Ou
CHÁ PRA PÉRSIA III
CHÁ PRA PÉRSIA III
Ou
SPARTANS GO HOME
Um texto muito longo que eu estava devendo faz tempo.
SPARTANS GO HOME
Um texto muito longo que eu estava devendo faz tempo.
(eu não sou o autor desta imagem)
Não sou um advogado do preciosismo histórico na ficção, mas acho que não se pode olhar inocentemente pra um filme como “300” , de Zack Snyder. Nesta época pós-11/09 de antagonismo generalizado entre uma "civilização ocidental" genérica e uma “barbárie oriental” mais genérica ainda, é impossível não ver com preocupação o tipo de alegorias que o filme constrói — ainda mais sabendo-se como o autor da história original — o desgastado mas ainda endeusado Frank Miller — endossa essa oposição.
Há dois pontos que acho relevantes destacar aqui. Alguns já apontaram “laivos fascistas” no anarco-liberalismo de Miller, e muitos já ressaltaram em especial as relações entre certos traços da moral fascista e a HQ original “300” . Posso até prometer para o futuro uma discussão específica sobre a transformação (ou sublimação) política do quadrinhista mais “quente” do cinema atual e de como é chato que esse sucesso todo aconteça justamente no momento de sua decadência criativa.
Mas o que quero dizer agora, enfim, é que a bola me foi cantada por outros bem antes do filme ser feito. Assim, quando o assisti, fiquei chocado não com o conteúdo “fascista” – que está presente em muitos filmes de ação – mas sim com a clareza com que este se expressava lá e com o alto gral de estetização atingida. Embora eu não faça coro, compreendo bem quem chamou o filme de “samba-enredo fascista”.
Embora tenha visto vários comentários interessantes a respeito, como o de Jorge Coli (que já postei no “Chá pra Pérsia II”, post antigo no qual prometi retornar ao assunto), eu não vira ninguém desenvolver o ponto mais extensamente. Assim, procurei escrever a análise mais detalhada sobre o assunto que já cheguei a ler – justamente para clarificar meus próprios pensamentos a respeito.
I. Raízes
Bom, mas qual a relevância disso? É necessário dizer primeiro que “facismo” não é uma coisa “morta” de livros de história, nem apenas um rótulo que esquerdistas caricatos gostam de jogar em cima de policiais e militares. “Fascismo”, além de um termo da Roma antiga que foi apropriado por um movimento ideológico-social-político específico do século XX, pode ser também considerado uma categoria mais ampla de movimento humano que ainda existe. Fora os óbvios como os neo-nazistas, esse tipo de movimento existiria sobre vários nomes, raças, culturas e países. Alguns até diriam que é um perigo por definição da modernidade – ou seja, que estaríamos, como sociedade capitalista-moderna-reificada-alienada-industrial-massiva, sempre à beira dele.
E quando vemos uma mistura de caracteres fascistas e de um ideário que costuma ter-se como sua antítese — a saber, a moral e valores de liberdade e razão norte-americanos — o produto é tanto estranho como revelador. É o caso de “300” .
Em primeiro lugar, a associação de Esparta com fascismo não tem segredo algum, nem precisa ser fruto de exageros retóricos. Por suas características de eugenia, rigor extremo e militarização, Esparta foi um símbolo muito importante para a ideologia e estética nazi-fascista (como caracteres da cultura clássica greco-romana em geral o foram).
Mas é bom lembrar também que existem nos EUA vários times esportivos com o nome "Spartans". E isso não é nem de longe simples coincidência: muitos americanos enxergam-se sim como herdeiros culturais de um “ocidente clássico” genérico, como propagadores e, acima de tudo, PROTETORES da “civilização ocidental” – que, na boca deles, é na verdade apenas um nome modesto para a luz da humanidade.
É indispensável dizer, todavia, que essa reivindicação de herança, manutenção e propagação de valores clássicos a iluminar a humanidade também era compartilhada pelos nazistas. (nesse aspecto, o ótimo filme “A Arquitetura da destruição” é minha principal referência).
