A maior parte do tempo
dos internautas é gasta com poucas coisas: redes sociais, webchat/videoconferências,
vídeos, compras online e notícias. Essas
atividades são dominadas por quatro grandes empresas: Facebook, Google/Youtube,
Microsoft/Skype e Apple. E toda pesquisa
passa por portais de busca, onde a Google reina só e são feitas a partir de
sistemas que podem ser “fixos”, como PCs e laptops e “móveis” (smartphones e
tablets) – aí entram, novamente, Microsoft, Google e Apple.
Não adianta mais ter
muito cuidado: cada vez que navegamos ou fazemos compras online, empresas como
Facebook, Apple e Google estão de olho, coletando dados e analisando nossos
gostos e preferências.
Já faz algum tempo que
eu me impressiono com a quantidade de produtos que me são oferecidos nessas
propagandas que de fato podem me interessar.
A maioria deles, claro, são coisas semelhantes à outras que comprei
online: roupas, livros, itens de cozinha, etc. Esses produtos ficam pipocando nos cantinhos de
vários sites que visito, esperando um momento de fraqueza e impulso consumista
e, às vezes, aparecem com descontos imperdíveis.
Penso que não tardará
muito até que a Google saiba mais sobre os nossos gostos do que nós mesmos. É possível que, através de algoritmos,
descubram relações entre características das coisas que nós compramos nas quais
jamais iríamos pensar...por exemplo: Fulano, quando entra online para pesquisar
roupas, dá mais atenção (ainda que não compre, necessariamente) a produtos com
um certo padrão de cores – gosta de camisetas de cores sóbrias, porém, olha
mais para camisetas dessas cores quando o modelo usa uma bermuda de cores mais
vivas. Talvez Fulano nem goste tanto de
bermudas de cores vivas, mas por algum motivo, essa característica faz com que
ele, inconscientemente, se interesse mais pela camiseta.
É só um exemplo, mas é
nesse sentido que caminham as pesquisas sobre o gosto dos consumidores. Google, Apple e Facebook, coletam uma quantidade
absurda de informação sobre cada um de nós; as duas primeiras muito mais,
creio, já que estão presentes em praticamente todos os smartphones e tablets do
mundo – e ainda temos a Microsoft tá tentando entrar nesse jogo.
Imaginei, outro dia, a seguinte
situação: Fulano acorda e tem um entregador da Google Delivery na sua porta, com
um pacote. Você não
se lembra de ter comprado nada, e pergunta pro entregador se não há algum
engano.
- Engano nenhum,
senhor. Esse pacote é seu. Você não comprou, mas sabemos que você o quer.
- Como assim? Eu não comprei nada, não quero. Pode ir embora.
- Não quer
receber? Mas já está pago...ou melhor debitaremos
hoje o valor no seu cartão de crédito Visa, aquele platinum com vencimento no
dia 13.
- Isso é um
absurdo! Um abuso, invasão de
privacidade e um crime! Retire-se com essa
merda de pacote, vou contatar as autoridades.
- Senhor, mas é aquela
panela francesa que você queria, de ferro fundido esmaltado, a de trinta centímetros. O produto entrou numa promoção, veio com 35%
de desconto e hoje é dia 7, que é o seu dia de fazer compras online. O senhor costuma comprar no dia 7, já que
recebe, provavelmente, no dia 5. Estamos
apenas economizando o seu tempo, já que se encomendasse hoje, levaria mais 3
dias para receber.
- 30%? Hum... (o sujeito olha pra cima, pensa) – não
importa! Ainda assim é um abuso, um
acinte! Vá logo com esse pacote.
- Tudo bem,
senhor. Ninguém está te obrigando a
nada. Cancelarei agora o débito no seu
cartão, tenha um bom dia!
- Ótimo.
O entregador começa a
sair, o Fulano fica olhando pra baixo, ainda um pouco indignado, mas certo de
que está perdendo uma grande oportunidade.
O entregador já está a uns dez metros quando ouve:
- Qual é a cor?
- Deixa eu ver na
nota...laranja senhor.
- Traz logo essa merda aqui!
- Tenha um boa dia,
senhor! E ó: daqui a pouco vai passar “Philadelphia”...o
senhor não viu ainda, né?
- Olha só! Que canal?
- HBO.
Fulano sobe o
elevador indignado, desempacotando sua panela nova. Resolve que vai mesmo assistir o filme,
resolve fazer uma pipoca, Mas não sem
antes dar um pulo no facebook.
6 comentários:
Excelente!!
Lendo seu texto e só lembrando de algumas coisas que só li indiretamente:
1) O "Pattern Recognition" do William Gibson (que nunca li)
2) A noção de uma sociedade de "programadores programados", de Vilém Flusser;
3) A "sociedade de controle" do Foucault.
Como já falô o Fucô , na Sociedade de Controle o que é processado não é o indivíduo, mas fragmentos deste; o indivíduo é controlado pelo "infra-individual"... :)
Não li nenhum dos três e só conheço, por comentários, a obra do Foucault.
Agradeço se quiser explicar melhor...pode ser ao vivo.
Tudo a ver com http://www.zeitgeistaddendum.com/
Muito bom o seu post... parabéns... curti.
https://www.youtube.com/watch?v=IOMNocbEXIs
Por isto - e outras inúmeras razões - procuro ficar longe das redes sociais e mais outras coisas.... mas mesmo assim algumas pessoas me colocam nelas a força.
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