“Ser mulher é para Sabina uma condição que ela não escolheu. Aquilo que não é consequência de uma escolha não pode ser considerado como mérito ou como fracasso. Diante de uma condição que nos é imposta, é preciso, pensa Sabina, encontrar a atitude certa. Parecia-lhe tão absurdo insurgir-se contra o fato de ter nascido mulher quanto glorificar-se disso.”KUNDERA, Milan. A insustentável leveza do ser. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985, pp 95.*
Lembrete: o "dia da mulher" não é um dia de comemoração.
Nem de dar presentes.
Ou rosas.
Ou parabéns.
Não que seja ofensa ou crime fazê-lo (isto já foi discutido aqui em outras ocasiões); a questão é que essas atitudes simplesmente não atingem o ponto, e acabam por tratar a data como uma mistura de "dia das mães" com "dia dos namorados".
Como o 20 de novembro, o 8 de maio é um dia de reflexão e de memória; dia de comemorar sim o já conquistado, mas principalmente de lembrar do quanto se está longe do objetivo.
* Eu queria achar mais citações do lindo capítulo "As palavras incompreendidas" do livro de Kundera, mas não rolou. Fica para outra ocasião.
Não que seja ofensa ou crime fazê-lo (isto já foi discutido aqui em outras ocasiões); a questão é que essas atitudes simplesmente não atingem o ponto, e acabam por tratar a data como uma mistura de "dia das mães" com "dia dos namorados".
Como o 20 de novembro, o 8 de maio é um dia de reflexão e de memória; dia de comemorar sim o já conquistado, mas principalmente de lembrar do quanto se está longe do objetivo.
Fazendo minhas as palavras do Sakamoto, creio que o que posso fazer de melhor no dia é "agradecer novamente às mulheres que passaram pela minha vida e foram fundamentais para que fosse um homem menos idiota."
E convivi com muito mais mulheres que homens na minha vida. Minhas professoras, alunas, colegas, amigas, tias, avós, irmãs, mães e esposa: é dia de agradecer o que me ensinaram e, em especial, de me lembrar de toda a merda que já tiveram e ainda têm de aguentar só por serem mulheres.
Pro terminar o dia, compartilho alguns links antigos, de textos de uma jovem blogueira que, embora eu não veja mais por aí faz muito tempo, foi bem importante na minha "feministização" em particular: a Marjorie Rodrigues. "Como você OUSA não ser “feminina”?" e "da frase que mais me irrita nessa vida"
Segue também algumas interessantes iniciativas de arquivamento e comentário de manifestações diárias de machismo na internet e na propaganda: o Slutshaming Detected e o "Dia da mulher NÃO é nada disso". Aviso, porém, que são sites deprimentes; quase tanto quanto necessários.
Um comentário:
dói pensar que já fomos deusas...
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