Quando vi o filme, fiquei muito impressionado de ver como ele amplia justamente tudo o que já havia de tendente ao “fascista” na HQ (em especial o sentimento de ação congelada, escultórica, e a estetização da violência). Só que, à essa ampliação estética, o filme inclui uma dose de traços americanóides que fazem até a caricata HQ de Miller soar mais “historicamente” rigorosa. E o pior é que são elementos clichês e água-com-açúcar:
- o Leônidas-maridão-pai-carinhoso, que na HQ — que não perde um único momento com cenas de “afeto familiar” — é um personagem muito mais sarcástico e sem um pingo de “doçura”.
- a mulher-do-rei-se-metendo-na-política. Para resumir comparações entre HQ e filme, basta dizer que no original a mulher de Leônidas aparece em não mais que uns 6 quadrinhos. Essa maior ênfase na presença feminina a meu ver visa 4 coisas: uma é dar respaldo ao item supracitado do lado “maridão”; outra é fornecer aos ragazzos espectadores um “deleite visual” a mais, “adocicando” a áspera masculinidade exacerbada da HQ; outro talvez seja dar alguma atração empática a mais com o público feminino (não soa convincente nem pra mim); mas o que mais me incomoda é o motivo de enfatizar a “diferença” civilizatória: denunciando como os “orientais” tratariam mal suas mulheres (claramente confundindo Persas antigos com os muçulmanos) e sugerindo uma “democracia sexual” em plena antigüidade Grega que é dificilmente imaginável mesmo em Esparta, onde as mulheres eram mais respeitadas. Não acho que há nada de inocente em confundir a liberdade atual e (muito) recente da mulher no ocidente com a liberdade relativa que esta possuía em Esparta.
- o político-traidor-salafrário-vendido-sem-vergonha e seu complemento, o senado de bananas/bocós/basbaques que gritam “Traição! Traição!”. Uma alegoria primária e estúpida da qual (para minha dúbia felicidade) a HQ original foi poupada. (Aliás, a HQ também poupa Leônidas de, além de martirizado, ser corno.)
- a mais que batida e desnecessária vila-destruída-com-cabanas-queimadas-cadáveres-mutilados-e-crianças-inocentes-agonizando, feita pra mostrar como, nossa, esses Persas são uns bárbaros!!
- a ubiqüidade das deformidades físicas entre os persas (criativas, não?) que, na HQ, se limitam apenas ao traidor Ephialtes.
- Os GYM SPARTANS digitais. Os espartanos da HQ pelo menos eram mais honestamente casca-grossas (com direito a tremendas surras como “disciplinamento”), além de morenos, magrelos, e até com uns meio barrigudos (como qualquer exército desde o início dos tempos). Os de snyder, tornados saradões, bonitinhos e loiros(!!), são de uma hipocrisia cinematográfica Kitsch digna de pinturas nazistas – ou de filmes de ação.
III. O Fascismo em si – e os EUA
O que exatamente há de “fascista” na história e porque essas “adaptações” do filme ampliariam isso? Eu listei 7 itens amplos que tento desenvolver aqui.
1. Anti-intelectualismo ou filisteísmo (ou “ateniense é tudo filósofo-viadinho”).
Ainda que seja muito óbvio que trata-se da auto-representação de Esparta contra seu rival mais “intelectual”, o traço está lá e é reforçado pelo item 2:
2. A ojeriza à política.
Político é tudo corrupto, devemos confiar só em nosso grande líder personalista-carismático-heróico (nosso Führer!). O filme, com o “político-traidor-salafrário” e o “senado-bocó”, tem esse traço muito mais realçado do que a HQ original – nela, Leônidas é REI, tem pleno poder e acabou. O filme acaba fazendo uma apologia mais descarada. A diferença é bem ilustrada no texto original não-filmado:
-- “Espartamos, hoje marchamos para a glória!”
-- “Estamos com o senhor, meu rei, até a morte!”
-- “Eu não lhes dei opção. Deixe a democracia para os atenienses, rapaz”.
-- “...”
Esta mudança do filme em relação à HQ é um dos pontos onde se vê melhor como o filme projeta os EUA em Esparta – a "tricotomia" “democracia/família/poderio militar” é um problema dos EUA, e não de uma sociedade mais simples e francamente não-democrática como Esparta. O que nos leva ao ponto 3...
