Não vivemos numa ditadura neste momento; mas pelo atual andar da carruagem, já dá pra saber como foi -- e como vai se parecer se ela chegar. Pra muita gente, vai ser algo imperceptível.
Notícias genéricas de jornal sobre os "blackblocs" tem sido um show de falácia e non-sequitur, difamando pessoas sem mostrar evidências, apenas reeditando velhas imagens aleatórias de cenas de violência em manifestação junto a rostos como o de Sininho, na esperança de ficar reforçando um consenso ignorante, preconceituoso e preguiçoso. As gravações mostradas em tom de denúncia são um espetáculo de forçação de barra.
A política midiática do cagaço, bombada pelo ano de eleição.
Não vai funcionar; ao menos, não para esta eleição de presidente. Não somos (ainda) uma nação de Reginas Duarte.
Mas tenho muito medo de ver a que abismo estamos descendo aqui. De um lado, setores interessados em tentar juntar o vândalo-terrorismo (uma invenção da mídia brasileira, sempre contando que nossa eterno frouxidão terminológica) com movimentos de esquerda para inflar a coxinharia brazuca e tentar queimar uns nomes de políticos e intelectuais.
Do outro lado, pareço ver governo e governistas variando entre o medo de serem associados aos "vândalos" e o visível estado de "silêncio sorridente" para com os baderneiros (colocados assim, de maneira generalizada) que, em sua falta de noção ou má-fé, ousaram bagunçar o céu de brigadeiro da reeleição e motivar os coxinhas a saírem para rua e se sentirem "povo".
De repente, um dos eventos mais múltiplos, multifacetados e complexos da história do Brasil passa a ter nome e incitadores "oficiais". Ganha nome, endereço e estado civil. O "junho negro" (nome ridículo, meu deus!!!) está sendo convertido subrepticiamente em algo semelhante a um "atentado terrorista" -- algo montado por células organizadas de gente louca, feia e malvada. Comedores de criancinha, ó céus.
De repente, um telefonema sobre marmitas pra militantes vira evidência de intenção de explodir coisas no final da copa.
Os técnicos da grande mídia conhecem nosso gosto por personagens para reconhecer, de histórias simples e reafirmadoras de nossa própria moral; conhecem como poucos nossa péssima memória; nosso desgosto por dúvidas, nossa necessidade de bodes expiatórios.
No lixo, a presunção de inocência, estado de direito e outras coisitas mínimas como a simples lógica
Falo sério, gente: MUITO MEDO do que está rolando aqui. Muito nojo, também; mas, sobretudo, medo.
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