quarta-feira, 29 de julho de 2009

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... e o pior é isso vir logo depois de um post sobre o Dawkins... vão achar que é perseguição.
Mas foi o que aconteceu.


(suspiro)


Eu estava voltando de Seropédica pro Rio de janeiro hoje à noite. Engarrafamento na linha vermelha. Olho um grupo de outdoors... o último à esquerda me chama atenção.


Não. Não pode ser.



Começo a rir de repente, mas o andar do carro não permite que eu possa olhar detalhadamente o que vi. Mas guardei comigo um nome.

Depois, fui procurar na internet.

E eis que...






JESUS, O FILHO DE DEUS
Boneco em PVC, totalmente articulado e com voz.






NÃO É PIADA. JURO POR DEUS.



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Enquete: vá até o site acima linkado, olhe tudo e depois me diga: o que fez você rir mais histericamente?

Comingo foi a Coleção Meninas Virtuosas.


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terça-feira, 28 de julho de 2009

Deus, um delírio: uma reflexão

Eis uma reação em cadeia: Gabriel, que vinha escrevendo há algum tempo sobre Dawkins, leu Idelber, que escreveu sobre Dawkins. Eu vinha escrevendo sobre Dawkins, e lendo Idelber e Gabriel (aqui embaixo) resolvi terminar o meu também.

Ambos os textos estão ótimos, o post do Gabriel faz uma leitura mais geral do livro, enquanto o Idelber se atém mais a um ponto importante da obra de Dawkins, o das falsas simetrias, que comentarei mais adiante.

Em primeiro lugar, devo dizer que ao contrário do Gabriel, não posso afirmar que tenha me tornado “mais ateu” ao ler este livro. Cronologicamente, sou um ateu Hawkinsiano, e posteriormente, um ateu Saganiano. Tenho este fato com algum orgulho.

O livro “Uma breve história do tempo”, de Stephen Hawkins, não é exatamente um livro que busque o debate sobre a não-existência de Deus. A conclusão de que Deus não existe é conseqüência do entendimento de que ele não é necessário para o funcionamento do universo, uma vez que num universo que contemple a presença de um ser que tenha poderes para agir conforme suas “mudanças de humor” (?), as leis da física não seriam aplicáveis e repetíveis em qualquer tempo ou lugar. A obra de Hawkins é puramente um a obra de divulgação científica, e no meu entendimento, um bom conhecimento da ciência é suficiente para se eliminar Deus como hipótese para explicar qualquer coisa no universo.

Já “O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro” é, na minha opinião, a melhor coisa já publicada em termos de divulgação científica, e este sim coloca a ciência em confronto com as idéias obscurantistas, sendo grande parte delas, as idéias religiosas. Pretendo escrever, em breve, um texto a respeito desta obra, mas aproveito para citar aqui um trecho do livro em que Sagan deixa bastante claro o seu posicionamento:

- Um dragão que cospe fogo pelas ventas vive na minha garagem.
Suponhamos (estou sugerindo uma abordagem de terapia de grupo proposta pelo psicólogo Richard Franklin) que eu lhe faça seriamente essa afirmação. Com certeza você irá querer verificá-la, ver por si mesmo. São inumeráveis as histórias de dragões no decorrer dos séculos, mas não há evidências reais. Que oportunidade!
- Mostre-me - você diz. Eu o levo até a minha garagem. Você olha para dentro e vê uma escada de mão, latas de tinta vazias, um velho triciclo, mas nada de dragão.
- Onde está o dragão? - você pergunta.
- Oh, está ali . respondo, acenando vagamente. . Esqueci de lhe dizer que é um dragão invisível.
Você propõe espalhar farinha no chão da garagem para tornar visíveis as pegadas do dragão.
- Boa idéia - digo eu -, mas esse dragão flutua no ar.
Então você quer usar um sensor infravermelho para detectar o fogo invisível.
- Boa idéia, mas o fogo invisível é também desprovido de calor.
Você quer borrifar o dragão com tinta para torná-lo visível.
- Boa idéia, só que é um dragão incorpóreo e a tinta não vai aderir.
E assim por diante. Eu me oponho a todo teste físico que você propõe com uma explicação especial de por que não vai funcionar.
Ora, qual é a diferença entre um dragão invisível, incorpóreo, flutuante, que cospe fogo atérmico, e um dragão inexistente? Se não há como refutar a minha afirmação, se nenhum experimento concebível vale contra ela, o que significa dizer que o meu dragão existe? A sua incapacidade de invalidar a minha hipótese não é absolutamente a mesma coisa que provar a veracidade dela. Alegações que não podem ser testadas, afirmações imunes a refutações não possuem caráter verídico, seja qual for o valor que possam ter por nos inspirar ou estimular nosso sentimento de admiração. O que estou pedindo a você é tão-somente que, em face da ausência de evidências, acredite na minha palavra.
A única coisa que você realmente descobriu com a minha insistência de que há um dragão na minha garagem é que algo estranho está se passando na minha mente. Você se perguntaria, já que nenhum teste físico se aplica, o que me fez acreditar nisso. A possibilidade de que foi sonho ou alucinação passaria certamente pela sua cabeça. Mas, nesse caso, por que eu levo a história tão a sério? Talvez eu precise de ajuda. Pelo menos, talvez eu tenha subestimado seriamente a falibilidade humana.
Apesar de nenhum dos testes ter funcionado, imagine que você queira ser escrupulosamente liberal. Você não rejeita de imediato a noção de que há um dragão que cospe fogo na minha garagem. Apenas deixa a idéia cozinhando em banho-maria. As evidências presentes são fortemente contrárias a ela, mas, se surgirem novos dados, você está pronto a examiná- los para ver se são convincentes. Decerto não é correto da minha parte ficar ofendido por não acreditarem em mim; ou criticá-lo por ser chato e sem imaginação - só porque você apresentou o veredicto escocês de - não comprovado.
Imagine que as coisas tivessem acontecido de outra maneira. O dragão é invisível, certo, mas aparecem pegadas na farinha enquanto você observa. O seu detector infravermelho lê dados fora da escala. A tinta borrifada revela um espinhaço denteado oscilando à sua frente. Por mais cético que você pudesse ser a respeito da existência dos dragões - ainda mais dragões invisíveis - , teria de reconhecer que existe alguma coisa no ar, e que de forma preliminar ela é compatível com um dragão invisível que cospe fogo pelas ventas.
Agora outro roteiro: vamos supor que não seja apenas eu. Vamos supor que vários conhecidos seus, inclusive pessoas que você tem certeza de que não se conhecem, lhe dizem que há dragões em suas garagens - mas, em todos os casos, a evidência é enlouquecedoramente impalpável. Todos nós admitimos nossa perturbação quando ficamos tomados por uma convicção tão estranha e tão mal sustentada pela evidência física. Nenhum de nós é lunático. Especulamos sobre o que isso significaria, caso dragões invisíveis estivessem realmente se escondendo nas garagens em todo o mundo, e nós, humanos, só agora estivéssemos percebendo. Eu gostaria que não fosse verdade, acredite. Mas talvez todos aqueles antigos mitos europeus e chineses sobre dragões não fossem mitos, afinal...
Motivo de satisfação, algumas pegadas compatíveis com o tamanho de um dragão são agora noticiadas. Mas elas nunca surgem quando um cético está observando. Outra explicação se apresenta: sob exame cuidadoso, parece claro que podem ter sido simuladas. Outro crente nos dragões aparece com um dedo queimado e atribui a queimadura a uma rara manifestação física do sopro ardente do animal. Porém, mais uma vez, existem outras possibilidades. Sabemos que há várias maneiras de queimar os dedos além do sopro dos dragões invisíveis. Essa “evidência” - por mais importante que seja para os defensores da existência do dragão - está longe de ser convincente. De novo, a única abordagem sensata é rejeitar em princípio a hipótese do dragão, manter-se receptivo a futuros dados físicos e perguntar-se qual poderia ser a razão para tantas pessoas aparentemente normais e sensatas partilharem a mesma delusão estranha.

A maneira como Sagan coloca a discussão é certamente mais elegante, mas não menos contundente que a discussão proposta por Dawkins. O que “Deus, um delírio” tem de especial, é o fato de ser um livro completamente voltado para a discussão da existência ou não de Deus.

Este trecho de Sagan, encontra paralelo no livro de Dawkins justamente no que toca às falsas simetrias: o fato de que você acredita em Deus com a mesma intensidade com a qual eu duvido de sua existência, não quer dizer que após um debate deva-se chegar à conclusão de que a probabilidade da existência de tal ser seja 50%, uma vez que a questão não pode ser resolvida sob o argumento de que dois argumentos opostos sempre tem pesos iguais. A Ciência está recheada de evidências que nos mostram um universo que evoluiu naturalmente, da existência dos quasares e buracos negros, à presença da vida no planeta Terra.