3. Militarismo e anti-sensualismo: uma moral ascética.
Precisa dizer algo no caso do filme? Esse é um traço constante também em Miller, relativamente comum em histórias de super-heróis e na cultura americana como um todo (também vamos encontrá-lo em qualquer cultura dita de “direita”). Poderia ser resumido de maneira mais abrangente como “elogio aos homens duros, honestos e disciplinados que têm a força e firmeza de caráter para fazer o que é preciso”.
Realmente, há o que se elogiar em muitas pessoas que têm essa fibra. Entretanto, o caráter alegórico comum de Miller com freqüência relaciona o conforto, a fragilidade, o sensualismo e até feminilidade com a falha moral. O assunto, obviamente, é mais complicado: daria pra escrever um artigo inteiro sobre como Miller retrata as mulheres, e não me interessa aprofundar o assunto aqui. Poderíamos sair pela tangente aqui e dizer que, em essência, seria uma questão de identificar o Eros como mal e o Thanatos como saneador... mas talvez seja ir muito longe. De qualquer maneira, este é um ponto onde é possível ver o que torna um Alan Moore um autor diametralmente oposto a Miller: Moore prefere sempre o sexo à guerra, e em Miller a guerra é um sexo e o sexo, quando é relevante, tem algo de guerra... O que nos leva ao item 4:
4. Estetização da morte e da violência.
Bom, ninguém faz um jorro de sangue espirrar tão graficamente ou uma cabeça decapitada rodopiar tão extaticamente quanto Miller, e Snyder faz de tudo pra amplificar essa sensação de movimento congelado.
5. Elogio racista da pureza.
Claro, a identificação questionabilíssima dos Persas com negros e morenos e mais ainda dos gregos com brancos e loirinhos é muito visível no filme (na HQ, ela é menos pronunciada, pois os gregos são todos mediterraneamente morenos).
Mas a questão não é essa. O teor fascista não é dizer simplesmente que uma “raça persa” é “inferior” — o que o transformaria em simples racismo, algo muito reconhecível hoje. A questão é algo bem mais sutil: no filme, tudo o que é contrário à Esparta é mostrado como impuro, corrompido e... mestiço.
Veja como os persas são retratados no quadrinho e no filme: uma multidão multicultural e multirracial tão variada, luxuriante e sedutora quanto moralmente errada, e muito mais “fraca” moral e militarmente (qual a diferença no filme?) em sua diversidade do que o espartanos em sua uniformidade. Aliás, acho um acaso (?) cinicamente divertido que justamente um BRASILEIRO, fruto do povo mais mestiço do mundo, vá representar uma nação múltipla, luxuriosa e corrupta.
E aqui temos um momento precioso do filme: o pequeno diálogo entre Xerxes e Leônidas que, não por acaso, é idêntico na HQ e no filme: Xerxes, sedutor e lânguido, especula conciliador sobre o quanto as duas “culturas”, grega e persa, teriam a partilhar; Leônidas, irônico, responde que “partilhamos nossa cultura com vocês durante a manhã toda”. O argumento vale-tudo relativista da “cultura” (talvez o elemento mais historicamente inverossímil dessa ficção, visto que é uma discussão absolutamente contemporânea) é colocado como recurso de tiranos, enganadores e aduladores. (Creio que não haveria um só republicano conservador americano que não vibrasse com isso.)
Esse é o cerne do fascismo, da “força pela união”: o múltiplo e misturado é corrupto e sedutor, o puro, que se impõe e não se mistura, é bom e forte. O que também pode se traduzir em “nós somos o máximo e os outros são ameaças”. O que já chega ao ponto 6...
A síndrome de “nós-somos-a-esperança-da-civilização-e-da-humanidade”, e portanto nosso inimigo quer nos destruir, no fundo, por causa disso; e como nós somos retos e lindos e gloriosos, nosso inimigo só pode ser vil e imoral e deformado.
