Caros amigos,
Logo mais eu e muita
gente iremos às ruas. Bicho racionalista/determinista que sou, não sei se com
algum efeito prático, mas mesmo sem saber se nossa presença nas ruas pode ter
algum efeito absolutamente positivo, acredito que pode haver um efeito
relativo: o de que ruas vazias, por parte da esquerda possa, implicitamente,
autorizar deputados que ainda não decidiram (ou não quiseram decidir) a votar a
favor do golpe que se tenta neste momento.
A responsabilidade sobre
a presença nas ruas é da esquerda. A massa
CBFista que certamente dividirá os espaços públicos conosco não se move naturalmente. Por mais que não se sintam assim, essas
pessoas estarão nas ruas como resultado da ininterrupta incitação e manipulação
da grande mídia corporativa nacional, nas mãos de cinco famílias que na verdade
são uma só. Da mesma forma que a imprensa
colocou Collor no Planalto para depois derrubá-lo, é provável que a multidão revoltosa seja
apenas utilizada como cenário legitimador – até porque a partir daquele processo,
é dever daqueles que pensam o país com responsabilidade histórica ao menos considerar que houve traços de ilegitimidade em 1992. A diferença é que, ao contrário do que acontece agora. absolutamente ninguém se dispunha a defender o presidente “d´aquilo roxo”. Eis a dimensão política de um processo de impeachment.
Em 2010 Lula deixa o governo com
87% de aprovação. Me pergunto: quantos
dos que agora enxergam no PT uma filial do inferno estavam entre os 4% que, ao
final daquele período consideravam o governo de Lula ruim ou péssimo? Ali estava a semente do ódio
que, adubada por parte da elite nacional com altas doses de chorume midiático
floresceu nesta sufocante e opressiva massa verde-amarela.
Outro sentimento me move
no dia de hoje: o medo grande de que, caso se confirme essa marcha da
insensatez, venhamos a mergulhar num longo período negro da nossa
história. Alguns falam em 20
anos para voltar à normalidade. Não há como saber: o governo golpista
pode até ser transitório e cair em 2018, mas certamente quem luta de forma tão
ardilosa para chegar ao poder não tem intenção de deixá-lo tão cedo. Até porque
a força motriz do golpe é a preservação de uma classe política que se vê ameaçada
por seu próprio remédio: a lava jato começou a respingar em quem não devia. É cedo para saber se haverá violência de
fato: isso dependerá exclusivamente da capacidade de resistência dos democratas,
já que sabemos o tom da resposta das polícias aos já marginalizados movimentos
sociais no país. Caindo o governo Dilma,
estejam certos de que a criminalização da esquerda continuará com força
total. Eu penso que os donos (de fato)
do poder avaliam que pegaram leve com Lula em 2002. Não repetirão o erro.
O golpe que está em curso
é mais sofisticado que aquele que vivemos em 1964: o Paraguai foi o laboratório
desta nova modalidade na América do Sul. No país vizinho,
Fernando Lugo caiu em um processo que durou 48 horas; por essas paragens, o
processo teve início em dezembro, mas vem sendo gestado há muito tempo, desde a derrota não admitida por Aécio, pra sermos específicos. De forma mais difusa, porém, desde que os setores interessados perceberam que poderiam
aproveitar os protestos de 2013 para canalizar um sentimento contido de ódio de
classe que eclode pelo menos 11 anos atrás, durante a campanha vencedora de
Lula em 2002. Há, até o presente
momento, um esforço hercúleo em dar contornos de legalidade ao golpe. Isso continuará.
Por fim, um outro fator
me fará deixar de acompanhar o circo de hoje de casa, com conforto, comida e
cerveja, fazendo comentários nas redes sociais e montando planilhas: não conseguiria ficar
em paz estando em casa. De alguma forma
me sinto moralmente obrigado a fazer volume no Anhangabaú. Quero deixar claro que não imputo reprovação alguma
àqueles que não poderão ou não querem ir...cada qual tem suas razões e não cabe
a mim questioná-las. Mas penso que se a
votação de hoje estiver de fato perdida, será das ruas, os grandes palcos da
democracia brasileira, que sairão os primeiros gritos de resistência.
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