Depois de mais de um ano esperando uma resposta do Vaticano, a França desiste da indicação de seu embaixador para o país. O motivo: descobriu-se que Laurent Stefanini é gay.
Pelo que me consta, a função do embaixador é de ordem estritamente
diplomática, e não de tentar se casar com algum cardeal - para
frustração de alguns destes.
A postura do Vaticano é aparentemente
contraditória com as declarações do papa sobre o acolhimento "destas pessoas" pela igreja.
"Se uma pessoa é gay, busca Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?"
Repito o que venho dizendo há algum tempo: nenhuma das posições aparentemente
progressistas do papa se converteu em declaração oficial, da espécie considerada intrinsecamente verdadeira em função da tal
infalibilidade papal. Isso só ocorre quando o papa fala "ex cathedra": numa
encíclica, por exemplo. Talvez seja necessário papel especial e uma
caneta com tinta do Espírito Santo, vai saber.
De qualquer forma,
a postura do Vaticano frente ao diplomata gay vai de encontro com o
posicionamento do então cardeal Mário Sérgio Bergoglio, que em 2010
escreveu o seguinte sobre o projeto de casamento gay na Argentina:
"O povo argentino deverá confrontar, nas próximas semanas, uma situação
cujo resultado poderá ferir gravemente a família. Trata-se do projeto
de lei sobre o matrimônio de pessoas do mesmo sexo.
Estão em jogo
aqui a identidade e a sobrevivência da família: pai, mãe e filhos. Está
em jogo a vida de tantas crianças que serão discriminadas de
antecipadamente, privando-se do amadurecimento humano que Deus quis que
fosse com um pai e uma mãe. Está em jogo a rejeição direta à lei de
Deus, gravada, ademais, nos nossos corações.
Recordo uma frase de
Santa Teresinha quando fala sobre sua enfermidade de infância. Disse
que a inveja do Demônio quis cobrar em sua família a entrada de sua irmã
maior ao convento de Carmelo. Aqui também está a inveja do Demônio,
através da qual entrou o pecado no mundo, que de modo arteiro pretende
destruir a imagem de Deus: homem e mulher receber o mandato de crescer,
multiplicar-se e dominar a terra. Não sejamos ingênuos: não se trata de
uma simples luta política. É a pretensão destrutiva ao plano de Deus.
Não se trata de um mero projeto legislativo (este é meramente o
instrumento), mas de uma 'movida' do pai da mentira que pretende
confundir e enganar os filhos de Deus."
A carta original está aqui, em espanhol.
O que é mais provável, pergunto: que entre 2010 e 2013 o papa tenha
tido uma epifania e finalmente, revertido sua posição ou que o Vaticano
tenha uma preocupação com sua imagem e perda de fiéis?
Nada
mudou. Papa e Vaticano continuam contra o casamento gay, o uso de
preservativos e sem tomar uma atitude concreta e de escala compatível
com os escândalos de pedofilia que atingem sua igreja.
Pra ser justo, algo mudou: o departamento de relações públicas.
Por fim: pra quem é católico e acredita em Deus tal qual colocado pela Igreja Católica, a minha "exigência" de que o papa fale utilizando seus poderes de infalibilidade não pode ser resolvida por vontade do papa Chico, uma vez que depende de vontade divina. Neste caso, sinto dizer...a única forma de manter a coerência entre a doutrina católica e qualquer posicionamento progressista é acreditar que de fato Deus seja contra o casamento gay e assumir o pecado de concordar com uma posição herege do papa, já que homossexualidade é crime (bem como sexo com qualquer finalidade que não a reprodutiva ou fora do casamento).
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