Aqui há no filme uma distorção e ampliação extrema da HQ de Miller. Miller pinta os Persas como morenos exóticos, luxuriosos e cobertos de ouro, mas desorganizados e sem fibra. Snyder os faz deformados e distorcidos, tendo de belo apenas suas roupas. No filme, a tenda imperial onde o poderosamente afrescalhado Santoro-Xerxes "tenta" o corcunda traidor é nada mais nada menos que A CASA DO CAPETA, com direito a concubinas deformadas, carrascos com enxertos à la Hellraiser e um homem com cabeça de bode (!!!).
Snyder, como já dito, americaniza os espartanos mais do que Miller jamais o fez, tranformando-os em "bons pais e maridos". Ou seja, são tão justos e bravos e evoluídos e a favor da liberdade (?), ao mesmo tempo em que o inimigo é tão corrupto e escravizador e inumano (e satânico...), que qualquer violência propagada por eles contra esses inimigos é justa e sagrada de antemão, merece ser louvada e contada e embelezada. É o tipo de coisa que se torna mais preocupante em tempos em que os EUA mantém uma guerra imoral, discutem seriamente a liberação total da seu emprego da tortura e reduzem direitos civis baseando sua retórica nessa mesma imagem do "pai-justo-amoroso-trabalhador-porém-durão-que-só-quer-proteger-seus-filhos-cultura-e-civilização."
Vá ver como os Nazistas enxergavam a si mesmos em relação aos judeus: os judeus eram uma “doença social” que queria destruir o ocidente, ajudando inclusive a “poluir a moral” com “arte moderna” e “bolchevismo”. Os Nazis eram os vingadores das vítimas revoltadas – os “hardmen” que tinham a força pra “fazer o que é preciso” enquanto os políticos degenerados só ficavam enrolando, conchavando e roubando.
Se formos pensar no que ocorre hoje nos EUA, é impressionante ver essa marcante necessidade de se sentir vitimizado, de se dizer uma nação ameaçada por uma horda de bárbaros, quando no momento são que, abertamente, estão invadindo, ocupando e torturando. E é interessante ver isso projetado logo em Esparta.
Como se Esparta nunca tivesse planejado nem realizado invasões sangrentas e conquistas militares.
Ou como se a Grécia não se BASEASSE em invasões e conquistas militares, como toda grande civilização desde o início dos tempos.
Ou como se os EUA não se baseassem nelas.
Mas tenho comigo a crença que, diante da glória da conquista e da supremacia militar de sua pólis, um espartano jamais se esconderia na hipocrisia de achar que só estava defendendo suas mulheres, crianças, campos de trigo e civilização.
7. A reificação da história como parábola moral.
Certo, este está longe de ser um traço distintivo do “fascismo” em si. Toda construção ideológica recorre a um “mito fundador”, geralmente sendo este no mínimo “sanitarizado”. Ela está presente em qualquer nacionalismo e qualquer construção ideológica: o ato de projetar em uma história passada valores de guerra que encontram-se em choque hoje, buscando transformá-la numa parábola real que justifique a realidade vigente.
De início, quando li a HQ pela primeira vez e um 11 de setembro seria uma risível implausibilidade, achei até que Miller tinha uma consciência crítica a respeito do que estava fazendo, e os excessos unilaterais da história adviam apenas de sua vontade de contar a história pela óptica obviamente parcial e extremada dos espartanos. Apesar da americanização, poderia-se dizer em sua defesa que o autor não desgraçava os persas por completo. A forma como retratava Xerxes, por exemplo, embora fosse esquisitona, ainda seria algo “respeitosa”: não era apenas um “afrescalhado” sedento de poder, mas um rei-deus poderoso, altivo e belo. E pode-se encontrar um olhar não convencional quando se vê que aos seus Espartanos não faltava uma certa dose de homoerotismo — nada de homens se beijando, mas podemos ver um companheirismo “quentinho” em alguns desenhos (o que é comum em qualquer exército desde o início dos tempos).
