundando a Veja mas transparecendo até no texto do Alon -- parece ser tratar o professor como um "operário de fábrica" diante dos patrões... alguém de quem se cobra produção de peças que lhe são estranhas e que (na visão dos patrões) só reclama porque "é malandro" e "quer trabalhar o mínimo possível".
Eu disse "operário"? Maldito eufemismo. Não, se tomarmos a Veja e Ioschpe veremos que já se foi mais longe:  gratuita e mal-disfarçadamente, equipara-se professor a bandido:
"É curioso: nossos governantes criaram coragem para invadir o Morro do Alemão, mas as universidades públicas continuam sendo consideradas território perigoso demais para a ação saneadora do estado. Esculachar bandido armado de metralhadora é mais fácil do que peitar os doutores da academia, que permanecem livres para perpetrar seus delitos intelectuais" (Veja, 22/12/2010).

Não é lindo?

Todo mundo já teve professores preguiçosos, incompetentes ou imbecis enrolando aulas ou arrotando autoridade pra encobrir sua deficiência. Fácil encontrar por aí um sentimento comum e vago de revolta (principalmente pensando quão ruim anda o ensino). Assim como todo mundo já foi mal recebido por algum funcionário público, ou tem algum conhecido ou conhecido de um amigo que é funcionário público e que adora se gabar de como ganha bem trabalhando pouco e como tem esquemas para fugir e evitar serviço... aí é até fácil, pelas bordas, mobilizar e canalizar esse ressentimento coletivo comum como força política (como bem o soube o Collor).

Situação hipotética: aparece um professor e/ou funcionário público conhecido de alguém, indignado: "porra, eu dô um duro do caralho e ganho pouco. Não mereço ser tratado assim, não mereço ser chamado de malandro, nem vagabundo, nem defasado ou incompetente!"

Resposta possível do amigo querelante "Ah, mas não quero me referi a você. Não quero dizer que são todos assim! A questão é que sem dúvida há um monte deles por aí, e é preciso se livrar deles! Ou você vai negar que não conhece um monte de safados, mamando nas tetas e regalias públicas?"

Realmente, há um monte de picaretas por aí. Como identificá-los?

Pra Veja & Cia é fácil. É só se juntar coletivamente, fazer algum protesto, alguma passeata: são automaticamente tudo vagabundo.

Ou seja, bandido.

Cacete neles.

11022011

...Sim, o dia de hoje é uma data palíndromo. A primeira que notei sozinho antes que alguém me avisasse.

Dã.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Racismo e Eleições

Vamos começar por uma "máxima". É velha na minha cabeça, e eu a guardava para ocasião talvez melhor; mas não tem como mantê-la guardado neste post.

É o seguinte: no Brasil, alguém que acredita que criminalidade não tem nada nada a ver com pobreza é necessariamente um racista.

Simples assim. Se a frase não for auto-explicativa, dedique um tempo a pensar nela. Dica: pense nela enquanto olha a cor predominante dentro dos presídios, ou entre os traficantes maltrapilhos em fuga no recente Tropa de Elite 3 ao vivo. Dica 2: pense no que implica achar que essa predominância não tem nada a ver com pobreza.

Passemos ao resto do post.

*  *  *

Se eu lesse, ficaria tentado a achar que se tratava de uma caricatura, de um exagero desonesto. Infelimente, sobrou pra você esse papel, leitor.
Começou num encontro de família, meses atrás, antes do segundo turno. Uma senhora de mais de 70 anos -- que, aliás, eu não conhecia, embora saiba que parentes dela me viram com uns 4 anos-- sentada a uma mesa, eu por coincidência em frente.

Ela começou: "não é que eu seja racista"...

... eu pensei logo: lá vem. E veio. Fui previdentemente informado que, num futuro próximo, não seria possível para um branco como nós andar em um metrô sem que os pretos se juntem à nossa volta e nos assaltem e matem.

Não os bandidos, os criminosos, os marginais, veja bem: OS PRETOS.

Quem me conhece sabe que tenho olhos muito pequenos, então devia fazer pouca diferença o fato deles estarem incredulamente arregalados. Me lembrei de como vivo num ambiente relativamente protegido, onde esse tipo de opinião soa tão tosca que parece mentira ou apenas ironia. É bom ser trazido à realidade. Quer dizer, bom não; é necessário.

Falei para essa senhora algo previsível: como a questão desses marginais hipotéticos não era serem negros, mas de serem criminosos crescidos na pobreza e na marginalidade. Disse a ela que aquela declaração era racista.