Um dos pontos interessantes, é o fato de Dawkins colocar Deus como hipótese científica sobre o universo. É uma colocação precisa, uma vez que os teístas tendem a procurar “funções” para Deus, que teria, ao menos em algum momento, atuado diretamente sobre o universo. Justamente por isso, o autor coloca que as religiões não merecem respeito: no sentido de que é uma idéia que deva ser debatida e colocada à prova, como qualquer outra teoria que busque explicar qualquer coisa sobre o universo. Por outro lado, deixa claro que as religiões pisaram tanto na bola, que talvez mereçam um certo “desrespeito”. Citando um trechinho do prefácio, Dawkins escreve:

“Imagine, junto com John Lennon, um mundo sem religião. Imagine o mundo sem ataques suicidas, sem o 11/9, sem o 7/7 londrino, sem as Cruzadas, sem caça às bruxas, sem a Conspiração da Pólvora, sem a partição 19 da índia, sem as guerras entre israelenses e palestinos, sem massacres sérvios/croatas/muçulmanos, sem a perseguição de judeus como "assassinos de Cristo", sem os "problemas" da Irlanda do Norte, sem "assassinatos em nome da honra", sem evangélicos televisivos de terno brilhante e cabelo bufante tirando dinheiro dos ingênuos ("Deus quer que você doe até doer"). Imagine o mundo sem o Talibã para explodir estátuas antigas, sem decapitações públicas de blasfemos, sem o açoite da pele feminina pelo crime de ter se mostrado em um centímetro.”

Para Dawkins a religião é uma péssima influência para a humanidade, e deixa essa idéia muito clara em seu livro, e dedica alguns capítulos a este tema, questionando se nós realmente precisamos da religião para sermos bons (obviamente não); as origens desse Deus do cristianismo, segundo ele:

“o personagem mais desagradável da ficção: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo. Aqueles que são acostumados desde a infância ao jeitão dele podem ficar dessensibilizados com o terror que sentem.”

A idéia de um “Deus de amor” é muito recente e talvez ainda menos importante do que a figura de um Deus que pune – a julgar pelo número crescente de evangélicos que encontram, em todos os lugares, a obra de Satã. Esse Deus bondoso é reflexo da própria evolução do pensamento ocidental, um Deus – com o perdão da péssima analogia – social-democrata. Certamente é muito mais compatível com um velhinho sueco que com um líder Talibã.

Lá pelas tantas, há um trecho que deixa muito claro o objetivo da obra: a existência ou não de Deus, vista como uma hipótese científica, não permite uma visão “tucanesca” da coisa: a resposta necessariamente é sim ou não. Ao explicar a “pobreza do agnosticismo”, cita Sagan, que dizia que era agnóstico no que tocava a possibilidade de vida extraterrestre (ainda que com inclinação maior a acreditar que sim), mas não no que toca a questão da existência de Deus. A hipótese de Deus é tão concreta quanto a existência do Monstro de Espaguete Voador ou do Chupa-cabras. É impressionante que os teístas de determinada religião tenham tanta facilidade para achar ridícula a hipótese da existência de uma deusa azul de muitos braços (Shiva) e tanta dificuldade em ver o absurdo dos poderes que atribuem a Javé. São, para nossa sorte, duas criaturas místicas, com possibilidades de existência exatamente semelhantes – nulas. Deus é simplesmente uma idéia ruim que jamais será desprovada, uma vez que é impossível provar a não-existência de qualquer coisa.

O que tem de original na obra – uma vez que o debate da existência é muito antigo e, para muita gente, superado, é o clamor pela militância ateísta. O mundo, para Dawkins, será muito melhor quando a humanidade se desvincular das idéias teístas e passar a admirar mais as coisas do universo real. Nesse ponto, devo repetir o texto do Gabriel no que diz respeito ao encantamento o Dawkins provoca ao escrever sobre a Teoria da Evolução e Darwin, e ao demonstrar que tal teoria pode – e deve – ser extrapolada do mundo das ciências biológicas: serve como modelo teórico para explicar muitas coisas, e é inclusive um olhar muito eficiente no que se refere à evolução das próprias idéias: idéias eficientes e adaptadas à conjuntura social tendem a ser mantidas no mundo, através da cultura; da mesma forma que organismos eficientes e adaptados tendem a permanecer no meio biótico. Dawkins chama essas idéias de “memes”, e o estudo destes de “memética”. A memética é certamente a maior contribuição do pensamento Dawkinsiano, e seu livro “O gene egoísta” explora esta questão com maestria (na minha opinião, é um livro melhor que “Deus, um delírio”).
A idéia do “universo elegante” também é utilizada por Sagan, para quem “a Natureza é sempre mais sutil, mais intrincada, mais elegante do que a nossa imaginação.” Quem leu o livro ou assistiu à série “Cosmos” sabe do que estou falando. Um Deus só pode ser tão bom ou perfeito quanto a nossa capacidade de imaginá-lo melhor, enquanto o Universo nos surpreende cada vez que descobrimos algo novo sobre ele.