Mas Miller, em sua HQ , acaba ecoando traços “ideológicos”, ao colocar na boca de gregos clássicos — e de espartanos, especificamente — uma auto-imagem de “esperança de Razão e justiça do mundo” contra o “obscurantismo e escravidão”. Essa tendência é ideológica porque, se é verdade que a sem os gregos não poderia haver a nossa noção de justiça e nem a universalização de uma noção de “humanidade”, também é igualmente verdade que ambas essas coisas ditas dessa maneira só iriam fazer sentido mais de dois mil anos após a batalha das Termópilas. (e nem iremos entrar no mérito da escravidão do homem pelo homem ser a base econômica da sociedade grega...)
Percebi que Miller na verdade estava reproduzindo acriticamente certos valores, e mais: projetando mesmo valores americanos nos espartanos. Entendam, não falamos aqui do problema de distorcer a história real, mas dos valores e representações que foram impressos numa HQ que é claramente alegórica. Quando coloca na boca dos espartanos uma fala historicamente absurda (porque um espartano não diria aquilo) de “a última esperança de justiça e razão do mundo”, o que se tem que ter em vista é que Miller está na verdade falando dos EUA. E não tem como ele deixar de falar, sendo que é essa a maneira como a cultura americana representa o bem — e que essa é a forma que vêem a si mesmos.
E é sem dúvida a maneira como Miller hoje vê os EUA. Poderia ser que, na época em que a HQ original foi lançada, ele até não compartilhasse conscientemente dessa visão sobre os EUA; mas basta ver algum comentário seu sobre a Guerra do Iraque para mostrar que hoje ele falaria isso com todas as letras.
Nas declarações recentes de Miller, é visível o forte rescaldo da visão pop-neocon-se–querendo-polêmica que virou moda no pós 11 de setembro, ancorada numa fantasia de “civilização ocidental” a ser protegida e a ser imposta como luz sobre a horda de bárbaros incultos que querem destruí-la.
A questão preocupante nisso tudo — e que torna relevante falar de “fascismo” — é que fantasiar uma “herança cultural” a ser militarmente defendida contra uma “barbárie” a partir de apropriações fantasiosas de um passado que nem é realmente seu é uma das características primordiais das ideologias fascistas que vivenciamos no século XX.
IV. Encerrando, afinal:
Não acho que o filme seja literalmente uma “propaganda fascista” como algumas pessoas mais fervorosas já chegaram a chamá-lo, e duvido que seu impacto “ideológico” na população como produto industriocultural chegue a ser “preocupante” (o mesmo comentário para “Tropa de Elite”). Acho até que Snyder só quis fazer o filme da maneira o mais grandiosa e mais atrativa o possível, sem notar em momento algum quão venenoso aquilo poderia ser – encarando, ora, como mero “entretenimento” e talvez mesmo tentando ser fiel a uma “obra de arte”. O que é um índice algo inquietante do quanto esses valores estariam entronizados, enraizados na cultura do país mais poderoso do mundo – que é também parte importante e indiscutível da nossa cultura de brasileiros “pós-modernos”.
Para mal e para bem.
Epílogo:
Zack Snyder é o diretor de Watchmen, adaptação da obra-prima de Alan Moore nos anos 80, que vai ser lançado logo.
Não tem como dar certo.
Mas pode ser que gere um texto como este ou melhor – daqui a um ano — sobre o porque das adaptações de Moore redundarem em distorções que às vezes fazem sucesso e as de Miller virarem sucessos com traduções literais.
Atualização (03/10)
Finalmente, reencontrei o link para duas discussões antigas em outros blogs sobre esse tema, que me motivaram a escrever este texto. Uma está no Blog Sedentário e Hiperativo, e data de 12 de abril do ano passado... e tem uma conclusão dela seja mais positiva do que negativa... http://www.sedentario.org/colunas/a-morte-do-sonho-americano-comics-addicted-1-2-596/
Outra discussão é esta, do blog "O Franco atirador":
http://malprg.blogs.com/francoatirador/2007/04/esta_noite_jant.html#more
8 comentários:
The motherfucking biggest text que eu já sequer pensei em publicar num blog na internet.
Peço perdão pelas letras excessivamente grandes. Editar o texto na internet é mais difícil do que parecia.