"mas não, eu não sou racista"

Me vi explicando -- como quem fala para uma criança -- que a posição que ela havia adotado era POR DEFINIÇÃO racista, pois colocava na RAÇA a conta dos problemas sociais.
Ela pareceu levemente sacudida com minha resposta; me pareceu que "fiz sentido" aos seus ouvidos (ou talvez tenha sido pelo abruto tom professoral que adotei, sei lá). O fato é que a conversa foi indo para aquela senda tristemente previsível (tristemente porque tem que ser repetida N vezes apesar de óbvia) da escravidão ser muito recente, da questão da pobreza e etc.

"Ah, mas um monte de gente progrediu e saiu da pobreza. Porque eles não progrediram?"

Aí fui pra questão da formação e educação, eu tentando explicar que o marginalidade era uma cadeia de pobreza e ausência de formação passando de geração a geração. Ela comenta que eles não educam os filhos, deixam aí tudo largado, e viram esses bandidos.

E eu: "E a senhora acha que 'eles' não educam seus próprios filhos por quê?"

"Não adianta, eles não fazem. Não é do instinto deles".

...Instinto.

(e isso dito com um tom, se não me engano, quase condescendente.)


E não: ela realmente NÃO se achava racista.

Ora, mas uma velhinha senil e carola -- que na mesma ocasião também disse coisas como "Michel Temer adora o diabo" e "Dilma é assassina, é lá das FARC" (sic) -- não precisa ser o exemplo necessário, é caricato demais. O casal de netos (acho) dessa senhora, um tanto mais "modernos" e de idade próxima à minha, se limitaram a dizer, em tom jocoso, mais ou menos que "só sei que hoje, pra ser favorecido no Brasil tem que ser preto, favelado ou bandido".

Hm. Não diga.



*  *  *

Agora, um depoimento indireto. Minha irmã me contou do comentário de uma pessoa que conheço: de família rica (ou talvez ex-rica seja mais preciso), tradicionalista e paulistana; curso superior, mais ou menos a minha idade, honesto (até onde sei), inteligente. Uma pessoa que eu já respeitei mais.

Bem, disse ele que realmente acreditava que no fundo os homens negros seriam em geral intelectualmente inferiores por natureza aos brancos.


A bem da veracidade, devo alertar que como não o vi dizer isso pessoalmente, não vi as entonações possíveis da declaração. No relato, minha irmã pareceu imitá-lo com um ar reflexivo, de quem realmente acreditava no que dizia. A bem das especulações, sou capaz de imaginá-lo falando a frase com um certo ar de "dura verdade que precisa ser dita e que os de coração mole, hipócritas e 'politicamente corretos' têm que encarar".

Continuando com a especulação: não seria absurdo imaginar que, quando questionado do porque achar isso, ele  responderia que as "evidências" estariam aí. Afinal, porque os negros não progrediram e continuam pobres depois desse tempo todo? Ora, vamos! Porque vemos tantos que insistiriam na preguiça, no vício, no crime, limitados a trabalhos subalternos?..."porque são menos capazes!"

E a velha senhora de antes concordaria. E não se sentiria racista ao fazê-lo: afinal, ela compreenderia que "não está no instinto deles"...




Não, senhor Ali Kamel, não somos racistas. Eu é que sou sensível demais!



*  *  *

Agora, o que isso tem a ver com as eleições?
Acontece que os personagens todos têm em comum serem brancos, paulistas e votarem em... preciso dizer?

É CLARO que ser tucano não é ser racista, nem conservador, nem carola, pelo amor de deus. Mas se você tem dúvida de em quem os racistas de ambos os tipos descritos acima votaram... ou se não souber em quem votaram os carolas espalhadores de panfleto mentirosos, ou os anti-nordestino, ou os senhores distintos apoiadores e -- porque não também? -- os participantes de nossa ditabranda militar... bem, ou você é muito ideologicamente comprometido ou muito, muito obtuso.

Ao meu ver, deixar todo esse pessoal puto da vida, se mordendo e contorcendo de desgosto, já seria per se um motivo pra se votar na Dilma. Não o único, e certamente não o melhor; um motivo com aspectos até mesquinhos, meio sádicos e levianos. Mas foi um motivo relevante pra mim.


E votei.
*  *  *

A todos vocês, senhores que despertam meu asco e que certamente não me lerão aqui, eu digo: vão tomar nos vossos cus. Em particular ao senhor, senhor Ali "não somos racistas" Kamel: no seu também.