Por isso, Dawkins “convoca” os ateus a “sair do armário”. Porque a possibilidade de um mundo sem as “travas do pensar” impostas pela religiçao significa, necessariamente um mundo melhor. Os ateus não têm qualquer motivo para se envergonhar, pelo contrário, o ateísmo é motivo de orgulho, pois significa, quase sempre, independência de pensamento.

Nos Estados Unidos, os ateus são tidos como o grupo menos confiável de pessoas. Uma pesquisa do Gallup de 1999 mostrava que 51% das pessoas responderam que não votariam em uma pessoa qualificada se esta fosse atéia. A rejeição aos homossexuais era de 21%, igual à dos Mórmons; 8% não votariam em um judeu ou negro, 6% não votariam em um católico e 5% não votariam em uma mulher. Segundo Dawkins, a situação dos ateus nos EUA hoje é semelhante a dos gays há 50 anos atrás. Creio que no Brasil não seja muito diferente. Certamente é por isso que surge lá o termo “brights” (brilhante), que está para os ateus como “gay” (alegre) está para os homossexuais. Não sei se gosto muito do termo, acho que prefiro o “livre-pensador” de Sagan, mas tenho muito carinho pela idéia de que os ateus deve sim difundir suas teses através do ensino – e nesse ponto novamente entra a questão das falsas simetrias: ensino científico é muito diferente de pregação religiosa, e essa é uma acusação muito freqüente. É interessante citar uma frase de Joh Stuart Mill, filósofo inglês que em pleno século XIX afirmava que “O mundo ficaria surpreso se soubesse como é grande a proporção dos seus ornamentos mais brilhantes, dos mais destacados até na apreciação popular por sua sabedoria e virtude, que são completamente céticos no que diz respeito à religião”.

E o problema para a realização dessa união dos ateus pela ciência, é colocada por Dawkins da seguinte forma: “organizar ateus já foi comparado a arrebanhar gatos, porque eles tendem a pensar de forma independente e a não se adaptar à autoridade”.

A missão cabe aos educadores, filósofos e professores de ciências.

Por fim, não preciso dizer que tenho este livro como uma grande obra de divulgação científico e combate ao obscurantismo. O título realmente não ajuda. Acho que até por isso, prefiro recomendar o Sagan como primeira leitura do gênero.

Já fui um ateu mais militante, a discussão, com o tempo vai se tornando enfadonha e uma hora a gente percebe que a maioria das pessoas se incomoda com os questionamentos, de forma que faz um bom tempo que eu não me pego debatendo sobre a não-existência de Deus, só não consigo controlar o sarcasmo...rsrsrs! É engraçado que este espaço representa um dos meus últimos redutos de ateísmo, e mesmo aqui eu não costumo expressar muito os meus pensamentos sobre o assunto – ainda que continue adorando apontar as bizarrices das religiões enquanto organizações. E o Gabriel acaba estimulando esse lado, me alimentando de vez em quando de textos, vídeos e sites de ateísmo. O outro reduto é o meio acadêmico, pelos motivos óbvios, mas onde também pouco se debate o assunto.

Bom, é isso aí! Com base no texto aí embaixo, podemos dizer que:

Wilbor recomenda!


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segunda-feira, 27 de julho de 2009

Retrospectiva literária 2008

Demorou, mas aqui vai o primeiro comentário sobre o que li no ano passado...

Este meu post estava sendo rascunhado já há vários meses, mas só encontrei a vontade de terminá-lo após ler este ótimo post e ver a ótima discussão subseqüente no O Biscoito Fino e a Massa, do Idelber Avelar.

No ano passado, o Marcelo me ofereceu um livro emprestado, com empolgação e ênfase. Resolvi ler então, no primeiro semestre ainda, o “libelo” de Richard Dawkins contra a idéia de Deus e as religiões como um todo, “Deus, um delírio”.