Sei que este é um texto LONGO demais. Na verdade, é um esboço de um artigo mais acadêmico que pretendo ainda publicar (embora não saiba ainda onde nem quando). Sei também que ele poderia ser MUITO mais sintético para figurar como post, e que deixá-lo nesse meio-termo entre informalidade e academia é talvez uma situação desagradável ao (im)provável leitor. Mas não quis me dar ao trabalho de sintetizá-lo, tendo em vista que já usei muito do meu exíguo tempo livre para desenvolvê-lo...
Ah, e não é um acaso eu ter escolhido logo esta data para publicar este texto. Tenho um objetivo de, todo ano, publicar neste dia alguma coisa de alguma maneira relacionada ao acontecimento que todos sabemos qual foi.
Sobre o “elogio aos homens duros e disciplinados que têm a força de fazer o que é preciso” há a lapidar frase do Team América que me foi apontada pelo Bruno:
if you’re faithful to your country, then prove it by sucking my dick!
... e o interessante é pensar que, de certa forma, o filme acabou aplicando a idéia dessa frase na rainha espartana.
Leônidas: Rei, herói, morto e CORNO.
Gabriel, absolutamente sem comentários, brilhante Texto que você escreveu, fico até com uma inveja de admirador de tão sóbria análise...
E com sua venia, o ponto importante de não achar que seu texto são apenas devaneios (como desavisados podem pensar) foi o desfecho, muito autoconsciente, de que a cultura-modo de vida americano-comportamento assimilado- inconsciente coletivo americano, é o responsável pela maior parte da produção alegórica que você menciona no Texto, e não como se tudo fosse um plano conspiratório pensado. Contudo, é sim, antes de mais nada, resultado do modus vivendi norte-americano e de uma velha forma de Ditadura que eles próprios nunca perceberam, uma "ditadura branca", quero dizer, sem golpe de estado, como fez Julio César e tantos outros posteriormente, mas uma ditadura que permitia fazer experiências com armas biológicas em épocas de guerra fria, enquanto criticava os métodos da União Soviética.
P.S: O alento é que, como muitos historiadores dizem, quando Roma dominou a Grécia, na realidade, Roma, foi dominada pela cultura helênica. Mas, essa cultura não era de Esparta, era de Atenas (que, entretanto, também tinha escravos...)...
...Eu quis dizer que os testes com armas biológicas eram feitos até em próprios soldados americanos...
Gabriel,
excelente análise, concordo com tudo e também com o comentário do Marcel. A gente tem vivido um momento muito louco na história do mundo, e por sorte alguém por aqui tem a lembrança de que o 9/11 é o evento mais forte de nossa geração.
Esse trauma foi tão pesado que eu vi gente bastante racional (americanos) assumindo um discurso conservador que para mim seria muito improvável - e digo isso sabendo que o brasileiro médio não é melhor ou mais culto que o americano médio, o contrário deve ser verdade, por muito pouco. Sempre faço questão disso porque a crítica aos EUA e aos americanos de geralmente é muito fácil.
O impressionante é constatar que esse sentimento de vitimização de todo o ocidente pelo que aconteceu aos EUA é exatamente o reflexo do que acontece por lá...acho que a atual onda conservadora não está aí à toa, é simples ressonância da crença de que é necessária a manipulação maniqueísta de qualquer informação sobre "os outros", como se qualquer um que não seja "um de nós" possa nos apunhalar pelasm costas a qualquer momento.
Aqui, um dos reflexos é a amplificação das vozes dos que falam contra as liberdades de expressão, pelo autoritarismo e pela auto-tutela - ainda que consideremos que quando o Estado mata por nós quem mata é a gente, ao saciar uma sede de vingança que é compreensível quando falamos em instintos, não em soluções racionais.
Enfim, essa discussão dá muito pano pra manga...
Saudades de bater um papo, quando você aparece por aí?
Outubro eu certamente vou passar uns finais de semana aí em Maringá...
Rápida frase pinçada fora de contexto mas que pareceu-me aqui encaixar sobre os EUA... "o hegemônico é condenado ao idealismo, ao luxo de uma liberdade que torna impossível qualquer consciência da sua própria situação."
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