domingo, 1 de maio de 2016

Serra no Itamaraty

José Serra (cliquem aqui para biografia ilustrada, vale a pena) é o nome mais cotado para exercer o cargo de ministro das relações internacionais. Acho estranho, afinal, o ex-governador de São Paulo é considerado um economista medíocre, o que não lhe confere nenhuma qualificação para atuação na área da diplomacia per se.

       Serra reagindo à luz.

Fico aqui pensando no significado político dessa nomeação: o objetivo é acomodar o PSDB, além de uma série de outros partidos que deram sustentação ao golpe da dupla Temer/Cunha.  Abrir mão de um diplomata de carreira para alojar um político também revela que ou Temer não está muito preocupado com os rumos das relações internacionais do país, ou que a função de negociação com o exterior cabe mesmo a um representante do mercado, e não a alguém que represente, de fato, o Estado brasileiro.  Serra cabe bem no último papel.  A renegociação da partilha do pré-sal evidencia o que Serra já disse antes, em telegrama revelado pelo Wikileaks:

"Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta"

É sabido que o modelo que obriga a Petrobrás se mostrou complicado para a empresa, uma vez que a mesma não tinha capacidade de investimento para explorar em todas as áreas - o golpe fatal sendo a queda do preço do petróleo, que agora se encontra abaixo do custo de exploração do pré-sal.  O valor da empresa caiu de US$380 bilhões em 2010 para 149 bilhões no dia 26/04/2016. No entanto, é importante lembrar que em 2002 a empresa se encontrava estagnada, com valor de mercado de US$15,8 bilhões (9,4 vezes menor que o nível atual).  Enfim, vamos ver qual será o efeito Serra.

Voltando à diplomacia, algumas curiosidades: sabem qual foi a última vez que o chanceler brasileiro não era um diplomata de carreira?

Celso Lafer, no governo FHC, que ocupou o cargo por 702 dias, entre 29/01/2001 a 01/014/2003.

Aliás, da redemocratização até o fim do governo FHC, tivemos 7 ministros (sem contar dois interinos, que somados, ocuparam o cargo por 78 dias), . Sabem quantos desses eram diplomatas?

Dois: Luiz Felipe Lampreia (FHC) e Celso Amorim (Itamar).

De 15/03/1985 a 20/5/1993 não passou um único diplomata pela chefia do Itamaraty, ou seja, todo o período Sarney e Collor, embora tenhamos tido até banqueiro (Olavo Setúbal).

Itamar ocupou a presidência por 821 dias na presidência, dos quais em 591 (71,9%) tivemos um diplomata como chanceler.

O governo FHC começa com um diplomata de carreira no Itamaraty, Luiz Felipe Lampreia, que ocupou o cargo por 2.203 dias, seguido por um interino, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, também diplomata, o que totaliza 75,9% dos 2.922 dias de FHC no poder.

Pra finalizar: sabem qual foi a última vez que o chanceler brasileiro foi um político de carreira?

Fernando Henrique Cardoso, no governo Itamar.

Será que Serra pensou nisso?


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