Primeiro quero comentar o nome do livro. O título brasileiro não está errado em conteúdo; o livro fala algo assim mesmo. Mas está errado em forma. O título original, “The God Delusion” é ao mesmo tempo mais elegante e mais “clínico”. Dá o tom da fala de Dawkins, muito mais do que o claramente ofensivo “Deus: um delírio”. Aliás, o nome brasileiro me soa um golpe publicitário. O nome traduzido, de certo modo, parece estar mais de acordo com aos vários comentários que destacavam Dawkins como “intolerante”. Acho que um título mais fiel talvez fosse A ILUSÃO DIVINA. Embora ainda seja diferente do original, acho que seria mais próximo.. se bem que não faço idéia do que o autor acharia. (Se eu estivesse nesta última FLIP, talvez cogitasse em questionar o próprio Dawkins sobre essa tradução – embora eu certamente não chegasse a perguntar de fato)

Como não acredito que essa tradução venha por carolice dos editores, acho que é por oportunismo que acabou-se por divulgar e criticar o livro como “ofensivo”. Por um lado, o oportunismo de parecerem ficar “de bem” a comunidade crente (já que, num mundo crente, defender publicamente o direito de ser ateu já soa em si algo ofensivo); por outro lado, o título e as críticas podiam chamar atenção dos consumidores ateus mais “revoltados”; e, enfim, com essa propaganda poderia-se vender o livro sobre o sempre rentável rótulo de “polêmico”.

Não que o livro não seja “polêmico”; mas o mais exato é dizer que ele procura, sim, um debate público e incisivo sobre coisas que as pessoas preferem não falar.

Mas vamos à obra. Não vou fazer aqui resenha alguma sobre o livro. Leia-o, vale a pena. Só vou destacar aqui algumas impressões.

A questão toda do livro, pra resumir, é esta: foi feito fundamentalmente como um apelo para que os ateus “saiam do armário” e se afirmem publicamente. Alguns pontos importantes:

— colocar que a recente onda de obscurantismo religioso e pseudociência (leia-se: criacionismo, design inteligente e outras mumunhas) que tem voltado com toda a força no Ocidente seria um GRANDE mal — talvez o pior mal a acometer a humanidade recentemente. Ele deveria ser combatido frontalmente.

— revelar e atacar o costume de se achar que “religiões merecem respeito” — ou seja, a noção não-declarada mais onipresente de que os conjuntos de símbolos, mitos e ideais religiosos mereçam um tipo de deferência, um respeito maior do que o que o reservado a qualquer outro conjunto de idéias. A mensagem de Dawkins é: se você acha que algo religioso é errado e estúpido e não se pronuncia a respeito, não é porque você é “tolerante” ou “esclarecido”, é porque não quer colocar o seu na reta. A frase de Idelber Avelar resume bem a posição: tem que respeitar religião porra nenhuma.

— ressaltar que a existência de Deus não é uma coisa “simples” e “natural” de se acreditar; na verdade, seria em si uma idéia bastante extravagante. Você não devia ter vergonha de admitir que NÃO ACREDITA. ELES é que deveriam se envergonhar de acreditarem em algo que não pode ser provado, de quererem que você acredite com eles e, pior ainda, por acreditarem que o ato de acreditar sem provas é em si a benção maior.

Esses três pontos me pareceram bem razoáveis. Não pude evitar sair um pouco mais ateu da leitura do livro – nenhuma grande mudança, bem entendido, mas saí entendendo melhor algumas coisas.

Sobre a retórica do autor: minha impressão geral é de que se trata de um livro muito honesto, e essa honestidade é que impressionou. Honesto em suas qualidades e em suas limitações.

Ele é em sua maior parte ponderado e argumentativo, raramente cedendo ao apelo emocional. Há sarcasmo, mas na maioria das vezes ele é sóbrio e até elegante. Em alguns pontos, Dawkins descamba o nível de sua argumentação, e em alguns poucos pontos ele exagera — eu, que nunca fui nada religioso, me incomodei com algumas partes da crítica dele ao Novo Testamento. No entanto, esses momentos são surpreendentemente muito poucos, se pensarmos no quanto se alardeou sobre a “intolerância” do autor. Além disso, não achei nenhum grande furo em seu raciocínio: mesmo seus exageros, embora possam ser relativizados, não poderiam ser simplesmente refutados nem descartados. E estes, na verdade, me pareceram muito mais fruto da exasperação sincera do que da apelação planejada.

