Mas ter um filho obviamente te deixa mais consciente e mais fascinado, tanto por ele quanto por outros em geral.
(Ou não; vou falar só por mim aqui.)
Quando começamos a falar do quão fascinantes são as miudezas dos filhos, alguns podem pensar: "bem, é teu filho, tudo que vir a fazer parecer-te-á lindo."
É um argumento razoável, mas eu gostaria de propor uma opção contrária: ter um filho meu é que é a única e intransferível chance de realmente prestar atenção em um bebê, em uma criança pequena; de presenciar de fato a absurda, visceral e banal maravilha de seu desenvolvimento, com um olhar que não é o do mero diletantismo, que não é o olhar daquele interesse sincero, simpático mas diáfano que devotamos àquilo que não é de nossa responsabilidade.
Quando eu falo re RESPONSABILIDADE, por sua vez, há que se ter em vista que há vários tipos. Pode-se falar, de início, daquela compartilhada com os seres humanos em geral: a responsabilidade para com aquilo que amamos. Em seguida, há aquela compartilhada por todos os "criadores", adotivos ou sanguíneos, da mesma espécie ou interespécies (ou interreinos, se contarmos os cuidadores de plantas), que é a responsabilidade para com as coisas que dependem de nós para viver e se desenvolver. E, por último, há aquela responsabilidade agravante, mais filosófica e narcísica talvez, que se cumula sobre as outras e que é exclusiva dos pais genitores, e que todo amor dos pais adotivos (que são muitas vezes os único dignos do título) não pode adquirir: a responsabilidade de algo que só EXISTE por sua causa. Mais do que apenas afetado por você (como ele é ao ser educado), seu filho genético é literalmente um EFEITO seu. Não sei se o termo "responsabilidade" dá conta do que está envolvido aqui.
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