O que se sente no texto é que há momentos em que o autor simplesmente perde a paciência diante do nível das bobagens com as quais tem que lidar como se fossem argumentos válidos e sérios. Um tipo de exasperação que uma pessoa inteligente costuma a sentir diante da obtusidade alheia — e que às vezes chega a impedir que se debata sobriamente. É possível que Dawkins seja um excelente vendedor/pregador, e use conscientemente essa exasperação pontual para atrair a empatia do público ao qual se volta. Mas eu, em particular, não creio que seja esse o caso.

A parte mais "antropológica" do livro tem apontamentos interessantes e vários momentos enfurecedores. Ou melhor, enfurecedores para pessoas como eu, da “área de humanas”; nós, “humanidades”, costumamos dar muito valor à sutilezas e às belezas simbólicas das manifestações culturais humanas, e o discurso seco do Biólogo falando para leigos é por vezes irritantemente simplificador e “seguro de si” para um público como nós.
Para resumir a crítica a respeito, vou citar novamente o Idelber. Sobre Dawkins: "ele é ótimo para desmontar cientificamente o teísmo. Ele é péssimo quando tenta ser sociólogo, antropólogo ou historiador. Ele é péssimo para explicar o poder simbólico das religiões". Concordo plenamente com isso: quando começa a falar do papel social e simbólico da religião, Dawkins parece mais impaciente, precipitado e redutor.

Mas até considero esses defeitos perdoáveis até certo ponto, por tratar-se de um livro para leigos interessados, por ser sincero e por procurar ocupar um espaço realmente político em sua intervenção.
Policamente falando, o livro nos deixa muito mais conscientes dos termos do debate em jogo, de como os ateus sofrem sim discriminação e de como existe sim um movimento de evangelização do estado e da educação que não se resume aos EUA.

Pra terminar, uma indubitável qualidade: a parte do livro que fala sobre a seleção natural é magnífica. Senti que nunca havia percebido a real extensão e elegância do conceito até então. E fiquei com vontade de ler os livros de Dawkins sobre evolução e seleção natural, pois só o pouco que li a respeito do assunto em “Deus, um delírio” já foi para mim mais interessante que toda a crítica que o autor faz à irracionalidade religiosa.

Agradeço aqui novamente ao Marcelo por me passar o livro.


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quinta-feira, 23 de julho de 2009

"Olhares sobre o Espaço"

Geografia e Fotografia são duas de minhas maiores paixões. A Fotografia é uma forma de arte que tem uma relação muito próxima com a Geografia: ambas permitem que olhemos o mundo sob um ponto de vista diferenciado. Ao estudar o espaço, a Geografia lida não só com o mundo natural, mas com um mundo das coisas, um mundo de pessoas, um mundo que se relaciona diretamente com as ações humanas.


Esta exposição consiste em uma seleção de imagens que foram produzidas ao longo do curso de graduação em Geografia, em diversas viagens e trabalhos realizados em campo. Cada uma das imagens traz um pouco da história dos lugares visitados, através das relações do meio físico com os aspectos sociais, econômicos e culturais dos homens que apropriam e transformam os espaços.


A Geografia, ao nos ensinar essa forma especial de olhar a Terra, proporciona infinitas possibilidades de registrar esse mundo que se coloca diante de nós. As técnicas fotográficas, por sua vez, ajudam a compor, a organizar aquilo que vemos. Ao fotografar os espaços, devemos atentar para a utilização dessas técnicas...profundidade de campo, luz e sombras, composição geométrica dos objetos, utilização de contrastes e saturações mais ou menos fortes são fatores que influenciam na leitura e na comunicação das fotografias.


Dedico essa minha primeira exposição a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, contribuíram conosco para a sua realização: meus pais, também geógrafos, que sem dúvida foram determinantes na escolha dessa carreira tão bonita; aos professores do curso, que contribuíram instigando e nos dando novas possibilidades de enxergar o planeta; e aos colegas, que compartilharam tantos momentos agradáveis nessas muitas viagens.

Olhares sobre o Espaço


Sintam-se convidados.

Pra quem não pode comparecer,basta clicar aqui!


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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Gótico de raiz

Jean Fouquet, do Díptico de Melun: Madonna com o Menino e querubins, 1450 ca., 93x85cm.





Creeeeeepy.


Sou só eu que acho essa pintura altamente macabra?


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